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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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UM CASO EXEMPLAR: O TEATRO GIL VICENTE DE BARCELOS

 

Há anos, analisámos aqui o Teatro Gil Vicente de Barcelos, dando como módulo principal de análise a própria sobrevivência do edifício em si mesmo e a atividade cultural que mantém, numa perspetiva de referenciação de edifícios de atividade cultural e de espetáculo. E tivemos então ensejo de sublinhar a relevância que a arquitetura teatral e de espetáculo assumiu ao longo dos séculos XIX/XX.


De facto, tal como já temos escrito, é muito relevante esta recuperação e manutenção dos edifícios de vocação cultural, designadamente estes teatros do século XIX início do século XX, independentemente da sua atividade cultural específica: pois, como já escrevemos, o dimensionamento e a implantação em zonas urbanas centrais, antes menos conservadas do que hoje, representam uma fortíssima capacidade de investimento, na transformação e modernização de tantas cidades.


Hoje, efetivamente verifica-se um muito maior sentido de conservação e restauro de edifícios e áreas urbanas centrais. E nesse sentido, como já escrevemos, há que elogiar as autarquias que conservam, muitas vezes adquirem e recuperam esse património urbano e imobiliário de edifícios de espetáculo, sem o deteriorar ou destruir. E aí incluem-se teatros e cineteatros: e o Teatro Gil Vicente de Barcelos é um exemplo relevante.


Recordemos então que nos finais dos anos 90 do século XIX, um grupo de cidadãos regressados do Brasil lançam uma iniciativa de construção de um teatro. Constituem um grupo empresarial em agosto de 1893. E entre mais projetos, propõe-se dotar a cidade de um teatro então “moderno”. E assim nasce o Teatro Gil Vicente.


Mas não foi fácil: de tal forma que, tal como já escrevemos, no contexto de sucessivas alterações do projeto, o Teatro acabou por ser inaugurado em 31 de julho de 1902. Como escreveu Sousa Bastos no clássico “Dicionario do Theatro Portugez” (1908), o texto inaugural foi “a revista de costumes locais Barcellos por dentro representada por amadores”.


Tal como já aqui referimos, é meritório que este espetáculo inaugural tenha sido escrito e executado por amadores locais, da mesma forma que o próprio processo de construção do teatro tenha surgido por iniciativa de empresários e individualidades ligadas ao Conselho de Barcelos.


Aliás, tal como temos referido, a cidade tem certa tradição teatral, designadamente no que concerne a grupos de amadores que, a partir de finais do século XIX e de certo modo até hoje, marcaram a atividade.


O que não obstou a que o Teatro Gil Vicente tivesse atravessado períodos mais ou menos longos de paralisação e de negociações no sentido da sua demolição para investimento imobiliário. Nada que não seja habitual, mesmo depois das sucessivas transformações e adaptações do edifício, que aliás exibiu atividade cinematográfica quase desde a inauguração.


Para esta “sobrevivência” do edifício, importa realçar que o Teatro Gil Vicente sempre beneficiou de apoio dos poderes locais, acabando a Câmara por o municipalizar em 1994, e de o renovar, em sucessivas intervenções no exterior e no interior.


Mantém-se o estilo clássico, num modelo muito praticado na época de inauguração: o projeto inicial deve-se a um Engenheiro Civil local, António José de Lima.


E acabou por prevalecer esta “obra neoclássica revivalista” tal como a caracterizou Carlos Alberto Ferreira de Almeida num estudo da Câmara Municipal.

 

DUARTE IVO CRUZ  

O Teatro Gil Vicente de Barcelos, exemplo de sobrevivência e recuperação

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Temos visto nesta série de artigos a relevância que a arquitetura teatral e de espetáculo assumiu ao longo dos séculos XIX/XX: e é de louvar as politicas, recentes, a nível nacional e local, de recuperação de edifícios que, pelo dimensionamento e pela implantação em zonas urbanas centrais, antes menos conservadas do que hoje, representam uma fortíssima capacidade de investimento, na transformação e modernização de tantas cidades.

 

Hoje, efetivamente verifica-se um muito maior sentido de conservação e restauro de edifícios e áreas urbanas centrais. E nesse sentido, como aqui temos visto, há que elogiar as autarquias que conservam, muitas vezes adquirem e recuperam esse património urbano e imobiliário de edifícios de espetáculo, sem o deteriorar ou destruir. E aí incluem-se teatros e cineteatros. No caso que hoje nos ocupa, a construção e sobrevivência do Teatro Gil Vicente de Barcelos é um belo exemplo.

 

No final dos anos 90 do século XIX, um grupo de cidadãos regressados do Brasil lança a iniciativa de construção de um teatro. Não foi fácil: a iniciativa ganha expressão e consagração empresarial em agosto de 1893, mas o Teatro Gil Vicente, que apesar de sucessivas paralisações e transformações, dura até hoje, só foi inaugurado em 1902, com uma revista local, precisamente intitulada “Barcelos por Dentro”.

 

E é meritório que este espetáculo inaugural tenha sido escrito e executado por amadores locais, da mesma forma que o próprio processo de construção do teatro tenha surgido por iniciativa de empresários e individualidades ligadas ao Conselho de Barcelos. Mas é de assinalar que a cidade tem certa tradição teatral: são numerosos os tais grupos de amadores que, a partir de finais do século XIX a de certo modo até hoje, marcaram a atividade.

 

O que não obstou a que o Teatro Gil Vicente tivesse travessado períodos mais ou menos longos de paralisação e de negociações no sentido da sua demolição para investimento imobiliário. Nada que não seja habitual, mesmo depois das sucessivas transformações e adaptações do edifício, que aliás exibiu atividade cinematográfica quase desde a inauguração.

 

É pois interessante registar que o Teatro Gil Vicente tenha beneficiado desde sempre de apoio dos poderes locais, acabando a Câmara por o municipalizar em 1994, e o renovar, em sucessivas intervenções no exterior e no interior.

 

Mas mantém-se o estilo clássico, num modelo muito praticado na época de inauguração: o projeto inicial deve-se a um Engenheiro Civil local, António José de Lima. E acabou por prevalecer esta “obra neoclássica revivalista” tal como a caracterizou Carlos Alberto Ferreira de Almeida num estudo editado pela Câmara Municipal.

 

DUARTE IVO CRUZ