POESIA
II
BICICLETA
Hoje espreitei o barracão, sim, abri a porta e a um canto está a velha bicicleta
e de repente é como se, sim, como dizer
como se uma voz me dissesse,
observa a bicicleta e nota como ela ainda anuncia todo o uso que se lhe deu e ela naquela quietude, leve, tão leve
As coisas são mesmo assim, julgo, as pessoas partem e as coisas ficam que até parece impossível que está tudo no mesmo lugar
que tudo é de certo modo o que é e ao mesmo tempo diferente
mas não posso ficar aqui parada
há muitas bicicletas amarradas a um alçapão e há que as libertar uma vez que o tempo do mundo urge e seguro na minha bicicleta e já decidi que corto naquela rua do medo em direção às realidades que só se fixam ao chão, e é o que são na verdade, rasteiras
e continuo a pedalar cada vez com mais força e graças a isso subo estrada acima, subo, subo até ao topo, próximo tão próximo dos inícios que por esta altura as gentes já saíram para trabalhar, portanto provavelmente o melhor será carregar as horas de bicicletas como esta que pedalo
e os homens irão recordar-se do âmago
e vão regressar a casa pela sua própria página
Teresa Bracinha Vieira