Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Quem ama o tempo como eu nesta manhã de ruídos que se afastam de mim e me fazem sentir vazio no meio do mar? Quem devora este ar tão benfazejo à boca e ao replicar das ondas nos ouvidos como sinos de água?
Um tempo que se curva, com o início nos joelhos dobrados na infância, na mãe obsessiva, e vem, como de onda em onda, transportando as dores, até este rochedo que me suga os anos e morde, devagar, a memória da vida.
in De Amore, 2012
Empty at Sea
Who loves time like I do this clamouring morning that moves away and makes me feel empty at sea? Who devours this breath of air so mouth soothing, so wave-like, water bells to my ears?
A bowing time, childhood bent knees, before the obsessive mother, unfolding, wave after wave, carrying sorrow up to this rock that sucks in my years and bites, slowly, the memory of life.
Abandono-te todas as noites, Troco-te pelos outros, Por mim Ou pelo simples sono que sempre me enganou Desde criança.
Deixo-te ficar tantas vezes à luz duma velha lua De queixo retorcido e rainha das bruxas E em lugares frequentados por cães que defecam Com o mudo amor dos donos Sigilosamente À trela.
Não devias esperar. Este amor não é feito de sangue, a minha alma não anda nessa rua deserta, Nem vai, pé ante pé, contemplar o teu rosto, Deitar-se em seguida sobre o teu corpo gelado E limpar-te os olhos do frio De uma madrugada Impudica.
in O Amante Japonês, 2008
I abandon you each night
I abandon you each night, Exchange you for others, For myself, Or for the easy sleep that has always deceived me Since childhood.
I leave you so often to the light of an old moon, That queen of witches with her upwards twisted chin, And in places haunted by dogs defecating With the mute love of their owners, In secrecy, On the lead.
You should not wait. This love is not made of blood, my soul doesn’t walk that deserted road, Doesn’t tiptoe to contemplate your face, And then lie over your frozen body Or wipe from your eyes the coldness of a lewd dawn.
Quem ama o tempo como eu nesta manhã de ruídos que se afastam de mim e me fazem sentir vazio no meio do mar? Quem devora este ar tão benfazejo à boca e ao replicar das ondas nos ouvidos como sinos de água?
Um tempo que se curva, com o início nos joelhos dobrados na infância, na mãe obsessiva, e vem, como de onda em onda, transportando as dores, até este rochedo que me suga os anos e morde, devagar, a memória da vida.
in De Amore, 2012
EMPTY AT SEA
Who loves time like I do this clamouring morning that moves away and makes me feel empty at sea? Who devours this breath of air so mouth soothing, so wave-like, water bells to my ears?
A bowing time, childhood bent knees, before the obsessive mother, unfolding, wave after wave, carrying sorrow up to this rock that sucks in my years and bites, slowly, the memory of life.