A FORÇA DO ATO CRIADOR
A conceção artística do Renascimento, segundo Arnold Hauser.
No texto 'Concepto de Renacimiento. Artistas y vida social en el siglo XV.' de Arnold Hauser, lê-se que a conceção atual do mundo naturalista e científico, é uma criação do Renascimento.
Porém, o interesse pela individualidade, pela investigação das leis naturais, pelo sentido de fidelidade à natureza, na arte e na literatura, não começa no Renascimento, mas sim no Gótico.
No Renascimento aflora, claramente, a conceção individual das coisas individuais. Hauser afirma que o individualismo é utilizado como instrumento de luta.
Na realidade, o Renascimento traz uma transformação: o simbolismo metafísico desvanece-se totalmente e o artista representa conscientemente o mundo sensível. Essencial, nesta nova conceção artística do Renascimento, é o princípio da unidade e a força do efeito total - onde predomina sempre o princípio da expansão e não o da concentração, o da coordenação e não o da subordinação, a sequência aberta e não a forma geométrica encerrada. Para Hauser, a arte Renascentista, mostra sempre uma visão panorâmica da realidade e não uma imagem unilateral, dominada por um único ponto de vista. Não se deseja deter o espectador perante nenhum detalhe e não se consente separar, nenhum dos elementos, do conjunto da representação. A arte Renascentista obriga sim a um envolvimento simultâneo de todas as partes.
O que é fundamental na conceção artística do Renascimento, é o descobrimento da ideia de génio (onde se reconhece o elevado valor da originalidade e da espontaneidade do espírito). A obra de arte é criação de uma personalidade autónoma - e esta personalidade está acima de qualquer tradição, doutrina ou lei e inclusivamente acima da própria obra. As leis da obra são determinadas pela personalidade, isto porque a personalidade é mais rica e mais profunda que a obra e não se chega a expressar por completo em nenhuma realização objetiva. A ideia de génio como dom divino; como força inata e intransmissível; a doutrina da lei própria excecional (que pode e deve seguir o génio); a justificação do carácter especial do artista genial - todos estes pensamentos aparecem pela primeira vez na sociedade renascentista (não esquecer de que na Idade Média recomendava-se a imitação dos grandes mestres e tinha-se por lícito o plágio).
No Renascimento, existe então uma personalidade distinta da obra e que age por excecionalidade e por livre vontade, de modo a criar através de uma visão abrangente e total.
Ana Ruepp