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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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UM SÉCULO SOBRE A PRIMEIRA PEÇA CONHECIDA DE ALMADA NEGREIROS

 

Nesta alternativa entre teatros-edifícios e teatros-textos, fazemos hoje referência ao “Antes de Começar” de Almada Negreiros, escrita há exatamente um século e que constitui a mais antiga peça "sobrevivente" do teatro criado pelo autor. Isto porque antes Almada teria escrito em 1912 dois textos teatrais desaparecidos, “O Moinho” e “23, 2º Andar” , tal como se perderam “Pensão de Família”, “A Civilizada”, “Os Outros” e cenas de peças que felizmente sobreviveram, algumas  em versões posteriores.

 

E por isso, “Antes de Começar”, título que assume valor simbólico, constitui a peça mais antiga de Almada que chegou até nós. Justifica-se assim esta referência ao centenário, sendo certo que a ela nos temos referido numa perspetiva dramatúrgica global, enriquecida, digamos assim, pelo conhecimento direto do teatro de Almada e do próprio autor, amigo de família.

 

E importa ter presente a simbologia que Almada atribui à sua obra dramatúrgica, como aliás à sua vastíssima e excecionalíssima criação artística e cultural. Orgulho-me pois de o ter conhecido bem.

 

E tenha-se então presente que o teatro de Almada Negreiros cerca de 15 peças, assume no seu conjunto a simbologia do lema que também é identificável na restante obra criacional: “1+1=1” marca esta expressão dramática que, afinal, surge também na restante, vastíssima, variadíssima e qualificadíssima obra do autor.

 

 E recordo, a propósito, que na pintura do pórtico da Faculdade de Letras de Lisboa, da autoria de Almada, “Todo o Mundo” é igual a “Ninguém”.

 

“Antes de Começar” é um diálogo de bonecos que assumem a luta de comunicação, busca de entendimento, a generalização da individualidade para o conjunto humano, em suma, a passagem do particular para o geral, raiz e essência da obra conjunta de Almada.

 

Tal como já noutro lado escrevemos, trata-se afinal de uma luta pelo entendimento, um esforço de comunicabilidade, a já referida passagem do particular para o geral numa expressão identificativa que em si mesma se consubstancia no simbolismo de  “1+1=1”.  É pois nessa passagem a identificação dos dois personagens que aparentemente seriam diferentes, mas não são.

 

E essa constatação permite-nos reproduzir um conjunto de citações retiradas desta e de outras peças de Almada, e que marcam a unidade tanto da sua obra teatral como da sua inigualável criatividade artística, aqui na fórmula do texto e do espetáculo.

 

Pois, como veremos em próximo artigo, esta conjunção estética e filosófica marca todo o conjunto do teatro de Almada Negreiros, no total das 15 peças, das quais se perderam diversas, e cenas de outras que completa ou parcialmente sobreviveram: mas em qualquer caso, o conjunto marca pela coerência, pela qualidade e pela homogeneidade estética de forma e conteúdo!

 

DUARTE IVO CRUZ