Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Existe em nós um estímulo suficientemente luz para nos dar coragem à escolha humana deliberada?
E esse estímulo-luz é a procura da paz que ansiamos a fim de nos perdoarmos por não termos inscrito em nós este desígnio?
Ou antes, ele é a busca de uma religiosidade substantiva, realidade que segura a condição do que é mortal?
Ou ainda e para que nos baste face à lucidez de nos desgostarmos de nós, o estimulo-luz é Deus e deuses, mistérios e milagrosos rezares que abraçam imensamente o coração de quem não crê e de quem crê, e no abraço, a razão da tolerância ao princípio do terreno-conflito comum a todos.
De jeito atrevido diríamos que toda a realidade envolve uma verdade que carece de estabilidade, seja ela o mal que nunca deixa de ser mal ou o bem da boa-fé.
Seja ela o nenhum fundamento da morte ou o entendê-la pela antecipação inegável que há no intuir.
Por aqui também passou o nosso refletir na leitura deste livro e tão pouco foi.
Não será, porventura, da responsabilidade da relativização do pensamento, a consequência dos caminhos múltiplos, nem a sua permanente tentação.
E o diálogo, sempre diálogo a que é intrínseca a ideia de medida.
Os homens identificam normas adequadas à qualidade de vida. É uma conceção moral, é uma linguagem que deve ter em conta as mudanças, é uma linguagem onde nunca caberão as mudanças inegociáveis, as prioritárias no sistema da prudência das hierarquias.
Afinal aquilo que se partilha é sempre o princípio da possibilidade.
É-nos muito grato dizer, antes de mais, que coragem e humildade são boa herança prévia à leitura deste livro.
Gostaríamos de ser capazes de exprimir, o quanto a nossa inquietação e a nossa espera, têm sempre perseguido uma comunhão com uma realidade sagrada sim, porque excedendo-nos, exatamente ao não renunciarmos a ela, à sua busca-testemunho.
Contudo, cremos que ter esta noção envolve o outro que na harmonia entra em cena do connosco comungar. O outro chega até nós numa respiração reveladora de quem é e do que somos.
E seremos nós capazes de compreender quem é que somos? Ou sim, somos capazes sim, se o outro nos olhar, e que nesse olhar exista amor em primeiro lugar, ou se existir a obrigação de nos submeter a algo terrível, também nos é bastante para enfim, nos entendermos connosco no descobrir quem somos.
O reconhecimento de que existimos, o reconhecimento do nosso papel é-nos fundamental, e assim o afirmamos na plena abrangência que envolve o amor aos outros.
Pensamos mesmo que a continuidade da vida e o sentido de um profundo dever, anima-nos até a deixar, até deixarmos que seja o vento, o portador crível, do que nos parece bom para aqueles que venham depois de nós.
Cooperar num esforço comum, sem ambiguidades que valham como razão de comportamento moral, poderá ser uma das razões em que se fundamenta o dever de solidariedade sem que se invoque o transcendente como o caminho que a obriga.
O que é humano, e com ele, o que é condicionado, pode injungir a que valha como profunda razão de atuar, o que afinal se impõe, e impõe como dever ao auxílio do outro que está em nós.
E tanto é o tanto que se pode negociar, entre nós e o nós-outro.
Mas haverá que duvidar desta força humana, na medida em que a sua fragilidade reside no nós que se não aguentará no nosso limite?
E se se criar um espaço, um espaço único ao respeito pela dignidade humana, aquela que é a possibilidade maior do que nós mesmos, maior, no sentido de mais elevada à vida, qual parte de um céu que a nós nos conhece com e sem véu. Já bastará?
Desconhecemos. Somos propensos às questões de fronteira que, também aqui, expõem divergências de fundo. Indisciplinas? Tradições? Batizados? Doutrinas? O culto de Ísis, o verbo atar ou a mão do Papa?
Mas, talvez por isso, eis uma das grandiosas razões singulares:
apenas o diálogo, pode aportar um pouquinho de guia, lá mesmo no muito perto da morte ou da vida plena.
Em Que Crê Quem não crê? (Um livro acalorado e nós)
A coragem é muito notável se com ela examinarmos coisas simples e reconhecermos depois que ainda as não entendemos.
Refletir sobre estas coisas simples sem nos desinteressarmos do passado e dos seus erros ajuda-nos à interpretação humilde do que deixamos atras e do que connosco irá até ao futuro.
Mas vivermos sempre abraçado aos erros é como procurarmo-nos insistentemente distantes de nós, incapazes de descortinarmos qual a razão que nos leva a não abandonarmos o que afinal afirmamos rejeitar e que se encontra, absurdamente, ainda por abrir.
Parece-nos que para iniciarmos um entendimento dos tempos do conhecer em nós, necessitamos que a inteligência tenha uma responsável escolha, desde logo, aceitando que a coragem não é uma espera de um fim humilde com manto de elite.
Para tanto, há que ter piedade nas perguntas; há que ter piedade na suposta consensualidade e mesmo nas denúncias; no julgar; no crer.
Para tanto, há que ter coragem! Coragem para que saibamos discernir quais os valores com os quais estamos totalmente de acordo sem nos alongarmos.
Coragem! para que se conheçam muitas das fronteiras minúsculas do não consenso e ainda assim, aceitar que isso bastará.
Todos, afinal todos, temos de ir um tantito mais longe, sem receio algum dos paradoxos, ou neles não coubesse também um gérmen de verdade.
Enfim, temos de ter coragem para considerar que o acreditar origina equívocos, e que os devemos confrontar na perspetiva do que se espera.
E será que tem prevalecido o sentido simbólico enquanto se anulam as realidades?
E se assim for admite-se a carga utópica como uma reserva de força?
Então aquele medo do futuro que se não confessa, multiplica-se, e a experiência interior que dá a palavra «salvação» tem uma tal amplitude que nos revive em todos os sentidos, incluindo o simbólico, graças!
Afinal é como se o caminho da história da condição humana só tivesse possibilidade de ser encontrado fora dela, mas dentro do simbólico e da esperança, enquanto lugares que consolidam o que afinal tem a energia do que é contingente, do que é aventura por entre as ideias.
Desta forma podemos todos dizer coisas muito parecidas, e, no momento mais dramático do que acontece, deseja-se que a misericórdia se integre em nós, e até na nossa escrita, quantas vezes, indignada? depois da morte de quem parte?
Torna-se então claro o quanto bem carecemos de entender a revelação da nossa condição num fim?
Agora, a realidade será sempre mais importante do que o nome que se lhe dá, mesmo que os nomes possam reconhecer valores comuns.
Mas o nosso exercício ainda está longe de esgotar as coisas simples. Creia-se!
Os nossos pequeninos progressos ainda se balançam entre o simbólico e a realidade enquanto repto.
Em Que Crê Quem não crê? (Um livro acalorado e nós)
Existe uma noção de esperança que para todos signifique o mesmo?
Ou existe um otimismo trágico que também pode ser lido por otimismo da vontade?
Ou que o que existe é um tipo de enfermidade acordada, todas as vezes que o fim dos tempos sopra e à qual também chamamos esperança?
E poderá essa enfermidade ter-se tornado num hábito assente num erro e medita se, medita-se, e vamos fingindo ignorar a não resposta?
E também se pode dizer que se deu a essa enfermidade, um significado espiritual para que ela possua a ideia reguladora de nos julgar, e a nossa engenharia humana, aceita. Aceita porque os nossos medos se acostumam que assim seja.
E desafia-se a força desta esperança enferma, a enfrentar a força dos fantasmas, e ao fazê-lo, deixa de fora a sua irrealidade. Quanto alívio!
Às vezes, existe uma cor nos dias que parece aquela cor da alvorada que nunca existiria e que, no entanto, um tema, um dia inteiro expõe irreverente, com todo o poder do capital da cor que subscreve.
Aprende-se então que a cor tem poder de mando, reconhecida mesmo por aqueles que só se vincularam à razão.
Aprende-se que existe sim, uma noção de esperança, e que para todos não significa o mesmo.
É então chegado o tempo da permuta das razões em liberdade.
É então chegado o tempo do entreabrir de uma das portas do futuro dos homens não resignados com o seu presente.