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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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NOVAS REFERÊNCIAS A BERNARDO SANTARENO

 

Um livro recente analisa a vida e obra do dramaturgo Bernardo Santareno (1920-1980), autor que, como hoje é genericamente consagrado, representa uma corrente de inovação do teatro português.


E é de assinalar esta obra, da autoria de José Miguel Noras, precisamente intitulada “Bernardo Santareno da nascente até ao mar” assim mesmo, recentemente editada (Âncora editora – 2020), com uma Nota de Abertura de António Ramalho Eanes e prefaciado por João Luís Madeira Lopes.


O livro de José Miguel Noras analisa com detalhe e com interesse a vasta obra dramatúrgica de António Martinho do Rosário, nome “oficial” de Santareno, autor que tanto marcou o teatro português. Merece referência, até porque não são habituais os estudos sobre a dramaturgia contemporânea.


Fazemos pois aqui uma análise breve, tendo presente a relevância deste autor que na época, mas também ainda hoje, tanto marcou a renovação do teatro criado e produzido em Portugal. Com a constatação de que a sua obra dramatúrgica é devidamente reconhecida na sua heterogeneidade, passados mais de 40 anos sobre a sua morte… 


E nesse aspeto, registe-se a largueza das análises contidas no livro de José Miguel Noras, bem como a vastidão das citações e da bibliografia citada. Aí se inclui inclusive um larguíssimo conjunto de referências que englobam de forma assinalável o vasto conjunto bibliográfico sobre a dramaturgia da época e sobre a própria época em si. Isto, devidamente ilustrado em dezenas de páginas de fotografias.


Tive ocasião de referir na minha “História do Teatro Português” a relevância da obra de Bernardo Santareno, ao longo da sua vasta e variada obra teatral. São dezenas de peças. E ao longo delas, e agora transcreve-se uma apreciação feita no livro, é uma dramaturgia que, (em parte cito) partindo do povo, atinge um sopro trágico, épico, lírico também, mas que sublinha, exaspera e tantas vezes deforma as raízes de origem, pois povo e natureza desregionalizam-se pela intensidade extrema de psicologia e situações.


Mas essas psicologias, por seu lado, nascem numa essência ela própria bem rude e bem natural. Interpenetra-se, integra-se na terra e nos sinais que a povoam. E as peças, afastando-se do substrato realista, descrevem como uma trajetória circular e reencontram assim as forças na natureza. Mas também aí se ressalva que essa natureza nada tem a ver com um certo tipicismo bucólico, antes é vista na potência irresistível da sua função criadora e fecundante.


Bernardo Santareno é um dramaturgo de relevo. Merece pois ser recordado e analisado!

 

DUARTE IVO CRUZ

AINDA O CENTENÁRIO DE BERNARDO SANTARENO

 

Na semana passada referimos os 100 anos do nascimento de António Martinho do Rosário (1920-1980), desde logo enfatizando o muito que o teatro português ficou a dever a este notável dramaturgo: e é oportuno então lembrar que a obra literária foi divulgada a partir do pseudónimo de Bernardo Santareno. Pois a verdade é que esta tendência para “esquecer” os valores indiscutíveis da nossa cultura, e (talvez) sobretudo no que respeita ao teatro, tendem a ser eles próprios esquecidos: quem se lembra de assinalar a relevância da dramaturgia de Santareno, cumpridos os exatos 100 anos do seu nacimento? 

 

Em qualquer caso, parece-nos então oportuno referir que Carlos Porto, no seu relevante estudo intitulado “O TEP e o Teatro em Portugal – Histórias e Imagens” publicado pela Fundação Eng. António de Almeida dedica a Santareno uma sucessão relevante de citações que, no conjunto, representam uma análise interessante desta dramaturgia. Note-se que a sigla TEP significa precisamente Tetro Experimental do Porto.

 

Ora, independentemente da relevância dramatúrgica de Santareno em si mesma considerada e da sucessão de peças que diversas companhias puseram em cena, para já não falar nas editoras e nos escritores e críticos que o evocam, tem interesse recordar, a partir pois da análise de Carlos Porto, que Santareno estreou-se como dramaturgo “profissional”, digamos assim, em 23 de novembro de 1957, com “A Promessa” pelo Teatro Experimental do Porto – TEP, no Teatro Sá da Bandeira numa encenação de António Pedro.     

 

Aliás, tal como referimos no artigo anterior, o livro de Carlos Porto dá sobretudo destaque, no que se refere a Santareno, a duas estreias: “A Promessa” (1957) e “O Crime da Aldeia Velha” (1959). Passaram entretanto mais de 60 anos: e no entanto, os elencos referidos no livro de Carlos Porto documentam, ainda hoje, a qualidade artística: nomes como Rui Furtado, Dalila Rocha,  João Guedes, Cândida Lacerda, Alda Rodrigues, Vasco de Lima Couto, Baptista Fernandes, Fernanda de Sousa, Cecília Guimarães, Cândida Maria, Nita Mercedes, Fernanda Gonçalves, Alda Rodrigues, Madalena Braga, José Silva, José Pina, Sinde Filipe, tantos anos decorridos, muitos deles ainda dizem muito sobre a arte de representar.

 

E, repita-se, passaram entretanto mais de 60 anos!...

 

Ora bem:

100 anos decorridos sobre o nascimento de António Martinho do Rosário, o que nada nos diz, mas mais de 60 anos decorridos sobre a estreia de Bernardo Santareno (“A Promessa” – 1957); face ao reconhecimento da qualidade das peças de Bernardo Santareno, “um dos mais pujantes dramaturgos de todos os tempos” como escreveu Luís Francisco Rebello; face à extensão, qualidade e complementaridade da bibliografia; face à circunstância de terem sido representados pelo TEP algo como 37 dramaturgos portugueses; face à qualidade da pesquisa e da escrita; face a tudo isto e tudo o mais, penso que o livro de Carlos Porto é realmente merecedor de consideração!

DUARTE IVO CRUZ

O CENTENÁRIO DE BERNARDO SANTARENO

 

Nesta alternativa entre referências a teatros/edifícios e teatro/dramaturgia/espetáculo, iniciamos hoje uma sequência de referências a Bernardo Santareno, nos exatos 100 anos do seu nascimento.

 

Importa de facto ter presente que António Martinho do Rosário, seu nome civil, nasceu em Santarém em 1920, cumprem-se pois 100 anos. Faleceu em Lisboa em 1980. E hoje é recordado e citado pelo pseudónimo de Bernardo Santareno. Pois já ninguém recorda o nome civil...    

 

Exerceu uma longa e qualificada atividade como escritor: e nesse vasto conjunto de obras, realça-se então a dramaturgia. De tal forma que bem se justifica uma análise vasta da sua obra, no que reporta em particular ao teatro.

 

Começamos então por constatar que o teatro de Santareno de certo modo está hoje esquecido – ou pelo menos não tem sido devidamente analisado. E no entanto, trata-se de uma obra dramática de larga variedade e ampla qualidade: um conjunto de 19 títulos, onde se concilia o sentido de espetáculo com a perspetiva de qualidade literária e com a evocação analítica de problemas pessoais, familiares e sociais.

 

Ora, neste conjunto dramático vasto e variado, justifica-se a referência a aspetos que o relacionam na sua criatividade literária e de espetáculo: o que não é fácil numa obra tão variada, e que se foi desenvolvendo a partir de 1957.

 

E desde já se saliente que o somatório de peças percorre estilos e fórmulas dramáticas que em si mesmas relacionam e valorizam o vasto conjunto dramático. Nesse aspeto aliás importa sublinhar a variedade de meios socioeconómicos e profissionais dramatizados, mas também, e talvez sobretudo a variedade e heterogeneidade da dramaturgia aqui analisada, tendo presente, entretanto, que algumas das peças elencadas foram divulgadas depois da morte de Santareno, o que de certo modo justificará uma análise algo reticente: quereria o autor divulgá-las tal como até nós chegaram?

 

Temos pois, publicadas depois da morte de Santareno: “Restos”,  “Monsanto”, “A Confissão” e “Vida Breve em Três Fotografias” num conjunto que ficou identificado como  “Os Marginais e a Revolução” publicado em 1967. Luis Francisco Rebello cita um inédito, “O Punho”.

 

E a essas peças podemos acrescentar três quadros de revista, intitulados “Os Vendedores da Esperança”, “A Guerra Santa” e “O Milagre das Lágrimas” que na nossa “História do Teatro Português” (2001) remontamos a 1974.

 

Em qualquer caso, podemos referir a relevância de Bernardo Santareno na renovação do teatro, como criação de textos, como intervenção da infraestrutura cultural e como análise crítica de fatores que marcam até hoje e sempre marcarão a História do Teatro Português e a História do Teatro em Portugal...

 

Voltaremos ao tema, pois a importância do dramaturgo Bernardo Santareno bem o justifica e exige.

 

E nesse sentido, veremos o que escreveu por exemplo Carlos Porto, no livro intitulado “O TEP e o Teatro em Portugal” a propósito da estreia de “A Promessa” pelo Teatro Experimental do Porto, por iniciativa de António Pedro.

 

E veremos mais detalhes!

 

DUARTE IVO CRUZ

NOVA EVOCAÇÃO DO CENTENÁRIO DE BERNARDO SANTARENO

 

No último artigo aqui publicado, referimos o centenário de Bernardo Santareno (António Martinho do Rosário -1920-1980), pondo em destaque as grandes linhas da sua atividade profissional e literária e salientando obviamente a criação dramatúrgica deste médico/escritor que sobretudo, mas não exclusivamente, se dedicou ao teatro e como tal marcou e marcará a dramaturgia com coerência e destaque para certas características, designadamente a partir de uma citação desenvolvida por Miguel Real, a propósito da peça “O Judeu” de Santareno. Citamo-la no artigo anterior.

 

Recordamos agora que Santareno é autor de cerca de 20 peças e textos dramáticos, escritas e quase todas representadas, note-se bem, pois dessa circunstância não se podem referenciar muitos dramaturgos modernos, e não somente em Portugal. Nesse aspeto, aliás, Santareno marcou também, não só a criação dramatúrgica em si, mas também a capacitação de realização em espetáculo profissional de muitas das suas peças. 

 

E vale pois novamente a pena, e amplamente se justifica, esta abordagem do teatro de Santareno: pela qualidade da obra em si, pela heterogeneidade de géneros e temas, mas sobretudo pela conciliação da expressão literária com o sentido de espetáculo que a obra de Santareno impõe.

 

E mais se justifica, como diversas vezes aliás temos feito, estabelecer um agrupamento qualificativo desta vasta obra dramática, que percorre uma variedade notável de géneros e estilos, a partir da dominante conciliatória da linguagem poética com o realismo subjacente, sobretudo nos aspetos criticistas que envolve: e isto, tendo designadamente em vista a conciliação, digamos dessa forma, da dimensão de espetáculo, da poética da linguagem e sobretudo da relevância cultural e da atualidade crítica – mesmo em peças que, pela forma e pelo conteúdo, remetem a épocas, estilos e ambiente bem diversos.

 

E precisamente, nesse sentido, retomamos uma análise crítica de géneros, estilos e expressões dramáticas.

 

Assim, tal como temos escrito, há que salientar desde logo as peças passadas em meios urbanos, ligados alguns à atividade de criação artística que Santareno bem conheceu, ou identificou: cite-se designadamente “O Bailarino”, “A Excomungada – Irmã Natividade”, “Os Anjos e o Sangue”, “Anunciação”, “O Inferno”, numa conciliação desigual entre o realismo social e a criação poética, aliás constante nesta vasta dramaturgia.

 

Mas a esse quadro, acrescentam-se algumas peças iniciáticas que conciliam uma ligação direta à natureza, e nesse grupo tiramos algumas das primeiras obras: “A Promessa”, “O Lugre”, “O Crime de Aldeia Velha”, “O Duelo”, “O Pecado de João Agonia” , “A Traição do Padre Martinho”, “O Punho”.

 

Cita-se agora um conjunto de peças agrupadas, para efeitos de publicação, e marcadas por certa circunstancialização no grupo abrangente denominado “Os Marginais e a Revolução”: veja-se “Restos”, “A Confissão”, “Monsanto”, “Vida Breve em Três Fotografias”.

 

E finalmente: Santareno esteve ligado ao teatro de revista, aliás na altura marcante como espetáculo crítico... citamos designadamente três quadros que o próprio autor identificou com designações abrangentes: “Os Vendedores da Esperança”, “A Guerra Santa” e “O Milagre das Lágrimas”.

 

Será interessante esta evocação pois corresponde a uma intervenção dramatúrgica de Bernardo Santareno, que dessa forma até mais cobre o vastíssimo espetro do teatro português.

 

DUARTE IVO CRUZ

EVOCAÇÕES E CELEBRAÇÕES DO CENTENÁRIO DE BERNARDO SANTARENO

 

Serão oportunas as evocações do centenário de Bernardo Santareno (António Marinho do Rosário – 1920-1980) pelo que significam na qualidade e na renovação do teatro português, sobretudo na sua perspetiva mais abrangente.

 

Escritor - dramaturgo, mas também marcante em outras expressões artísticas e literárias: sobretudo, autor de uma modernização das tradições profundas de uma obra teatral conciliatória da modernidade com a tradição poética da dramaturgia e da cultura portuguesa em geral.

 

E mais: a sua atualidade, definida na própria heterogeneidade intelectual e profissional, amplamente justifica e torna justa e oportuna a celebração do centenário, que teve ponto referencial, entre outros mais que aqui evocaremos, no espetáculo comemorativo estreado no Centro Dramático de Viana – Teatro do Noroeste (CDV) segundo referências feitas a propósito da estreia do texto dramático precisamente denominado “Gil, Santareno, Eannes”, a partir de uma encenação de Ricardo Simões, em programação evocativa da Escola de Mulheres de Fernanda Lapa.


E assinala-se que a dimensão globalmente referenciável da própria atividade profissional/criativa do médico António Martinho do Rosário, que assina a sua literatura com o nome de Bernardo Santareno, surge precisamente nessa estreia teatral, no navio em que exerceu a sua atividade profissional como médico, navio depois transformado em museu.

 

Assinalo, nesse sentido, o artigo de Miguel Real, publicado no JL de 29 de janeiro e que cita inclusivé a “História do Teatro Português” de minha autoria (E. Verbo 2001).

 

Miguel Real refere, e muito bem, Santareno como “um dos maiores dramaturgos do século passado (há quem diga ser o maior) não apenas pela quantidade de peças escritas, mas sobretudo pela sua qualidade. O Judeu representado em 1966 no Teatro Nacional, com encenação de Rogério Paulo, é uma das mais belas e culturalmente mais profundas peças escritas em Portugal ao longo do século XX”.

 

 Acrescenta a abordagem da história moderna que a peça envolve, sem embargo da sua evocação e reconstituição histórica, insistimos na expressão, independentemente da interpretação ideológica que envolve, e que evidentemente cabe a cada autor definir.

 

E mais acrescenta que se trata “de uma peça com dificuldades internas acrescidas para ser hoje levada à cena devida às longas falas retóricas dos atores próprias do teatro narrativo da década de 60 em Portugal e ao número elevado de atores (mais de duas dezenas)”.

 

Vale pois a pena acompanhar estas comemorações e reanalisar a dimensão e a qualidade da obra de Bernardo Santareno, tendo em vista designadamente o compósito e a abrangência de géneros disponíveis ao longo da sua vasta dramaturgia de 19 peças, que cobrem uma variedade notável de géneros, estilos, épocas e expressões dramáticas, psicológicas e sociais. E espera-se que a sua relevância seja devidamente assinalada.

 

DUARTE IVO CRUZ