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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

 

Now is the time, 2017

 

O ano novo atrasa um segundo na abertura, a compensar natural vagar na rotação terrestre, para logo acelerar na vertigem dos acontecimentos humanos. A busy timetable revela os efeitos do passado recente que semearam consequências no próximo futuro. Depois do Trump triumph no January dos USA e do Brexit article no March do United Kingdom, a European Union peregrina pela electoral silk road de 2017.

Se Madame Marine Le Pen surfar a onda populista em France e Germany ceder na censura à Bundeskanzlerin Angela Merkel, ainda que com muito window dressing, assitir-se-á a novel queda do império romano no velho continente. — Chérie! Il y a un temps pour tout. Com a política global em fluxo, em London, hoje mesmo, o HM Government reivindica o centre-ground com uma agenda reformista. Mrs Theresa May adverte contra as “politics of division and despair” e defende a visão de “a shared society,” enquanto persiste no calendário anunciado do Brexiting face a fogo cerrado dos eurófilos liderados pelos milhões do ex PM Tony Blair. — Aye! All's well that ends well. Em New York, RH Boris Johnson dialoga com o Trump Team e o US President-elected saúda a Prime Minister na TweetWhiteHouse. Já Washington e Moscow revisitam o universo ficcional de Mr John Le Carré em frescos episódios da Cold War, com Beijing a observar a neo cyberwarfare. O calvário dos refugiados enfrenta as temperaturas gélidas na Balkan Route. A lista das New Year Honours consagra Sir Andy Murray e outros heróis olímpicos. O iPhone comemora 10 anos.
 


Heavy snow alert at Britain
. Com o mercúrio dos termómetros a cair com a aproximação do polar vortex, o reino respira de alívio com a visão pública de Her Majesty. Uma constipação mais severa impede Elizabeth II de assistir aos tradicionais serviços religiosos em Sandringham (Norfolk, Eng) e as sucessivas ausências suscitam até desassossego nos altos círculos, mas eis a monarca aos 90 anos a retomar os compromissos a par do regresso dos MP’s a Westminster após a pausa natalícia. A cidade vive ainda a onda grevista oportunisticamente iniciada durante as festas. Ir do ponto A para o ponto B é agora uma aventura colossal, com 24 horas de paralisação no Metro por entre estações fechadas por excesso de pessoas, eventuais autocarros e um caótico trânsito automóvel. Ao desânimo salvam as Boris Bikes, um hire-scheme disponível por todo o lado de Canary Wharf a Camden Town. A odisseia cosmopolita testa o dito de que to be British is above all to be pacient. O quadro de fundo enfurece, porém. Em nome da segurança dos passageiros, os meios laborais exortam ao derrube do “bloody Tory government” e à troca do capitalismo pela “socialist order.” O Mayor Sadik Khan crítica “a pointless strike” a arrepio do manto de silêncio do Labour Leader Jeremy Corbyn, cujos aliados abertamente apoiam a industrial action a expensas dos agnósticos. As pendências inclinam as sondagens para a direita e aguardam pelo voto das by-elections do ano, com o Ukip a cavalgar o descontentamento, os liberais democratas a assumir-se como a hoste dos Remainers e os conservadores a faturar nos dividendos dos Brexiters. A sintonizar os humores, nas ondas hertzianas da LBC começa o Nigel Farage Show – o ukipper por cá reconhecido como Sir Brexit. Em semelhante tela publica a Fabian Society a usual análise das tendências eleitorais, sob título de Mr Andrew Harrop: "Apocalypse soon? Labour is too weak to win and too strong to die. It needs to find a new cultural centre ground and consider how to work with others."

 

A Anglosfera fica também marcada pela agitação dos last days do suave President Barack Obama no Oval Office. Na senda das alegações de manipulação informática na ida campanha presidencial, ao melhor estilo da Cold War, Washington DC expulsa 35 diplomatas russos e admoesta Moscow que não sairá impune “to pursue similar tactics in forthcoming elections in Germany and France.” O Kremlin tudo nega, faz compasso de espera pela transição nos US e até convida os membros da embaixada local dos US para a sua mesa. Ora, se a caça das agências ocidentais de espionagem incide desta feita sobre o Russian malware code, o xadrez geopolítico conta com aliança ímpia dos democratas e da ala republicana do Senator John McCain em Capitol Hill. Assim se hipoteca a guerra pelo impeachment de um presidente ainda não empossado, em torno da National Security. Convenhamos que Mr Richard Condon não desgostaria da reedição de The Manchurian Candidate nas vestes de um milionário improvavelmente eleito para a White House, finda que ali está a série de um desconhecido professor de Chicago com raízes africanas.

Inesperado é o efeito colateral registado na envolvente de St James. As casas de apostas abrem os balcões a BuzzWord para o Trump’s Inaugural Address. As probabilidades oratórias para January 20th são reduzidas, jogando os bookies com peculiar quarteto de risco: a presença da locução “corrupt” apresenta prémio a 2/1, “I like hackers” surge a 4/1, “Brexit” a 5/1 e “fake news” a 10/1.

 

Em plena contagem decrescente para a tomada de posse de Mr Donald John Trump como líder do West, pois, revisito os discursos inaugurais junto ao Potomac River. Espantam as 73 páginas de diretivas do honorável George Washington, entre as quais, o compromisso de não fundar dinastias no novo mundo; pesam as referências dos sucessores à divina providência e às clássicas repúblicas. Com ecos em volta de ambicionado retorno da special relationship solidificada nos 90’s pelo duo Maggie Thatcher e Ronnie Reagan, é o distinto Abraham Lincoln que fixa finalmente a atenção com um olive branch em mandato inquieto. “I am loath to close. We are not enemies, but friends. We must not be enemies. Though passion may have strained it must not break our bonds of affection. The mystic chords of memory stretching from every battlefield and patriot grave to every living heart and hearthstone all over this broad land, will yet swell the chorus of the Union, when again touched as surely they will be, by the better angels of our nature.” Sabeis aonde conduzem estas palavras dirigidas aos confederados em 1861. — Well. As echoes Master Will by the voice of that industrious mutineer Lord Hastings in Henry IV/PII: — Don’t worry about that. If we can come to terms that are as comprehensive as the ones we’re insisting upon, then the peace will be as durable as rocky mountains.

 

St James, 9th January 2017

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

A Lovely Christmas indeed, 2016

Chávenas, não quaisquer chávenas, sim chávenas inglesas de Stoke-on-Tent com a assinatura única da ceramista Emma Bridgewater e envoltas na brownie box de “A Great British Present.”

Esta é a escolha da Prime Minister RH Theresa May para os membros de HM Government como oferenda de A Holly Christmas. — Chérie! Il vaut mieux faire envie que pitié. Abre a época natalícia, por cá celestialmente marcada pelo fecho dos festejos do Queen’s 90th birthday year. Em contraponto expande-se a vaga grevista, desta feita ao transporte aéreo. Os sindicatos agitam com um “winter of discontent” enquanto os comuns questionam se o Thatcher spirit habita em Downing Street. — Hmm! Is the robe really what makes the monk? O May Cabinet pondera um juramento de adesão aos “British values” para quantos demandem cidadania. O embaixador russo em Ankara morre em atentado e aguarda-se a reação de Moscow e Washington, com London a evocar a valia da imunidade diplomática para a segurança global. Depois das façanhas de Monsieur Dominique Strauss-Khan, o IMF vê a Director Christine Lagarde condenada num tribunal de Paris por “misuse of public funds” como ministra das finanças. Aleppo cai e a tragédia dos sírios continua. Mr Andy Murray conquista o título de 2016 Sports Personality em ano olímpico. 

A chilly weather at London. Alta temperatura, porém, em certos círculos inclinados a alhear-se das artes reveladas em volta nos presépios cristãos e tradicionais Christmas Markets, onde múltiplas formas da criatividade convidam a louvar uma criança de Judah como símbolo das esperanças mais ardentes. Há aqui algo de funda desintonia. Se uns quantos usam a quadra para reivindicar direitos em greves que a outros lesam, dos correios e comboios aos aviões, esgrimindo mesmo com o anseio de derrubar o Tory Government, a generalidade antes se ocupa a preparar aprazível festival de doze dias. A saudar a natividade no Christmas day, movem-se as mentes para o júbilo do second day of Christmas, aqui crismado de St Stephen’s ou Boxing Day, para culminar na epifania dos magos na Twelfth Night, o bíblico achamento que Master William Shakespeare leva à cena na corte Elizabethana de 1601. Tudo é anglicanamente doméstico, em especial depois do Prince Albert e de Mr Charles Dickens popularizarem as palhas epocais em moldes vitorianos. E a selar a festa da família divulga o Buckingham Palace real fotografia dos 90 anos de Her Majesty, tomada por Mr Nick Knight no Windsor Castle. Definitely a happy birthday and beautiful memories, Mum.
 

Em momento de veloz desaceleração nos quotidianos, pesam os extraordinários eventos políticos que recentemente semearam o futuro. Findando o ano de predita Brexit e incontornável Trumpism, Atlantic Towers que ninguém alienará após a sessão presidencial no US Congress de 6 January, 2017 aproxima-se pleno de exigentes interrogações. No modo de lidar com o United Kingdom e as várias manifestações dos extremismos que em si campeiam, joga a European Union a identidade. O East e o South são o que são: abrasamentos. As eleições em France e Germany condicionam, mas de Brussels almeja-se mais que o business as usual. Pelas ilhas também os desafios somam. Com o reino em reinvenção global, espera-se que, por fim, surja efetiva Her Majesty's Loyal Opposition pelas bandas do Labour Party e do primo nortenho SNP. Com elevada probabilidade de ida antecipada a votos, o Tory Government oscila ainda entre flanquear a sua ala direita, integrando os ukippers, ou solidamente ocupar o centro, ambicionado pelos Liberal Democrats. Entre um e outro polo de Westminster, não de todo divergentes, progredirá London no nevoeiro que a aparta do continente. Mrs May serenissimamente em March dirá.


A fechar a última London Letter do ano, inscrevo votos de A Lovely Christmas and A Good 2017 aos gentis leitores. E nada melhor que a companhia do bardo de Avon para período de recriação. — Shhh. Special words engrave Master Will for this unique season in As You Like It: — Blow, blow thou winter wind? / Thou art not so unkind / As man’s ingratitude! / Thy tooth is not so keen, / Because thou art not seen, / Although thy breath be rude. / Heigh ho! sing heigh ho! unto the green holly: / Most friendship is feigning, most loving mere folly. / Then heigh ho! the holly! / This life is most jolly! ||| Freeze, freeze, thou bitter sky? / Thou dost not bite so nigh / As benefits forgot! / Though thou the waters warp, / Thy sting is not so sharp / As friend remembered not. / Heigh ho! sing heigh ho! unto the green holly, / Most friendship is feigning, most loving mere folly. / Then heigh ho, the holly! / This life is most jolly!

 

St James, 19th December 2016

Very sincerely yours,

V.