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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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NOVA REFERÊNCIA A TAVIRA: AUTORES, TEATROS, CINETEATROS

Cineteatro-Antonio-Pinheiro-Tavira.jpg

 

Como se referiu no artigo anterior, prossegue-se aqui a referência a autores, teatros/cineteatros de Tavira, a partir da exposição sobre a vida e obra de Almada Negreiros, no Museu Municipal da cidade, numa participação da Fundação Calouste Gulbenkian. Agora alargamos as referências de mais textos sobre tradição urbana e cultural da cidade.

 

 Assim, temos José Leite de Vasconcelos a citar “as lindas chaminés artísticas”; Raul Brandão a evocar as “armações de revés” da pesca do atum; a descrição da cidade “poupada pelo terramoto de 1755” feita por Orlando Ribeiro e por aí fora, numa seleção de textos de David Mourão Ferreira (cfr. David Morão Ferreira, “O Algarve” in “Antologia da Terra Portuguesa”, Ed. Livraria Bertrand).

 

Ora em Tavira, para além da mostra que decorre no Museu Municipal, e que referimos na crónica anterior, há que salientar Cineteatro António Pinheiro, num edifício cujas origens ou pelo menos a implantação urbana remonta a 1917. Nesse ano, existia efetivamente um então chamado Teatro Popular que se conservou em maior ou menor condição e atividade, até que em 1968 é reconstruído e modernizado. A Câmara adquiri-o em 2001 e mantem-no em atividade, devidamente renovado.

 

É de assinalar aliás a homenagem que a cidade presta a este grade ator, nascido precisamente em Tavira em 1857 e falecido em 1943, e a sua carreira de comediante não deixa de ser recordada em termo da modernização da arte cénica e como docente do Conservatório Nacional, escola que ajudou a modernizar, no que respeita ao teatro, a partir da implantação do Governo Provisório em áreas então inovadoras, como a Estética de Teatro. 

 

Marcou também uma carreira de renovador da encenação no Teatro de Dona Maria II, mas sobretudo, antes, no chamado Teatro Livre que, nas temporadas de 1904/1905 e no Teatro Moderno, este a partir de 1911, renovaram e modernizaram o teatro então praticado em Portugal. São as primeiras iniciativas do que viria mais tarde a chamar-se de teatro experimental.

 

Na “História do Teatro Português”, Luiz Francisco Rebello cita com desenvolvimento estas intervenções de António Pinheiro na modernização do teatro português. Recorda designadamente as temporadas dirigidas em 1905 e 1908 no Teatro D. Amélia e em fevereiro de 1911, aqui numa comissão sobre o teatro - espetáculo em Portugal, destinada a definir as normas de “reforma e adaptação às novas estruturas sociopolíticas”. Dessa Comissão faziam parte nomes de grande destaque na época - e ainda hoje: desde logo António Pinheiro, mas também Bento Faria, Afonso Gaio, Emídio Garcia e Bento Mântua. E acrescenta Rebelo que “a 22 de maio do mesmo ano é promulgado um decreto que veio restruturar o ensino da arte dramática em termos que fizeram do nosso Conservatório um dos mais avançados estabelecimentos da Europa no seu tempo”. (Ed. Coleção Saber - Publicações Europa América, pág. 114).  

 

Nada mais justo pois que Tavira consagre e mantenha o nome de António Pinheiro no seu Cineteatro.

 

 

DUARTE IVO CRUZ