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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE ALBERTO PIMENTA 


Marthiya of Abdel Hamid segundo Alberto Pimenta 33


33.

Para voltar
A ver-te
Um só instante,
A ti,
Que és mais bela que a lua,
Antes que a manhã recolha
As estrelas
Uma a uma
E as guarde
Do outro lado do céu,

Vou atravessar
O rio
Coberto de holofotes,
Que transformam o verde claro
Numa fosforescência
De água assustada.

Se não me matarem
Nem me apanharem vivo,
Mantém-te alerta,
Mantém alerta
O desejo mais antigo
e o mais novo.

Vou passar
Do lado de fora
Da parede
Perfurada
Pelas balas:

Passa-me um lenço
De seda
Com o teu perfume.

Marca-o com o segredo
Dos teus lábios.


in Marthiya de Abdel Hamid segundo Alberto Pimenta, 2005


Marthiya of Abdel Hamid according to Alberto Pimenta 33

33.
To see you
Again
Only for an instant,
You,
Who are fairer than the moon,
Before the morning gathers
The stars
One by one
To keep them
On the other side of the sky,

I’ll cross
The river
Covered by the searchlights
That change its clear green
Into a phosphorescence
Of frightened waters.

If I’m not killed
Or caught alive,
Be alert,
And keep alert
The most ancient
The most youthful desire.

I’ll walk
Along
The other side
Of the bullet
Pierced wall:

Pass on to me a silk
Scarf
With your scent.

Mark it with the secret
Of your lips.


© Translated by Ana Hudson, 2010

in Poems from the Portuguese 

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE ALBERTO PIMENTA 

  


Marthiya of Abdel Hamid segundo Alberto Pimenta 35


35.
Não sei
Se tornarei a ver
As caravanas
Que de madrugada
Atravessam o deserto
Em frente
Às ruínas de Palmira

Ou
As azenhas milenares
De Hama
A chiar de esforço
Quando elevam
A água do Oronte
Até ao aqueduto
Que encima a cidade

Ou
A paisagem
Aos pés do monte Kasyun
Coberta de estrelas
Que caíram
E se fizeram
Pura luz esparsa:
A cidade de Damasco

Não sei
Se tornarei
A fazer a viagem nocturna
No comboio de Bagdad:
Alepo, N´nive,
Tikrit…

E se outra vez ainda
Poderei erguer os olhos
E ver a beleza de Nahila
Nos limites da sua açoteia.

Já ouvi dentro de mim
Um trovão
Fender-me a alma.

Para a unir de novo
Não sei o que terei de enfrentar.


in Marthiya de Abdel Hamid segundo Alberto Pimenta, 2005


Marthiya of Abdel Hamid according to Alberto Pimenta 35


35.
I don’t know
Whether I will ever see again
The caravans
At dawn
Crossing the desert
Past
The ruins of Palmyra

Or
The millenarian water wheels
Of Hama
Screeching with effort
As they lift
The water of the Orontes
Up to the aqueduct
That crowns the city

Or
The landscape
At the foot of Mount Kasyun
Covered by fallen
Stars
That became
Pure scattered light:
The city of Damascus

I don’t know
Whether I will ever again
Travel the night journey
On the Bagdad train:
Aleppo, Nineveh,
Tikrit…

And whether I will once more
Be able to lift my eyes
And see the beauty of Nahila
Standing on her terrace.

I’ve heard inside myself
A thunder
That shattered my soul.

To mend it
I don’t know what I’ll have to face.


© Translated by Ana Hudson, 2010
in Poems from the Portuguese 

 

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE ALBERTO PIMENTA

  


tornei a sonhar com o homem

tornei a sonhar com o homem
que se debruça sobre ti
mete as mãos 
na tua vagina
tacteia empurra segue sobe
chega ao teu coração
arranca-o com as unhas
trá-lo para fora com um fio de pesca
embrulha-o num pano
afasta-se com ele
o sangue não pára
tu ficas a ponto de morrer
com muito estertor
mas não morres

tens razão
eu não conseguiria
satisfazer-te tão intensamente
como o homem dos teus sonhos


again i dreamt of the man

again i dreamt of the man
who bends over you
his hands
in your vagina
he touches pushes presses on upwards
reaches your heart
with his nails rips it out
pulls it with a fishing line
wraps it in a cloth
takes it away
the blood doesn’t stop
you are nearly dead
gasping
but you don’t die

you are right
i wouldn’t be able
to satisfy you as intensely
as the man of your dreams

 


© Translated by Ana Hudson, 2012
in Poems from the Portuguese