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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICA DA CULTURA

  
Fotografia de Isabel Ramos


Encandearam-se com os olhos um no outro.

A rapariga era linda e fresca como só ela.

As cerejas à volta do chapéu, a fazer de brincos e encadeadas a fazer de colares, e nas mãos aquelas a dizer, comei-me.

Ele mudou de cor ao vê-la e chegou-se afogueado qual criança na pureza de algo inteiro.

Era agosto.

Os instintos todos acordados à beira-terra-céu.

Ora bota aqui meia dúzia na minha mão, disse o João Quim tentando recusar-se a olhá-la com desejos.

Dou-te estas com folhas e tudo. Estão ditosas, não achas?

Que lindo, disse enlevado.

O que lhe dizer mais? Faltavam-lhe as palavras. O namoro, contudo, tinha começado, assim, adivinhando-se.

Ao final da tarde encontraram-se no centro da aldeia. As palavras não saíam. Enrolava-se a coragem na língua,

mas sabiam que se amavam.

As cerejas, as cerejas tinham sido a fonte de tudo começar, dizia-se.

Feiticeiras, rubras, tão rubras.


Teresa Bracinha Vieira