BALADA
Querida irmã,
Fui ao palácio dos limões de ouro e pedi um para ti. Responderam-me que ainda não estavam maduros e que quando amadurecessem me dariam um. Aguardei. Voltei ao caminho real e trouxe-te o limão que aqui tenho para te dar.
Irmã minha, sei que estás doente, sei que estás de cama, mas vem à janela da sala e como sou eu, abre-me a porta e vem buscar este tempo dos limões de ouro maduro. Quando o tiveres na mão, vai abrir-se ao meio o tal caminho real, irás por ele até ao colo quente da mãe que tem para ti uma garça, e voltarás para tua casa com ela, mensageira de tanto.
O teu destino, irmã, vai bem cedo deixar-te os olhos sem medo e a resposta à pergunta vais tê-la no cesto onde guardas as memórias do teu coração.
Sei eu, e a mãe também, que, o ofício de ir ao cesto, nasce secreto para cada uma, e na torre da nossa linhagem, assim se concebe um filho ou não tivesses recebido por marido a notícia que mais querias.
Querida irmã, que tenho este limão de ouro para ti e uma arca de mil ducados e se levares a saia rodada, vai pela mão do nosso irmão, e diz-lhe que tenho um outro limão para ele e nossa mãe uma outra garça. Diz-lhe também que o pai lhe envia um beijo com formato de candeia e a carta, essa mesma que ele espera de pequenino.
Teresa Bracinha Vieira