A FORÇA DO ATO CRIADOR
Anthony Caro e a expansão no espaço.
‘I never work from maquettes, I never make drawings. I work from the material. It is a sort of technique for letting it flow out of yourself, without worrying too much (...) It comes directly from cubism, from collage and I am able to do things in an immediate way. There is less space between the idea and what you make.’ Anthony Caro
No início dos anos 1960, o escultor Anthony Caro (1924-2013), na esperança de tornar o seu trabalho mais puro, mais real, mas ainda expressivo, enveredou por um território mais aberto e ambíguo. Caro afirmava assim uma ideia de claridade de intenções e de intuição, diretamente expressa sobre os materiais empregues.
Qualquer semelhança com a figura humana voltaria a transportar o trabalho de Caro para a linguagem da representação. E de modo, a perseguir um estado mais puro e sem qualquer tipo de conotação, Caro abandonou toda e qualquer referência antropomórfica. Por isso, talvez, os seus primeiros trabalhos abstratos, tenham surgido pelo uso de um novo material já existente - nomeadamente o aço (em forma de painéis, vigas, redes e tubos) - e pela influência da pintura de Kenneth Noland (ver Twenty Four Hours, 1960).
Surgia então assim e pioneiramente, uma escultura de formas irreferenciáveis, fisicamente próxima, colada ao chão e de uma gravidade leve.
‘In pictorical sculpture the structural solidity of the object is evaporated.’ Anthony Caro
O trabalho de Caro tem a incrível capacidade de incluir todo o diálogo que existe com o material, com aqueles que ajudam na execução da obra e com o espaço. Ao retirar a base da escultura e ao colocá-la diretamente no chão, o fruidor passa a reconhecê-la como um objeto, como uma estrutura aberta.
Em esculturas como Aroma (1966) e Smoulder (1965) afirma-se a fluidez em vez da solidez; a quase inexistência em vez da monumentalidade; a ligeireza em vez da massa; contenção e amplificação; ausência e intersecção. Define-se espaço (feito de pontos, linhas e planos) com grande eficácia e imediatismo. E são precisamente as descontinuidades, as distâncias, as transparências e a escala que permitem as várias e diferentes leituras de espaço. A redução dos elementos permitiu a exploração de conceitos como rotação, pausa, extensão e a quase imaterialidade (porque se estabelece fora das referências do mundo das coisas).
A noção de escultura como massa fechada e compacta explode e passa a dar-se importância à profundidade espacial - à expansão dos elementos que flutuam no espaço, em diferentes planos. A leveza é aparente, virtual porque na verdade a matéria física, que Caro utiliza, é real e pesada.
‘I think the edges of subjects are interesting: where sculpture meets drawing, where sculpture meets architecture - these are borderlines which invite exploration’, Anthony Caro
Ana Ruepp