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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE BÉNÉDICTE HOUART  

  


são as mulheres que


são as mulheres que
fazem chorar as cebolas
como se descascassem a própria vida
e, arredondando-se então, descobrissem
um corpo, o seu
uma vida, a sua
e, no entanto, nada que de verdade
pudessem seu chamar
ou talvez sim, mas só
aquela gota de água salpicando
um canto do avental onde
desponta uma flor de pano colorida que
ainda ontem ali não ardia


Unpublished, July 2010
© Bénédicte Houart


women are the ones who


women are the ones who
make the onions weep
as if they´ve peeled their own lives
and discovered, while becoming rounder,
one body, their body
one life, their life,
and yet this was nothing
they could truly call their own
or perhaps they could, but merely
that drop of water that speckled
a corner of their aprons where
a colourful cloth flower had budded, a flower
that wasn’t burning there just the day before


© Translated by Ana Hudson, 2010
in Poems from the Portuguese

 

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE BÉNÉDICTE HOUART 

  


há colares que são coleiras


há colares que são coleiras
há mulheres que são cadelas
certos homens, cães raivosos
os cães propriamente ditos
não foram para aqui chamados
embora metam o nariz em todo o lado
farejando coisas imaginárias
e, de resto, não falam, ladram
têm com certeza razão


in Vida: Variações, 2008


some necklaces are collars


some necklaces are collars
some women are bitches
certain men, rabid dogs
dogs themselves
have no business here
though their noses cover the ground
sniffing imaginary things
and besides they don’t speak, they bark
they must be right


© Translated by Ana Hudson, 2012
in Poems from the Portuguese

 

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE BÉNÉDICTE HOUART

  


já penélope não sou

já penélope não sou
nem ulisses regressa
mudo de nome noite
a noite ao sabor da saliva
dos meus amantes
de dia troco lençóis
coso bainhas
descanso os olhos
dantes tecia para
enganar a corte que
me servia de prisão
agora chamo-me eu
não tenho estado civil e
na cela que me tem cativa
tornei-me finalmente livre


Unpublished, July 2010
© Bénédicte Houart


I am penelope no more

I am penelope no more
nor does ulysses return
my name changes night
by night to the taste
of my lovers’ tongues
in the day I change bed sheets
I sew seams
I rest my eyes
long ago I used to weave
to deceive the circle
that imprisoned me
now my name is I
I have no civil rights
in the cell that locks me up
I became free at last


© Translated by Ana Hudson, 2010
in Poems from the Portuguese