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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

A FORÇA DO ATO CRIADOR


Aldo Rossi à luz da história interpreta a cidade
. (Parte II)


Artefactos Urbanos

Rossi sonha desenhar a nova cidade através do conhecimento de regras que possam prevalecer. Rossi procura pelos artefactos urbanos – pela sua intemporalidade, singularidade, individualidade, particularidade e regularidade. É sobre os artefactos urbanos que constrói o seu método de análise da cidade. Rossi entende por artefactos todos os elementos construídos pelo Homem e que contém, em si os traços do tempo. É através deles que se transmitem símbolos, ideias e se interpreta a história – um povo está satisfeito com um artefacto sempre que se consegue rever na sua forma. Artefactos são os elementos da cidade que conseguem manter os valores originais – são elementos que trazem à cidade estrutura, singularidade, lugar, memória.


A memória que permanece nas cidades depende do tempo, da cultura e da circunstância. É capaz de se atualizar constantemente e de receber diferentes interpretações. É referência para o Homem que o faz situar num momento específico, na realidade do presente. A sua forma e aspirações correspondem a um padrão reconhecido por toda uma comunidade.


O artefacto é criado para servir uma função de uma maneira dinâmica – a sua estrutura é imutável. A definição de um artefacto urbano só a partir de uma função específica não faz sentido para Rossi, porque a função muda com o tempo e com as necessidades de uma comunidade e de um lugar.


Sendo assim, o artefacto é um momento típico ou tipo da cidade. O tipo desenvolve-se de acordo com as necessidades e aspirações de uma comunidade. Formaliza um modelo e uma maneira de viver constante, variando de sociedade para sociedade. Rossi interpreta a cidade através do valor tipológico do passado.


Morfologia e Tipologia

Para Rossi Morfologia e Tipologia apresentam-se como conceitos complementares. Por um lado, morfologia associa-se à forma da cidade, é espaço não construído, é estrutura que evidencia os elementos construídos. Tipologia associa-se ao espaço construído, à forma do seu uso.


Em ‘L’architettura della città’ Rossi descreve e analisa a cidade através de regras limitadas morfológicas e tipológicas. Permite voltar a fazer entender a cidade como lugar de complexidade e de memória urbana. Aldo Rossi pretende a recuperação da tradição, a insistência na permanência das formas, a recriação das convenções (como reinterpretação do passado à luz do presente). A cidade constitui-se por valores construtivos (que servem de regra ou modelo e que conformam a cidade) e memória (monumento, que serve de símbolo).


Rossi parte de uma vontade antivanguardista de reconstruir a ligação entre a arquitetura e a coletividade. Rossi insiste na tipologia como estrutura, fundadora da imagem da realidade arquitetónica e emocional. Rossi recorre ao mecanismo da analogia.


A analogia que permite associar à cidade a memória e a história, o individual e o coletivo, a objetividade e a subjetividade, o Homem e o lugar. O Homem procura por uma cidade ordenada e consistente intimamente referenciada a um tempo. A expressão da analogia referencia-se a elementos formais preexistentes e que pertencem a uma determinada realidade. Rossi vê os programas modernos como veículos inadequados para a arquitetura e por isso procura por uma arquitetura analógica, extraída do vernáculo e da memória. Rossi volta aos programas tipológicos propostos na cidade do séc. XIX.


Rossi ao explorar a imagem da cidade através do tipo, modelo ou regra, dá um novo sentido à arquitetura. Os tipos transformam a cidade através de ideais intemporais geométricos. Para Rossi os elementos construídos de uma cidade podem, assim tomar a forma de um cubo, cone, cilindro, prismas octogonais e retangulares. Cada forma está associada a uma determinada função. Rossi trabalha a partir de formas facilmente reconhecíveis e identificáveis para uma determinada comunidade – a habitação, a escola, o hospital, a prisão, o edifício religioso e civil. Por exemplo Aldo Rossi em Constructing the City Project, em 1978, define o cubo como espaço de encontro público; a torre octogonal como o centro cívico ou município; o cilindro como a escola, o teatro e a biblioteca; o cone como o monumento que permite a referenciar a cidade ao seu lugar; o paralelepípedo suspenso sobre pilares como habitação coletiva; as formas vernáculas italianas como habitação unifamiliar.  Rossi descobre, assim na tipologia a possibilidade de invenção de formas que evoluem no tempo.


O historiador interpreta os factos reais do passado à luz da sua existência e do seu presente. A forma da realidade descrita pelo historiador passa pela sua perspetiva existencial e pela sua interpretação. Aldo Rossi à luz da história interpreta a cidade. Rossi entende o valor da história como memória coletiva. É a memória que permite a permanência de estruturas do passado e a formação novos elementos na cidade. Rossi ao determinar a arquitetura da cidade define elementos estruturalmente permanentes, os artefactos urbanos ou os tipos, que absorvem as diversas interpretações ao longo do tempo. A tipologia, ao ser uma constante da cidade, forma arquitetura ao utilizar mecanismos que ultrapassam o mero funcionalismo moderno. Ora, Rossi trabalha a partir do processo da analogia retomando temas do vernáculo, valores e necessidades intemporais que busca no passado. Rossi dá, assim a possibilidade ao Homem de interpretar continuamente o seu tempo e o seu lugar através de permanências que estruturam a cidade.

Ana Ruepp

A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

Aldo Rossi à luz da história interpreta a cidade. (Parte I)

 

O historiador interpreta factos reais do passado à luz da sua existência e do seu presente.
Aldo Rossi à luz da história interpreta a cidade. Pretende uma arquitetura, que pertença a um lugar, a uma geografia, a uma história. A história é o seu motor de busca para novas formas estruturais. Rossi interpreta elementos edificados (tipológicos) e não edificados (morfológicos) do passado e constitui o vocabulário da cidade do seu tempo presente.


O que se mantém numa cidade, ao longo do tempo?
De entre os fatores que desenham a forma da cidade, a memória coletiva, a presença da História e a sua interpretação ao longo do tempo é determinante.
O espaço urbano é forma. Na cidade, apercebemo-nos de que não há uma só forma, mas uma possibilidade de forma, que corresponde a possibilidades de vida dos seus ocupantes. Contrastam momentos materiais e não materiais. Os momentos materiais têm um carácter mais restrito, são o edificado. Os momentos não materiais evidenciam o edificado, permitindo a sua relação, ligação, perceção e encontro com o exterior.
O espaço urbano é determinado por uma estrutura dependente de usos e experiências – essa estrutura torna-se flexível, é suscetível de receber várias interpretações e pode ser influenciada, até mesmo transformada. A base estrutural do espaço soma situações diferentes, oferece continuamente novas oportunidades para novas utilizações. A flexibilidade é suficiente, para que no espaço urbano, se desempenhem funções diferentes sob circunstâncias variadas – concretiza-se, portanto, uma separação entre forma e função.
A forma do espaço urbano resulta de fatores diversos, tais como: a vontade e criação humana; as demonstrações de poder; o acaso; as sujeições locais ao meio físico e as preocupações sociais. O espaço urbano pode afirmar-se como um conjunto de diversas partes planimetricamente esquemáticas – reflexo de sucessivas adaptações ao meio físico e histórico. Não é a lógica da história, mas a sucessão de acontecimentos no tempo, que se reflete na realidade urbana. A flexibilidade que a caracteriza fá-la frágil. A cidade está sujeita a excessivas individualizações na organização do seu espaço. A capacidade recetiva da cidade permite convivência entre a regra e a exceção, entre sistema e forma, entre morfologia e tipologia. O tempo e as suas sucessivas interpretações são fatores de mutação da forma da cidade. Cabe a certos elementos da cidade resistir ou absorver as mutações constantes. Aldo Rossi ao determinar a arquitetura da cidade define os elementos que absorvem as mutações da cidade como sendo artefactos urbanos – os tipos.


Como é a cidade de Aldo Rossi?
‘Because the city will be seen comparatively, I lay particular emphasis on the importance of the historical method…’, Aldo Rossi
A cidade é o repositório da história. Ao acumular a imaginação do Homem, a cidade sintetiza uma série de valores coletivos. Aldo Rossi evoca a cidade de acordo com a memória coletiva, porque a sua construção é feita sobre o tempo e num lugar. A história documenta a estrutura urbana na sua descontinuidade, individualidade e forma. A história permite que a ideia de passado constitua as estruturas dos artefactos urbanos, do tempo presente – o Homem aceita perenidade nos artefactos urbanos sempre que sente necessidade de se expressar nas suas formas. Rossi analisa a cidade através dos seus artefactos, das suas permanências morfológicas e tipológicas. Ao atuar sobre a cidade, Rossi aciona o mecanismo da analogia.
Com a publicação de ‘L’architettura della città’, por Aldo Rossi em 1966, iniciou-se em Itália o Neo-Racionalismo Italiano ou Tendenza. A Tendenza afirma a importância dos diversos tipos de edifícios na determinação da estrutura morfológica urbana à medida que ela se desenvolve com o passar do tempo. Rossi define o artefacto urbano como sendo o único programa capaz de encarnar os valores históricos da arquitetura, cujos referenciais racionais devem advir analogicamente do vernáculo, das necessidades do quotidiano e assim construir o local através de formas estruturais.
Defende-se a ideia de ‘continuidade do movimento’ num contexto urbano – isto é, cada novo projeto deve articular-se coerentemente, de acordo com a morfologia da cidade e de acordo com os valores tipológicos do lugar. A teoria da tipologia e da morfologia não conseguiu prevalecer ao confrontar-se com o infindável património das cidades históricas italianas. A Tendenza realizou muito pouco em Itália, mas exerceu um importante impacto sobre a preservação histórica dos centros urbanos italianos – excluindo qualquer presença de arquitetura contemporânea.

 

Ana Ruepp

A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

Arquitetura. Forma do mundo e forma criada.

 

‘Uso o termo arquitetura num sentido positivo e pragmático, como uma criação inseparável da vida civilizada e da sociedade em que se manifesta.’, Aldo Rossi, L’architettura della cittá, 1966

 

Existe uma relação intrínseca entre as formas do mundo e as formas criadas. As formas que moldam a arquitetura contêm assim vida. 

 

As formas do mundo (matéria, que é vida já em sim) provocam no homem a acção de criar novas formas.

 

As formas são ativadas/criadas através de mecanismos intuitivos e têm a capacidade de ativar outros mecanismos ao serem assimiladas. 

 

A forma criada resulta de omissões ou acrescentos. Apresenta limites e indeterminações. É durante o processo de criação que o homem vai tendo uma imagem cada vez mais clara do que está em formação. A matéria é transformada por um processo físico, por ações e não por meras sensações.

 

As ideias advêm das formas da materialidade do mundo. A intuição é uma receção/perceção consciente e instantânea de um sinal/forma que imediatamente o homem transcreve e transmite na medida das suas capacidades. A perceção consciente resulta do poder de escolha do homem, e reflete as coisas do mundo, tal como um espelho. 

 

Pablo Palazuelo nos 'Cuadernos Guadalimar' (1978) escreve que o homem criador é um instrumento que aumenta a duração ou a intensidade do mundo, é um eco, um reflexo e uma repercussão. Uma forma nova procede de uma já existente e assim sucessivamente.

 

'La materia llamada orgánica o viviente, tiene su razón de ser em el ejercício de una constelación de funciones que son imprescindibles, para que ese cuerpo pueda continuar viviendo, desarrollándose y transformándose. Todas las vidas se transforman de unad en otras perpetuamente, 'como pasando', como en un fluir por siempre en busca de la forma otra, de la forma siempre nueva... la vida y sus formas no tiene fin.', Palazuelo

 

Ana Ruepp

A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

A cidade de Aldo Rossi.

 

‘A cidade deve ser compreendida como arquitetura. Por arquitetura, designo não só a imagem visível da cidade e a soma das suas diferentes arquiteturas, mas a arquitetura como construção, a construção da cidade ao longo do tempo.’, Aldo Rossi

 

A cidade é produto da arquitetura, mas também repositório da história. Aldo Rossi (1931-1997) evoca a cidade de acordo com a memória coletiva, porque a sua construção é feita sobre o tempo, num lugar específico. Rossi analisa a cidade através dos seus artefactos, das suas permanências morfológicas e tipológicas. Ao actuar sobre a cidade, Rossi acciona o mecanismo da analogia.

 

Em ‘L’architettura della città’ Rossi descreve e analisa a cidade através de regras limitadas morfológicas e tipológicas. Permite voltar a fazer entender a cidade como lugar de complexidade e de memória urbana. Pretende-se a recuperação da tradição, a insistência na permanência das formas, a recriação das convenções (como reinterpretação do passado à luz do presente). A cidade constitui-se por valores construtivos (que servem de regra ou modelo e que conformam a cidade) e memória (recordação de coisas essenciais que se fundem em formas e ideias).

 

Rossi parte de uma vontade antivanguardista de reconstruir a ligação entre a arquitetura e a coletividade. Rossi insiste na tipologia como estrutura, fundadora da imagem da realidade arquitetónica e emocional. Rossi recorre ao mecanismo da analogia, porque esta permite associar à cidade a memória e a história, o individual e o coletivo, a objetividade e a subjetividade, o homem e o lugar. O Homem procura por uma cidade ordenada e consistente intimamente referenciada a um tempo. A expressão da analogia referencia-se a elementos formais preexistentes e que pertencem a uma determinada realidade. Rossi vê os programas modernos como veículos inadequados para a arquitetura e por isso procura por uma arquitetura analógica, extraída do vernáculo e da memória. Rossi, volta, assim aos programas tipológicos propostos na cidade do séc. XIX.

 

Rossi ao explorar a imagem da cidade através do tipo, modelo ou regra, dá um novo sentido à arquitectura. Os tipos transformam a cidade através de ideais intemporais geométricos. Para Rossi os elementos construídos de uma cidade podem, assim tomar a forma de um cubo, cone, cilindro, prismas octogonais e rectangulares. Cada forma está associada a uma determinada função. Rossi trabalha a partir de formas facilmente reconhecíveis e identificáveis para uma determinada comunidade – a habitação, a escola, o hospital, a prisão, o edifício religioso e civil (Montaner, 2001).

 

Por exemplo Aldo Rossi em Constructing the City Project, em 1978, define o cubo como espaço de encontro público; a torre octogonal como o centro cívico ou município; o cilindro como a escola, o teatro e a biblioteca; o cone como o monumento que permite a referenciar a cidade ao seu lugar; o paralelepípedo suspenso sobre pilares como habitação coletiva; as formas vernáculas italianas como habitação unifamiliar (Carlo, 2002).

 

Rossi descobre na tipologia a possibilidade de invenção de formas que evoluem no tempo - e ao ser uma constante da cidade, forma a arquitetura ao utilizar mecanismos que ultrapassam o mero funcionalismo moderno. Ora, Rossi trabalha a partir do processo da analogia retomando temas do vernáculo, valores e necessidades intemporais que busca no passado. Rossi dá, assim a possibilidade ao Homem de interpretar continuamente o seu tempo e o seu lugar através de permanências que estruturam a cidade.

 

Ana Ruepp

A Força do Ato Criador

 


Aldo Rossi, Passado, Memória e Continuidade


Aldo Rossi, através do livro ‘L’architettura della città’ (1966), constrói uma metodologia própria com grande repercussão internacional – quase como um novo tratado. É o início do Neo-Racionalismo italiano ou Tendeza. A reconciliação com o passado, a introdução da memória e a sugestão para uma construção da cidade em continuidade são os temas chave desta obra de referência. A ordem e o rigor com que os temas são discutidos, cria como que um mecanismo quase científico e viável para transformar a arquitectura da cidade.

A arquitectura contemporânea reconcilia-se com o passado remoto e recente sem preconceitos. Rossi reconhece mestres em todas as épocas, desde as contribuições renascentistas até aos modernistas como Mies Van Der Rohe e Adolf Loos.

Aldo Rossi evoca a memória como sendo, por um lado, um dispositivo mais impreciso, mais intuitivo e fantasioso do processo de construção da cidade e, por outro, um instrumento que permite acompanhar a produção de formas através de um processo racional, lógico, analógico, histórico e público. O pensamento analógico, para Aldo Rossi assume grande importância e não é um discurso, mas uma meditação sobre temas do passado. É um monólogo interior, arcaico, inexplícito e praticamente inexprimível em palavras – é passível de ser entendido ainda que irreal.

Rossi compõe assim a cidade de acordo com um processo de repetição e de analogia – sobretudo no que diz respeito à habitação – e de acordo com elementos excepcionais, que transportam partes de história e que definem a imagem e o carácter da cidade – o regresso ao monumento. Segundo Aldo Rossi a ideia de monumento está associada à memória da cidade. Os monumentos são datas para a cidade, é através deles que o homem toma consciência da passagem do tempo, é através deles que se transmitem ideias, técnicas e se interpreta a história. A história documenta a estrutura urbana na sua descontinuidade, individualidade e forma.

A sugestão de continuidade revela-se no sentido de que a arquitectura constrói-se com um objectivo, o da duração, e estabelece por isso uma ligação entre o presente, o passado e o futuro.

Rossi ao repor valores de monumentalidade, solidez e permanência está declarar a importância da forma na constituição das cidades e porque a forma deve ser concebida para durar, as funções estão sempre a mudar constantemente.

Ao acumular a imaginação do Homem, a cidade sintetiza um conjunto de valores colectivos. Revela-se, deste modo, a importância do contexto, no que diz respeito a pré-existências e à tradição. Rossi analisa a cidade através dos seus artefactos, das suas permanências morfológicas e tipológicas e define o artefacto urbano como sendo o único programa capaz de encarnar os valores históricos da arquitectura, cujos referenciais racionais devem advir analogicamente do vernáculo, da memória colectiva, das necessidades do quotidiano e assim construir o local através de formas estruturais.

A definição de um artefacto urbano só a partir de uma função específica não faz sentido para Rossi, porque a função muda com o tempo e com as necessidades de uma comunidade e de um lugar. A história permite que a ideia de passado constitua a estrutura dos artefactos urbanos, do tempo presente – o ser humano aceita perenidade nos artefactos urbanos sempre que sente necessidade de se expressar nas suas formas. Sendo assim, o artefacto é um momento típico ou tipo da cidade – o monumento é também um artefacto urbano. O tipo desenvolve-se de acordo com as necessidades e aspirações de uma comunidade. Formaliza um modelo e uma maneira de viver constante, variando de sociedade para sociedade. Para Aldo Rossi, a constituição do tipo em arquitectura estabelece-se através da conjugação de três parâmetros: geometria (referência mais convencional da arquitectura), topologia (ao enfatização conceptual das relações de proximidade, separação, sucessão, clausura e continuidade) e pulsão (vivência corporal e psíquica de um espaço).

Morfologia e tipologia urbana servem para Rossi descrever a complexidade do processo de implantação da cidade – relações entre traçados viários e quarteirões, entre formas de uso e formas de edificação. A lei de constituição de projecto depende da especificidade do lugar.

E assim Aldo Rossi ao projectar Gallaratese, em 1969, recorre à metáfora e à geometria directa, repetitiva e quase primária. O complexo, pensado para 2400 habitantes, é um contentor de cidade, estando equipado com serviços, escolas, comércio e espaços públicos destinados a uma vida em comunidade. Rossi quis aqui criar um tipo urbano – através da grande escala, das diversas funções e dos diferentes discursos e analogias.  

 

Ana Ruepp