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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA


O APAZIGUAMENTO

 

Bem creio que há que saber ser suave de tão inabalável.

Bem creio que a nudez corajosa das ideias é um saber estar na serenidade ativa do pensar.

Bem creio que a ironia amável, bem como o ser intolerante a ambiguidades, constituem, com efeito, a equidistância exata e dialogante do que é nobre e não cede a barricadas, antes saudavelmente peregrina no agitar das águas.

Muito nos devemos em gratidão, direi, se formos capazes de nos encontrarmos entre a lição do rigor possível em solidão, e a radiosa revolução que tenha robustecido o diálogo frontal.

Em certas épocas da nossa vida, a lição, sobretudo, em momentos de grande crise da humanidade, foi e é, a que nos impulsiona a dizer muitas vezes, e em consciência, que existe coragem e existe esperança, ambas liberdade digna e vitoriosa se dissidente de quem a imita.

Na verdade, a travessia de muitos dos desertos da vida de cada um pode ter tido todo o sentido.

E assim tenha sido!, pois então foi magistério ético e lucido esse período, regaço de aprofundares, para quando a súmula da perceção do princípio da realidade, chegasse e chegasse numa força tal, que, eis-nos face a face, sós a nós.

O convite é o de perceber as surpresas, as intuições, as tentações.

Um dia, no sofá, ao nosso lado, sentado, o risco de se ter vivido numa fúria de expetativas.

Um dia, poderá ter lugar um espreguiçar que nos permite um só papel: o de sabermos partir, devagarinho, sem oposição nossa, numa desigualdade tida por natural entre os homens.

Todos os livros importantes já foram lidos e relidos na juventude e na velhice: o atrevimento de os glosar já teve registo.

Bem creio que, se aqui chegados, saberemos que vamos entrar de férias por entre a verdade de que tudo continuará.

É assim que iremos aprender o limite dos limites definitivos e ele cumprimentará o despreconceituoso, a vida intelectualmente desentrincheirada, a glória serena – deseja-se – e encontrada, por ser ela, enfim, a condição paradoxal, a responsabilidade nossa, no deixarmos aqui o futuro.

O futuro que foi sempre a carruagem, essa que um dia, na estação, nos reconhecerá.

Digo: o mundo começou sem nós: por aqui também o significado do apaziguamento.

 

Teresa Bracinha Vieira