A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
XXI - A TORRE DE BABEL LINGUÍSTICA EUROPEIA E O BILINGUISMO
A União Europeia tem vinte e quatro línguas oficiais: o português, espanhol, francês, italiano, romeno (línguas românicas), o inglês, alemão, neerlandês, dinamarquês, sueco (línguas germânicas), o polaco, checo, búlgaro, eslovaco, esloveno, lituano, letão, croata (línguas eslavas), o finlandês, húngaro e estoniano (línguas úgricas), o grego (língua helénica), o gaélico irlandês (língua celta) e o maltês. Em que cinco línguas se repetem: o alemão (Alemanha, Áustria), o francês (França, Luxemburgo, Valónia Belga), o inglês (Reino Unido e Irlanda), o neerlandês (Holanda e Flandres belga) e o grego (Grécia e Chipre). A que acresce, em toda a Europa, o russo, bielorusso, ucraniano, sérvio, bósnio, macedónio, montenegrino (eslavas), o islandês, norueguês, albanês e o turco, num total de trinta e cinco idiomas oficiais. Em que o alemão, francês e italiano se voltam a repetir (Suíça). Sem esquecer a língua russa (Rússia e Bielorússia), romena (Roménia e Moldávia), turca (Turquia europeia e Chipre), sérvio (Sérvia e Bósnia- Herzegovina) e croata (Croácia e Bósnia-Herzegovina). Na zona euro, temos o alemão, esloveno, eslovaco, espanhol, estoniano, finlandês, francês, grego, italiano, letão, lituano, maltês, neerlandês e português. Em termos populacionais, o idioma mais falado da UE é o alemão, seguido do francês e italiano. A nível europeu, o russo ocupa o primeiro lugar, o alemão o segundo, seguindo-se o francês. Na zona euro, o pódio vai para o alemão, francês e italiano.
É um pressuposto culturalmente aceite que todas as línguas têm, no essencial, a mesma dignidade, merecimento e valor quanto à sua proteção legal, desde logo segundo o pensamento oficial da Unesco. A pluralidade e diversidade linguística da Europa e da UE são uma riqueza, apesar da língua franca e global por excelência (o inglês), ser um meio preferencial e universal de comunicação.
Entre a unicidade sem unidade, a diversidade sem unidade e a unidade com diversidade, importa privilegiar esta terceira via, entre os dois extremos, uma solução de síntese.
Há ainda uma tendência crescente, cada vez mais generalizada e presente, para a afirmação do bilinguismo, através do idioma materno e de uma segunda língua. A coexistência ou uso concomitante de duas línguas por um falante, grupo ou comunidade, segundo exigências do meio em que vivem, ou de situações específicas, conduz ao ensino, oficial ou não, de uma língua estrangeira, além da língua materna. Como segundo idioma, o inglês tomou, nos nossos dias, definitivamente a dianteira, uma língua coloquial e franca. Apesar de ultrapassada, em falantes nativos, pelo russo, alemão, francês e italiano na Europa, pelo alemão, francês e italiano na UE, pelo alemão, francês, italiano, espanhol, neerlandês, grego e português na zona euro. Tendo o Reino Unido optado pela separação da UE (“Brexit”), poder-se-á pensar que o inglês passará a ser uma língua quase exterior, dada a minoria de irlandeses que a têm como oficial. O que não é verdade, dado que em termos globais, nos planos económico, demográfico, científico e político, o que conta é o mundo e não a UE ou a Europa, onde os nativos anglófonos contam com as vantagens e vanguardismo dos Estados Unidos da América.
Afinal, a existência da diversidade, da unidade na diversidade, incluindo o bilinguismo, afastam o regresso à língua única, ao seu mundo monopolizador e redutor, afirmando-se e ouvindo-se cada um na sua própria língua, na sua diversidade e particularidade, mas também numa outra língua, exterior à nativa e materna.
20.12.2016
Joaquim Miguel De Morgado Patrício