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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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UM LIVRO SOBRE DOIS TEATROS HISTÓRICOS DE COIMBRA

 

Nesta alternativa de teatros históricos e teatros contemporâneos, seja na arquitetura seja na atividade teatral, remetemos hoje para a evocação de dois teatros de Coimbra, há muito desaparecidos, mas nem por isso menos relevantes na tradição cultural/teatral da cidade, e bem sabemos como ela é vasta e variada... Referimo-nos então ao livro de A.C. Borges de Figueiredo, intitulado “Coimbra Antiga e Moderna”, cuja primeira edição data de 1886, pelo que a “modernidade” tem de ser devidamente reportada!

 

E precisamente: o autor descreve dois edifícios teatrais de Coimbra. O primeiro é o então denominado Theatro Academico, datado de 1839, e considerado pelo autor como “o melhor de Coimbra”: aliás, Borges de Figueiredo data a inauguração de 1840, mas refere que em julho do ano anterior já lá tinha sido apresentado um espetáculo, a cargo de uma Academia Dramática, assim mesmo designada.

 

E mais refere que a tradição vinha de anos anteriores, concretamente de 1836, quando um grupo de estudantes representou o “Catão” de Garrett, já antes estreado no refeitório do Mosteiro de Santa Cruz.

 

Mas em 1861, sempre segundo o mesmo autor, é inaugurado em Coimbra um denominado Teatro de D. Luiz, contruído sobre as ruinas de uma velha Igreja de São Cristóvão entretanto demolida.  O Teatro inaugurou-se com uma peça então moderna, “O Dia da Redenção” de Mendes Leal.

 

E para terminar, citamos a descrição que nos deixou Borges de Figueiredo:
“O teatro não é muito pequeno, mas defeituoso, desprovido de elegância, e suas dependências são muito acanhadas. Para isto de destruiu um dos melhores espécimes que havia não só em Coimbra, mas ainda em Portugal, da arquitetura romano-bizantina”.

 

Não nos ficou imagem destes teatros. Mas vale e pena recordar Coimbra no século XIX...

 

DUARTE IVO CRUZ 

 

(Bibliografia: “Coimbra Antiga e Moderna” Edição Fac-similada, Almedina 1996)   

 

Expressões de tradição e modernidade em Coimbra

Centro de Artes Visuais de Coimbra.jpg

 

A tradição urbana, universitária e cultural de Coimbra abrange a arquitetura de espetáculo e prolonga-se até hoje com expressões de grande valia e modernidade: designadamente mas não só em dois edifícios monumentais e atuais, no sentido mais abrangente de ambos os termos, e isto, sem embargo de um deles ter origem, ainda bem expressa, no século XVI – e referimo-nos, aí, ao antigo Colégio das Artes, onde se iria instalar nada menos do que o Tribunal da Inquisição… mas hoje vemos lá instalado o Centro de Artes Visuais, que enquadrou a companhia teatral denominada “A Escola da Noite”.

 

E muito próximo, em edifício inaugurado em 2006, temos o Teatro da Cerca de São Bernardo - TCSB. Refira-se aliás desde já que A Escola da Noite atuou nos dois edifícios, fixando-se no TCSB desde 2008.

 

Recorde-se entretanto que a tradição teatral de Coimbra é registada pelo menos desde o século XVI, com referências a espetáculos e textos alusivos, por exemplo no breviário do Mosteiro de Santa Cruz ou na chamada “Divisa da Cidade de Coimbra” de Gil Vicente (1527), para culminar na “Castro” de António Ferreira (cerca de 1560).

 

Em 1893 é, entretanto, inaugurado um Teatro Circo Príncipe Real depois chamado Teatro República e depois ainda Teatro Avenida, com camarotes, frisas e balcão, como era próprio da época, e que foi demolido em 1990 para ser substituído por um supermercado… E em 1961, por iniciativa da Universidade, é inaugurado o Teatro Académico Gil Vicente, projeto do arquiteto Alberto José Pessoa, com frescos de João Abel Manta.

 

Vejamos então o Teatro da Cerca de São Bernardo. Trata-se de um projeto do Arquiteto Paulo Ramos: a inovação não colide com a tradição arquitetónica que subsiste próxima aliás tal como ocorre no Centro de Artes Visuais. Isto, insista-se, não obstante a modernidade do edifício do Teatro, marcado por uma fachada quadrangular amarela, sobreposta em cor contratante com o enquadramento retangular.

 

TCSB.jpg

 

O interior comporta duas salas de espetáculo unidas para efeitos de circulação por uma série de pequenos “viadutos”. O projeto do edifício é dominado por um paralelepípedo ligado em arco, e integra-se harmoniosamente na área urbana, beneficiando aliás (e vice-versa…) com a proximidade do Centro de Artes Visuais.

 

E referimos então essa proximidade com o Centro de Artes Visuais, independentemente da expressão arquitetónica epocal e da tradição funcional do edifício, que domina também a zona urbana e reforça a sua tradição histórica e artística, pelo menos desde 1548 quando por ali também funcionou, como já vimos, o Colégio das Artes.

 

O contraste arquitetónico, estilístico, funcional destes dois monumentos teatrais, chamemos-lhes assim, marca bem a adequação e a intemporalidade, no que refere também a atividade do espetáculo.

 

 Pois, tal como escreveu Guilherme d’Oliveira Martins, no Prefácio de um nosso estudo:

“Os Teatros são lugares da vida. Foram-no desde sempre. E se o teatro como arte e atividade humana permite, desde a antiguidade, um melhor conhecimento da pessoa humana (ou não fosse a palavra pessoa derivada do grego prosopon, que significa personagem dramática no sentido de máscara teatral) a verdade é que estamos perante um domínio em que a memória e o património, a história e a cultura, o ser e a representação, a liberdade e a necessidade se ligam intimamente. Estes lugares de vida permitem, desse modo, compreender melhor a essência do património cultural e da sua importância fundamental”. (in “Teatros em Portugal - Espaços e Arquitetura”, Ed. Mediatexto e Centro Nacional de Cultura, 2004).

 

DUARTE IVO CRUZ   

 

 

 

BIBLIOGRAFIA BASICA SELECIONADA
"Habitar Portugal - 2003/2005" - ed. Ordem dos Arquitetos - 2006
Revista "Monumentos" ed. DGEM Setembro 2006

A.C. Borges de Figueiredo - "Coimbra Antiga e Moderna" ed. Almedina - 2006
Duarte Ivo Cruz - "Teatros em Portugal - Espaços e Arquitetura" Prefácio de Guilherme d'Oliveira Martins - ed. Mediatexto e Centro Nacional de Cultura, 2008