Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

 

The Munich speech, spies and, manners, 2018

 

O lugar escolhido é deveras curioso. Depois de Lancaster House (London) e Florence (Italy), Munich (Germany) é palco para um novo grande discurso da Prime Minister RH Theresa May sobre as futuras relações entre o United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland e a European Union. O tema em foco é também tão oportuno quanto incómodo: a segurança comum. — Chérie! Ne pas se poser de questions, c’est se garantir des mensonges.

O Sunday Telegraph revela laços perigosos entre membros do Labour Party e serviços secretos do antigo East Bloc durante a Cold War. No rol de alegados informadores dos ‘Commies’ aparecem os nomes de RHs Jeremy Corbyn e John MacDonell. O porta-voz do Lab Leader rejeita a imputação do anel de MPs. — Well, well. Every Jack has his dearest Jill. O Ukip despede o líder Mr Henry Bolton, tido nos bastidores como uma planta do MI5, colocando interinamente ao leme Mr Gerard Batten. South Africa procura novos rumos na era pós President Jacob Zuma. Para a eternidade partem já Mr John Mahoney e Mr Terence Marsh, aquele celebrizado pelo papel de Marry Crane em Frasier e este pela direção artística de cenários visíveis em Lawrence of Arabia, Doctor Zhivago ou Oliver. Mr Gary Oldman continua a amealhar com a sua interpretação de Sir Winston Churchill em Darkest Hour, desta feita com triunfo nos 2018 Bafta da British Academy Film.

 

 

Light rain but better low temperatures at Great London. A passarada guia os primeiros sinais do Springtime, a exemplo da gradual coloração nos rebentos florais. O fio simbólico das estações é também evidente na esperada intervenção primoministerial na Security Conference de Munich. RH Boris Johnson pavimenta-lhe por cá o caminho, com uma positiva visão de futuro soberano e braços abertos para os ‘nobres sentimentos’ dos Remainers nas vésperas do novo encontro da PM com a Bundeskanzeralin Angela Merkel em Berlin. O Foreign Secretary respira forte otimismo, quando as altas propinas universitárias preenchem a agenda doméstica e desviam o olhar para os desafios na vida dos mais jovens. Na big picture, porém, domina o countdown para March 2019. Mrs May aproveita a viagem a Germany para desnudar um pouco mais das realidades do Brexiting. Reafirma o comprometimento britânico na segurança comum face às ameaças globais enquanto anuncia que Westminster irá retomar o pleno controlo das suas políticas externa e de defesa ‒ campos até agora com responsabilidades partilhadas, nomeadamente no tocante às operações de assistência ou de manutenção da paz no resto do mundo. Pragmatismo é a senha de ordem na missiva de Downing Street para a Mitteleuropa.

 

Com o cenário teutão a sugerir quer o 1938 Agreement, assinado pelo PM Neville Chamberlain com o III Reich, quer o massacre dos 1972 Olympics, e consequente iniciativa do Foreign Secretary Jim Callaghan de criar um grupo intergovernamental para coordenar o europoliciamento e a ação antiterrorista, começa a tornar-se crystal clear para as chancelarias continentais que o reino está de saída da alçada de Brussels em múltiplas áreas sensíveis. A equação da Brexit tem mais, na perspetiva de London. Retirada da EU, sim, mas sem que tal signifique enfraquecimento na vontade política de uma protocolada nova fórmula de cooperação entre os margens do Channel. Ainda assim, autonomias à parte na rota de almejadas intermacionalidades, o Number 10 persiste na ausência dos detalhes concretos: “for ours is a dynamic relationship, not a set of transactions.” Na retórica da honorável representante de Maidenhead, sendo aqui o objetivo último “put the safety of ours citizens first,” haverá que concretizar “[a] relationship built on an unshakeable commitment to our shared values. (…) A relationship in which we must all play our full part in keeping our continent safe and free, and reinvigorate the transatlantic alliance and rules based system on which our shared security depends.”

 

Porque gerir a ambiguidade é uma das artes da liderança, abra-se a lente ao apontado atlanticismo. A última edição da Tablet apresenta três interessantes teses sobre a ascensão política de DJ Trump. É um leque alternativo viável às teorias da conspiração popularizadas pelo FBI quanto ao atual inquilino da White House ter sido alcandorado à presidência com o apoio ativo do regime russo, hipótese que acaba de ganhar formas com a 37-pages indictment contra 13 indivíduos, por alegada, concertada e dolosamente organizarem “fake campaign events” visando minar a candidatura democrata de Mrs Hillary R Clinton. O artigo de Mr Paul Berman antes foca o perfil sociológico dos eleitorados, escalpeliza os argumentos dos agravos materiais e dos ressentimentos culturais, contextualizando depois o candidato “unWashingtonian” na tradição dual da Great Republic, para acabar a identificar as raízes profundas do classificado “Mussolinian con man” e do seu “Italian style” (leia-se: mafioso) com avassaladora derrocada moral de valores na atual paisagem americana: “the cultural collapse‒ of civility, education, and decorum.” O artigo merece leitura demorada, para fixar o pormenor metodológico. — Umm. Civility, incivility! Politeness! Manners? What about those woolly lines of Master Will by the Duke Senior’s mouth in the entertaining As You Like It: — “This wide and universal theatre / Presents more woeful pageants than the scene / Wherein we play in."

 

St James, 19th February 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

Westmorland and Lonsdale, May-June 2017

 

Totally fascinating. As clivagens partidárias já haviam por cá produzido um Labour politician with Tory values, mas agora chega a vez de uma Tory Prime Minister with some Labour values.

ll1.jpg

Esta é a perceção que os estudos de opinião recolheram junto do eleitorado sobre The Right Honourable Theresa May MP, na esteira da vitória dos conservadores nas eleições locais. A contraciclo político, o partido no poder desde 2010 ganha terreno a todas as oposições em England, Wales e até em Scotland. — Chérie. Aide-toi et le ciel t'aidera. A Brexit Britain indicia outras surpresas no apoio popular. Com o No. 10 a erguer a voz face a novas diatribes continentais e quási-devorado o Ukip pelo voto, eis a onda azul a avançar para as paragens nortenhas. Os Tories tanto sustêm o SNP, quanto avultam na remota Cumbria. Uma das circunscrições debaixo de olho do May-ism é Westmorland and Lonsdale, nenhuma outra senão a que elege o líder dos Liberal Democrats para Westminster: o arch-remainer RH Tim Farron. — Hmm. These days we never no! Yet.... Os sufrágios florescem também em Europe. France elege para o Palais de l’Élysée o neófito Monsieur Emmanuel Macron. Nos US e em Italy, o President Donald J Trump defronta o antagonismo do… Obama show e da cerveja Baracchini. Nas ilhas, o Prince William of Cambridge prepara-se para novas responsabilidades na vida pública. O HMS Somerset escolta um submarino russo detetado no English Channel.

 

ll2.jpg

Beautiful weather at London. Em vésperas dos 2017 BAFTA sagrarem a qualidade cinéfila de The Crown, série revelando alguns dos mysteries of the traditional norms of statecraft, amanhã é o recatado casal primoministerial que responde a questões de uma audiência plural em estúdio. A expetativa sobre a perfomance é tão maior quanto a PM recusa participar no usual Leader’s debate e opta por discreta campanha eleitoral, porta a porta, em vivo contraste com as ruadas e o espetáculo dos rivais, cuja sucessão diária de promessas apenas sublinha a estratégia presidencialista dos Tory. A June 8 ver-se-á dos resultados. Os últimos dias, porém, ficam marcados pelo anúncio real da reforma de Philip Mountbatten e o carinho publicamente manifestado pelos seus 70 anos de “loyal service to Britain and The Queen.” O príncipe consorte de Elizabeth II afasta-se este Autumn dos “public duties” assumidos em 1947. Mrs May sintetiza posições: “On the behalf of the whole country, I want to offer our deepest gratitude and good wishes to His Royal Highness the Duke of Edinburgh.”

 

Muito distinto é o tom usado pela senhora às portas do Ten face a Monsieur Jean-Claude Juncker. O European Commission President desgosta da ementa no “Brexit working dinner” que a PM lhe oferece em Downing Street e coloca o mais próximo dos seus colaboradores a brifar jornais alemães sobre o ali ocorrido, aliás, em termos pessoalíssimos que devem aos bons costumes. Ora, o que realmente aconteceu no jantar onde London recusa a €100bn divorce bill de Brussels depende do paladar de quem neste participa: para uns é uma conversa útil; para outros antes é um desastre… ter tal cozinheiro. Como a deselegância entre ainda-parceiros não bastara e atestando a mentalidade despeitada de infelizes separações, o ex-PM luxemburguês viaja a Firenze e comete crime capital contra a língua inglesa. Nas suas próprias palavras: “I will speak in French (…), because, slowly but surely, English is losing importance in Europe.” Irlandeses e malteses tremem. Já a RH Theresa May reage, antes de rumar ao Palace of Buckingham em dia de dissolução do Parliament: “Threats against Britain have been issued – deliberately timed to affect the election.” O Daily Mail logo resume a mensagem: “Hands off our election.” Vem aí… a huge blue  majority!

ll3.jpg

 

Se as forças aquém e além Channel esculpem, mais e mais, a 2017 snap patriotic election como “who negotiates the Brexit?,” apesar do interesse eleitoral do Labour de RH Jeremy Corbyn &co em maximizar a utilidade de Herr Karl Marx no futuro insular, a conquista do Élysée desagua no esperado President Emmanuel Macron. Os 65-35% no duelo contra Madame Marine Le Pen, escoltados por massiva abstenção e militante voto nulo, contrastam com um discurso da vitória que releva nada estar escrito na pedra. Evitado o perigo imediato do populismo, pois, os meios parisienses comentam agora que, eleito que está, o mais jovem político francês desde o Empereur Napoléon Ier (1769-1812) pode finalmente revelar qual o seu programa e a equipa para governar. Os desafios são imensos, e em muito respeitam à European Union. Nascido nas terras do bloody Somme, o ex-ministro e protégè de M François Hollande é um fervoroso eurófilo que gosta de viajar até London para assistir a uma noturna peça de teatro na língua universal de Shakespeare. Mas eis extraordinário 1st statement do dirigente do novíssimo On marche, após 10 minutos ao telefone com a Bundeskanzlerin Angela Merkel e as warm congratulations da UK Prime Minister. É a noite do triunfo. A imagem parece saída do The Da Vinci Code. Não vemos Mr Tom Hanks, mas o protagonista é ainda energético e telegénico. A câmara segue-lhe os passos, na penumbra, com as pirâmides do Louvre em fundo e as cordas da Ode to Joy. Exato, o EU anthem! A 14 May jurará ele à desnudada Marianne de la Republique. So, best of luck. Seguro é que, depois do Trump circus, o 39 years’ old promete fazer as delícias de quantos apreciam o Planet Rothschild. — Well. Consider Master Will and ours thoughtful Jaques in As you like it: — “All the world's a stage, / And all the men and women merely players; / They have their exits and their entrances, / And one man in his time plays many parts. / His acts being seven ages."

 

 

St James, 8th May 2017

Very sincerely yours,

V.