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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

AFINAL SÓ QUANDO NOS AJUDAMOS UNS AOS OUTROS NOS AJUDAMOS A NÓS MESMOS: ESTA TALVEZ A GRANDE REVELAÇÃO QUE TUDO MUDA.

 

É sabido que a escravatura e a servidão sejam de que géneros forem geram enormes tipos de riqueza para aqueles que dominam o controlo dos que lhe são subservientes. Também é sabido que a ausência de inovação tecnológica ou de qualquer criatividade reside na prevalência da escravatura, a qual, se acaso produzisse algum incentivo para inovar, esta beneficiaria quem subjuga. Isto é verdade no mundo antigo e no de hoje. Qualquer economia baseada em sistemas como o que acima mencionamos, são economias manifestamente não inovadoras com as consequências gravíssimas inerentes, nomeadamente o medo das populações enfrentarem os governos - se acaso lhes ocorresse – antecipando estes o medo da destruição da sua política e, por essa razão, vão atenuando esse receio, mantendo um certo miserabilismo contente por parte de quem julga dever-lhes a paz do pouco que tem.

 

Afinal, há que manter adocicado o povo que transporta as colunas das casas dominantes qual desempenho de trabalho que logo faz descer as estatísticas do desemprego.

 

A complementar o circo, os genuínos do poder não são na maioria dos casos, os que estão na política a gerir gentes e afetações, mas antes os que com o consentimento ou distração dos políticos, e não só, desfrutam afinal de serem os verdadeiros donos de um mundo que leva à queda dos países e das nações, qual trágico dominó que tomba amolecido e minado por uma serie de interações.

 

A verdade é que com uma história muito conturbada, entende-se que foi na Inglaterra que surgiu uma sociedade inclusiva, e que foi na Europa que se criaram instituições representativas como nunca houvera, e com elas o poder de influenciar decisões políticas exigindo-se direitos para os povos.

 

No entanto, depois de um grande salto temporal do muito tudo que dos livros consta, é nesta Inglaterra que se vive paredes com paredes, um triste espetáculo político de um Brexit, comandado por dentro e por fora do país que o proclama, a fim de permitir que as grandes empresas floresçam do choque pelo qual alguns labutam que se verifique, enquanto os povos entardecem as suas vidas pela madrugada, desconhecendo sequer se haverá mais tempo  para que se volte a reivindicar subidas sustentadas do nível de vida.

 

A verdade é que os meios de vida de uma maioria que trabalha continuam assentes numa navalha, enquanto ao seu lado vive bem quem acumula supostos postos de trabalho, quais faróis de controlo tricotado com o suor das sociedades, e que muito rende, medido ao hectolitro seja do que for cotado em bolsa.

 

O filme Joker interpretado fabulosamente por Joaquin Phoenix, de muitos modos expõe o destino de todos nós os que, sujeitos à maquina destruidora das fontes de resistência, podemos parecer deuses caóticos sob o sol, se a inimputabilidade tiver chegado por via de tudo o que nos conseguiu quebrar por dentro.

 

Se se perguntar em que lugar, em que lugar longe, a solidão se faz mais lonjura, se faz tão lonjura que nos abraça prometendo a libertação enfim, se se perguntar, talvez exijamos não viver numa sociedade em que os ditos homens dos comandos são, não mais, do que destroços colados com cola tudo, aos quais acabámos por obedecer, obedecendo-nos, a estáticas expectativas por tão cansados de uma esperança tão semelhante a um chão adormecido.

 

Há muito que o que nos faz falta é podermos habitar a vida de um outro modo. Habituarmo-nos a ser respeitados sem que o respeito seja indulgência, sem que o dinheiro seja o sagrado poder. Olharmo-nos e surpreendermo-nos e por experiência irmos ao encontro da solidariedade, verdadeira força que nos congrega na luta a vencer quem nos olha com a indiferença do betão.

 

Afinal só quando nos ajudamos uns aos outros nos ajudamos a nós mesmos: esta talvez a grande revelação que tudo muda.

 

Teresa Bracinha Vieira

O TEATRO LUÍS DE CAMÕES, PRECURSOR DOS TEATROS DE BOLSO

 

O pequeno Teatro Luís de Camões, na Calçada da Ajuda em Lisboa, datado de finais do século XIX e em fase de recuperação, constitui exemplo de certo modo percursor dos chamados Teatros de Bolso que hoje marcam numerosas cidades e vilas por esse país: e é interessante desde já referir o caráter, insista-se, percursor desta iniciativa, que, curiosamente, se ficou a dever a um comerciante local, João Açucar de nome.

 

A inauguração oficial do Teatro Luís de Camões ocorre em 10 de junho de 1880, no quadro das comemorações do tricentenário da morte do poeta. A peça foi “Camões e o Jau” de Casimiro de Abreu. Em qualquer caso, insistimos, surge percursor, dos pequenos teatros (e hoje até cineteatros) que existem um pouco por todo o país. Só que este, particularmente pela reduzida dimensão e lotação, é percursor de o que chamamos hoje, bem ou mal, Teatros de Bolso, não obstante constituir um edifício autónomo.

 

José Augusto França, ao historiar a construção do palácio da Ajuda, esclarece que “nenhuma igreja (só uma capela), nenhum grande teatro estava previsto no plano: o complexo arquitetónico tradicional cedia lugar a uma definição mais civil ou mais cívica, e portanto mais moderna, de residência régia” (cfr. “Arte em Portugal no Século XIX, vol. I Bertrand ed. pág.95 e segs.) 

    

E no entanto, o Teatro Luís de Camões da Ajuda marcou, ao longo destes 137 anos, com os altos e baixos inerentes, uma certa “política” cultural na época fortemente descentralizada, até no ponto de vista administrativo. Belém era na época concelho. E não obstante a relevância óbvia que decorria inclusive da proximidade do Palácio, a construção e exploração de um pequeno Teatro aberto ao público assumiu um significado específico, sendo certo entretanto que o Teatro do Palácio da Ajuda ou Casa da Ópera de Belém foi inaugurado em 4 de novembro de 1737 segundo projeto de Bibiena, que seria autor também do Teatro da Ópera do Tejo, este destruído pelo terramoto de 1755.

 

Muito diferente é desde a origem o Teatro Luís de Camões. A sala reproduzia, na sua dimensão de pequeno teatro, sobretudo pequeno para a época, a estrutura sócio-económica de exploração de espetáculo da época de fundação: plateia, frisas, camarotes, tribuna, num dimensionamento adequado à dimensão percursora, insista-se, de um teatro de bolso, nesse aspeto também percursor.

 

 Em 1899, o Teatro Luís de Camões passa a servir de sede ao Belém Clube. E entretanto, ao longo destes mais de 100 anos, o historial do Teatro assinala uma tradição de iniciativas culturais e de intervenções artísticas dignas de registo histórico.

 

Lá se estreou e lá se despediu do público Adelina Abranches. Lá atuaram nomes históricos do teatro luso/brasileiro, como Rafael Alves, João Villaret. Auzenda de Oliveira, Sales Ribeiro, Mirita Casimiro, Procópio Ferreira, Bibi Ferreira…

 

E lá se estreou o grande cantor e encenador de ópera Tomás Alcaide, evocado, entre outros numa placa inaugurada em 1953.

 

DUARTE IVO CRUZ