CRÓNICA DA CULTURA
Fotografia de Isabel Ramos
Encandearam-se com os olhos um no outro.
A rapariga era linda e fresca como só ela.
As cerejas à volta do chapéu, a fazer de brincos e encadeadas a fazer de colares, e nas mãos aquelas a dizer, comei-me.
Ele mudou de cor ao vê-la e chegou-se afogueado qual criança na pureza de algo inteiro.
Era agosto.
Os instintos todos acordados à beira-terra-céu.
Ora bota aqui meia dúzia na minha mão, disse o João Quim tentando recusar-se a olhá-la com desejos.
Dou-te estas com folhas e tudo. Estão ditosas, não achas?
Que lindo, disse enlevado.
O que lhe dizer mais? Faltavam-lhe as palavras. O namoro, contudo, tinha começado, assim, adivinhando-se.
Ao final da tarde encontraram-se no centro da aldeia. As palavras não saíam. Enrolava-se a coragem na língua,
mas sabiam que se amavam.
As cerejas, as cerejas tinham sido a fonte de tudo começar, dizia-se.
Feiticeiras, rubras, tão rubras.
Teresa Bracinha Vieira