Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
A viagem pode tornar-se sem sentido e a existência um equívoco.
A preferência pelo imediato e pelo descartável identifica as sociedades em que a leitura e o pensamento crítico não existem.
Uma sociedade que não lê não consegue interpretar nem se sabe desafiar e enfim de si mesma não evolui.
A ideia de que tudo deve ser fácil, descomplicado e imediato, contribui para a exclusão dos estímulos num contexto de expressões culturais mais exigentes, gerando cidadãos não preparados para a complexidade.
Vive-se no espetáculo e no entretenimento; vive-se num mundo em que o afeto só é verdade se exposto; vive-se numa realidade que deve impactar o que não causa descoberta ou aprendizagem, num dia-a-dia em que se nivelam padrões de mediocridade e se negligenciam as experiências formativas de qualidade.
E tudo isto parece importar pouco.
E tudo isto forma gentes submissas; gentes que caminham de trela curta num show de obediências ao sistema que as sufoca.
Deste mundo, ausente a liberdade, restando apenas o jogo infantil que se propõe ganhar todos os jogos vãos.
E eis uma multidão mimética, intoxicada e iludida em totalitarismos que a prendem a uma teia que não detestam.
E eis que a viagem pode tornar-se sem sentido e a existência um equívoco.
E eis que se sonha ser senhor comportando-se e contendo-se como escravo.
Vence a preferência pelo imediato e pelo descartável na luta de todos contra todos?
Vence a mercantilização dos valores reunidos num único organismo?
Uma coisa é aceitar o risco de morte, outra é aceitar a morte.
O mundo é bolha mutante, não o podemos tomar como garantido.
Tendemos a viver dentro de uma imagem de sociedade e insistimos que é assim: o mundo é assim e não outra coisa.
Mas um dia, e de um segundo para o outro, desaparece-nos o que considerávamos ser a nossa vida real e o que nela tínhamos por seguro. De súbito, somos nós as mariposas pregadas à parede, e assim nos morre a inocência juntamente com a sensação de segurança, forte hábito que nos impediu de ver as criaturas esvoaçantes que constituem os factos.
Na verdade, existem realidades incompatíveis e em colisão, onde a liberdade de um homem é o imperialismo de outro; onde a idílica família tem gente malvada; onde somos irrecuperavelmente magoados e magoamos outros, e debandamos para escarpar, levando-nos para as viagens nas quais vamos construindo a nossa versão de nós.
Na verdade, nós nunca paramos de mudar, a nossa própria metamorfose foi a nossa grande constância, a nossa grande discordância.
Tudo mutante.
Então, um dia, é natural que a nossa vida real se altere.
O mundo no qual confiávamos enfrenta-nos, expondo-nos a batalha das instabilidades, das fadas mortas, das trapalhadas entre realidade e ficção, das casas-castelos de deuses, das dúvidas e dos medos, das celas do ninguém te diz porquê, das guerras pulverizadoras de sangues, e por entre linguagem e silêncio, a nossa perceção da condição humana.
Assim, desde o nosso primeiro dia, somos viajantes-mutantes, e vale a pena dizer que as artes nos possam dar sempre impermanência, pois através delas está o mundo que é só delas e o de todos num sumo, ou a sua expressão não tivesse a ver com o enigma, aquele que se senta e aprende aos pés do que muda persistindo.
Na dimensão pessoal, Stuart Mill trata do indivíduo e do seu florescimento pessoal e aponta-nos o quanto encontrar amigos, uma profissão, ler, assistir a um espetáculo, viajar, conhecer o rumor redondo do mundo, tudo são encontros que nos acontecem e que nos serão guia para um aprofundamento único do que vivemos.
Mas as adversidades com que nos deparamos são também encontros: a doença, a morte, o envelhecimento, a desilusão como tudo o que nos sucede, faz parte de um reunir ao qual nós nos deveríamos adaptar sem obediência ou rejeição.
Ajudar-nos-á sempre um disciplinado e melhor conhecimento de nós próprios, do nosso poder, da nossa autocrítica, do nosso entender, do até onde poderemos ou conseguiremos ir.
Procurarmos para nós e para os outros uma comunidade de esforços que nos humanize pressupõe que tenhamos consciência da nossa inumanidade.
Encontramo-nos uns com os outros face a diferentes realidades é encontrarmo-nos também com a alegria, e como nos diz Espinosa «A alegria é a passagem de uma menor a uma maior perfeição.» e existem muitas características na Primavera que nos alertam para aspirarmos a desenvolver essa alegria que é parte de uma totalidade que nos incrementa a vontade de viver.
Para vivermos com a serenidade possível, o percurso não é o da obediência a normas morais, religiosas ou outras, nem é a sua rejeição , é um aprofundamento da nossa natureza e da nossa dignidade enquanto poder de escolher como viver.
Há sempre algo a conhecer na força exigente da Primavera, e não devemos entendê-la apenas como esperança pois ela vem de dentro do seu esforço, o que nos revela o quanto devemos agir e exigir e existir em ato.
Vivamos este grande momento: é Primavera! Ensaiemos compreender o seu segredo pontual e imprescindível.
A indiferença é também uma escolha, e como qualquer escolha pode ser substituída por outra.
Cada um tem uma relação pessoal com a pandemia da indiferença, com ou sem alma, com ou sem máscara, com ou sem vacina, com ou sem febre, com ou sem expetoração.
Cada um esmaga o trailer da indiferença para que o mesmo não tenha êxito no alerta à generalização desta lepra pois que lhes pode colocar em causa uma sobrevivência tranquila e inconsciente q.b. face à banalização do mal.
Tragicamente, a indiferença tornou-se socialmente aceite pelos humanos, ainda que um dia, um dia sempre alguém pensou que se iria aprender de uma vez por todas as lições virtuosas que à saída dos vários tipos de confinamentos da vida de cada um, emergiriam e fundariam sociedades mais bondosas, menos gananciosas e beneficiárias de um novo idealismo qual arma portentosa que imaginaria o bem a sair do mal.
Contudo, as pessoas estão demasiado ocupadas a não morrer no desconforto e, em consequência, só trivializando o mal conseguem atingir a capacidade de sobrevivência que entendem bastante à vida digna.
Em consequência, nem se retiram lições da enfermidade da indiferença antes se anui que ela faz parte da tragédia humana, e nesta aceitação reside enfim a capacidade de se viver num nível inferior ao que dizemos rejeitar.
A indiferença é também uma moléstia politizada que omite o quanto a infelicidade do Homem face ao seu próximo e a si mesmo não reivindica absolutamente que um outro mundo possa nascer.
Mas a indiferença é a verdade relevante.
Se a indiferença continuar a deixar descendência, o pior do que somos capazes, continua a revelar-se numa total falta de saúde mental; numa gigante molenga de almas heroicas que só negoceiam rendições.
Mas qual a razão que leva a indiferença a persistir?
Em rigor, vivemos num mundo que nos bombardeia com tragédias que nos podem levar à insensibilização. Igualmente, o individualismo exacerbado coloca qualquer necessidade pessoal acima do bem comum, apesar de estar bem provado o quanto a prática de atos altruístas beneficia o próprio bem-estar de quem os realiza.
Enfim, cremos que a indiferença não é necessariamente inevitável, a indiferença é também uma escolha, e como qualquer escolha pode ser substituída por outra.
Talvez lembrarmo-nos que aceitar a indiferença é aceitarmos um horizonte em que a nós chegará a vez de não sermos importantes para ninguém.
A realidade não se transforma se nós não nos transformarmos, e vivermos a vida entre muros a fim de nos protegermos, é renunciar ao mínimo ético de liberdade, e o nosso mundo mirra, mirra e nós dentro dele estamos condenados a desaparecer numa multidão de indivíduos solitários e prenhos de patologias narcísicas.
Ir perante o outro como semelhante implica trocar de posição com ele e habitá-lo por forma a conciliar limites que o respeitam e nos conciliam com os nossos próprios desígnios.
Por aqui, ir por aqui, é ir pelo amor de encontro ao caminho de saída.
“O oposto do amor não é nenhum ódio, é a indiferença (…) o oposto da vida não é a morte, é a indiferença.” Elie Wiesel
Será que não nos vemos uns nos outros e por isso não nos sabemos prometer?
A indiferença é a maior doença social do mundo de hoje, é mesmo a única que nos implora para que deixemos de ser neutros.
A indiferença é não dar à vida o que ela tem de especial, o que nós temos de expectativa em relação a nós próprios, e é ferir de morte a coesão de todos.
Está provado que a nossa demonstração de indiferença é uma das atitudes mais dolorosas que podemos projetar; é mesmo levar a uma pessoa o claro sentir de que ela não existe para nós, e pouco há de mais cruel.
Que estejamos felizes ou tristes, seja a mesma coisa para outros, é uma dor inexplicável do nosso sentir de encontro ao nada.
Vivem-se as inúmeras notícias de tragédias num individualismo exacerbado pela insensibilização que sempre se distanciou do bem comum.
Educar as novas gerações para a importância do coletivo, envolvê-las em causas comunitárias, em gestos de empatia e escuta do outro, não seria mais do que salvá-las da sua própria já mirrada condição.
Embora frequentemente subestimada, a postura passiva perante os problemas alheios, tem consequências devastadoras no tecido social, e numa era em que a informação está acessível a todos é mais alarmante e incompreensível por que insistimos em ignorar o sofrer alheio.
Não é inofensivo desviar o olhar, e também não é inofensivo o silêncio cúmplice perante as injustiças flagrantes que só perpetuam desigualdades, normalizam sofrimentos e nos desumanizam a todos.
Em grande parte, a apatia generalizada decorre sempre de almas não livres, almas de pus que nem reconhecem a inocência.
Não há que fundar mais religiões para as colocar no lugar do mundo de onde o significado partiu. Todos podemos ir além do possível, esse é o projeto.
As pandemias sempre deixaram as pessoas muito assustadas, e entre a porta da vida e a porta da morte, nada como tornar as pessoas propensas a abraçar soluções mágicas
Ainda que seja estranho pensar que o bem sairá do mal e que nós como espécie ressurgiríamos bondosos e rendidos a novas promessas por efeito da pandemia, a verdade é que os líderes autoritários e cínicos deste mundo, não desaproveitaram tempo e politizaram o vírus e ridicularizaram a ciência e desprezaram os feridos e não enterraram os mortos.
Foi um tempo certeiro para colocar as solidatriedades em xeque e deixar tudo ficar sob ameaça, inclusive as instituições mais credíveis para nossa derrapagem descontrolada e para seu controlo a cadeado.
Muitas foram também as divisões que provocaram em inúmeros pontos do mundo as quais agora são usadas a favor deles. Não será exagero afirmar que criaram abismos e ódios para que as pessoas se desentendessem e desprezassem.
Eis uma das grandes vitórias das teorias da conspiração.
Enfim, reparar os danos que estas pessoas provocaram e continuadamente provocam não será nada fácil.
Recuperar sem medo a nossa antiga vida social tem-se mostrado difícil depois da pandemia, o que os beneficia, diga-se, já que nós, mais isolados, teremos menor debate de ideias, menos informação e seremos mais frágeis.
Contudo, o processo destes líderes vai-se tornando óbvio: utilizam as próprias instituições democráticas para as destruírem de dentro para fora progressivamente.
Assim, quando ascendem ao poder tentam bloquear todos os acordos e todas as relações multilaterais. Trata-se de um processo, como de forma precisa bem definiu Stefanie Walter, é um processo de “desintegração baseado nas massas” e é assim referido porque normalmente se sustenta num forte apoio interno que aplaude o líder político como divindade.
Outra das suas máximas, é que o Estado não tem de se ocupar de nada.
Para estes líderes, a desigualdade é absolutamente natural pois defendem o darwinismo social, ou seja, acreditam na premissa de que existem sociedades superiores, e as que intelectualmente e fisicamente sobressaírem, devem ser as que governam, enquanto as sociedades menos aptas não devem ter função pois não acompanham as linhas evolutivas da sociedade segundo as suas posturas algorítmicas.
Recorde-se que um destes autoritários políticos chamou aos direitos humanos o “esterco da preguiça”.
O sentido de palavras como estas que se referiam aos direitos humanos, atenta ao perigoso surto pandémico e ao aumento inesperado de infetados desta medonha doença que circula hoje no mundo, e cuja vacina única reside na cultura e na educação, realidades que a melhor mente não fabrica em laboratório, nem a melhor técnica quântica expande.
Todavia, entre a porta da vida e a porta da morte, e face ao rugido do mundo, saberemos como se pode encontrar caminho para que a vida imaginada possa crescer.
No futuro, no já presente futuro, podemos questionar o quanto a linguagem ainda abarca em liberdade aquilo que consideramos uma estrutura imprescindível do pensar e do sentir.
No futuro, no já presente futuro, como pode o espírito proteger-se quando o potencial de danos entra em contacto com uma realidade que quer fazer-nos adaptar à confusão das inverdades?
Acreditamos que o potencial nocivo que pode tornar as formas de comunicar muito difíceis é agora uma prioridade a tratar e todos os avanços devem ser saudados.
Precisamos tanto da notícia, da boa notícia que muitas das questões que nos absorvem estão a ser melhoradas, desenvolvidas pelos investigadores de todo o mundo, de modo que afinação e controlo façam a diferença, proporcionando níveis de robustez e fiabilidade hoje ainda impossíveis.
Só com descobertas de novas confianças que não releguem os humanos, na melhor das hipóteses, para o papel de mera supervisão, é que a própria função da IA fica mais clara.
Conforme a capacidade de escrever e usar a linguagem, a humanidade cumprirá a sua história não inexoravelmente submetida ao domínio de quem controla as máquinas.
Lembremo-nos sempre que apesar dos superpoderes dos computadores, eles não possuem memória deles próprios e por isso não acedem.
E, entretanto, entretanto, que se mantenham emocionantes as ressonâncias da linguagem, daquela mesma que já no antes foi para além.
Não se desejam democracias supostamente aperfeiçoadas até ao adormecimento de quem não zelou pela exclusão, pela violência, pelas voltagens das diferentes culturas de humanos como nós.
As democracias existiram e existem para serem cuidadas e acordadas o suficiente para que nelas não medrem os silêncios brancos.
As democracias não se desenvolvem no isolamento do não escutar outros mundos, nem se podem envolver em mistérios que não descodificam erros graves não os denunciando, nem criando alternativas de correção, e não podem, nem poderiam as democracias deixarem-se constituir como meras periferias de natureza e cenários.
Todos os que para essas democracias contribuíram, são os mesmos que lhes reforçaram a fragilidade sob um aparato jurídico que as limitou desde a primeira hora.
A democracia por si só não é garantia de liberdade e a sua essência sempre dependeu da cultura e do desenvolvimento dos povos no aprendizado.
As democracias possuem vínculos irrompíveis e todos nós lhe sentimos a liberdade possível a entrar por aquela janela que nunca se fecha ao radar atento à descoberta que faz dos homens uma noção mais disponível.
Certo é que os homens têm de assumir a responsabilidade de se deixarem convocar pelo mais inóspito que se agarra à mochila das democracias, e descobrir a razão da não luz, e levá-la até onde se possa resolver por empenho e surpreendente passo a passo o que se permitiu que enquistasse.
E a democracia é também o reconhecimento da oposição.
E a democracia existe quando é possível o sim e o não, ou seja, quando nos podemos condenar, mas também salvar-nos.
E aquí a fundamental esperança de Aranguren - Nadie connoce al ombre, nadie puede sondarle en su corázón, pero debemos creer en él y esperar de él.
Todavia, nunca descuremos que o ambiente molda o caracter em maior dimensão do que o património biológico, como nos diz Kerstin Bergman, e não é possível eleger entre a violência e a pureza, mas sim entre distintos tipos de violência como bem afirmou Merleau-Ponty.
Na verdade, apela-se à violência e à não violência, quando ambas não se reconhecem como tal porque se autojustificaram e institucionalizaram pela lei dos homens, afastados do conhecimento de si, e nesse “si”, a violência primária e nua encapotada sob o manto do direito e da moral.
Há muito que a não-vida fez parar mentalmente as gentes que só se identificaram com elas próprias, e são essas mesmas gentes que seguem os guionistas como se segue um vício pardo, mas metastático.
O laisser faire permitiu os negócios de proteção de grupos para privilégio real de uns poucos, sem se procurar uma resposta de moralização democrática, a partir da desigualdade provocada nos cidadãos por estas mesmas realidades.
Mas registe-se que fora do espaço da democracia até o direito natural se converte num instrumento político ao serviço da ordem estabelecida.
E também certo tipo de religiosidade, quando se sente ameaçada pela secularização própria dos nossos dias, reage constituindo-se na base de muitos fanatismos.
E diga-se que as democracias permitem, enfim, que um sistema de vasos comunicantes funcione.
Todavia, para isso acontecer em consistência, não nos esqueçamos de corrigir as nossas inúmeras omissões aos avisos de entupimento desses vasos comunicantes, nomeadamente sabendo o que constitui a integração social, indispensável realidade para a estabilização de todos os excluídos, os sem oportunidades, os desprovidos da possibilidade do uso dos direitos, enfim, todos aqueles para quem a repulsa pela democracia ou por um extremismo qualquer lhes é absolutamente indiferente.
Ao contrário do que muito se afirma, não estão os bons de um lado e os maus de outro, para se condenar uns, e para que se possa canonizar outros, só a minimização moral sem sustentação na mais ínfima realidade, concede.
Não há maus sem mescla de bons nem bons sem mescla de mal algum, mas a situação extremada de ambos constitui a suprema responsabilidade de todas as maiores violências, de todas as ambiguidades, de todas as submissões ao poder de quem tem, em valor monetário, o mesmo que um orçamento de um estado soberano, e ainda promete oferecer a todos um teto para uma existência ajoelhada.
Só o homem aventureiro que renuncia a este amparo submetido, se entrega ao risco de um heroísmo solitário, esse mesmo que todo o homem generoso transporta em si, colocando-se fora desta nova lei, não enquanto bandido, mas recusando o colaboracionismo assente nos caídos que cederam ao cansaço, ou os que habitaram a ignorância não sabendo desde quando assinaram o contrato. Este o tema de Albert Camus no seu livro Os justos.
As democracias estão confrontadas por uma polarização aberrante. As redes sociais provocam indizíveis disfunções. Os algoritmos estão projetados para que as pessoas cliquem e cliquem e cliquem, pontuando nas bitcoins, ou a facilidade do poder ao dinheiro não fosse a base da nova e opulenta sociedade, a mesma que diz respeitar os sentimentos numa nova fórmula sem qualquer emoção.
Mas como a grande aventura continua a ser a interior
Nestes tempos confusos em que se admira mais a bravura física do que a coragem moral há um mundo que visa criar o caos adubando o medo. Um mundo absolutamente consciente da sua mentira; um mundo de insignificância que troça dos pensadores que teme; um mundo que promete segurança, abrigo, justiça e prosperidade, no maior desprezo pela verdade do que é humano; um mundo que só lhe interessa não valorizar o que até hoje se alcançou para em tudo semear ambiguidade e incerteza, utilizando as redes sociais num obsceno jogo de comando, através do qual a liberdade vai sendo eliminada e os seres semelhantes a térmitas, mil vezes multiplicados.
É um mundo que nenhuma cultura merece.
Um mundo bruto que defende os muros farpados, o não entendimento da diferença, um mundo que compra com alegria a ignorância a preços baixos.
Chegaram estes tempos confusos com a ajuda do culto do eu, e dentro desse eu, cada um, supostamente sacerdote de si, aprisionado na era dos meios digitais, e como se já antes desta era, por cima do ombro, estes eus se tivessem compreendido nas suas pequenas verdades; como se o narcisismo dos eus não fosse tóxico e capaz de contar apenas a história que desejam ouvir e transmitir.
Na verdade, aqui chegados, muitos ambicionam entrar em cena na procura do poder a fim de concretizarem a sua única vontade, inclusive, tripulando naves que só eles conhecem destino, colapso ou emergência.
Entretanto invoca-se a criatividade, e as start-ups prometem também a ressurreição!, qual falácia agitada e organizada da nova termiteira.
E encontramo-nos quando tiramos a máscara que usamos diante de todos?
O que encontramos por trás da máscara?
Um somos ninguém? ou um pouco do alguém?
Quando criámos uma alternativa de soluções eficazes aos desafios que encontrámos?
Quando?, quando ideias materializáveis foram contributo às perguntas sem resposta?
Quando a aventura humana se confundiu?
E hoje, hoje temos convicções suficientemente sólidas para lutarmos contra quem quer destruir a capacidade delas se formarem?
Está a chegar um novo ano e já vimos demasiadas coisas.
O herói de uns é o vilão de outros, e anda muita gente desorientada sobre o que significa ser bom ou ser melhor.
Até já se desconfia daqueles que tomam posições contra o abuso de poder ou de dogmas.
E nem sempre foi assim.
E nem sempre foi assim.
E muitas vezes já foi assim.
E muitas vezes já foi assim.
As ondas da história fazem-se sempre ao redor de uma rotunda, mas também podemos ser, de repente, algo poderoso que acontece:
Volto a recordar o jovem rebelde que ficou em pé frente aos tanques na Praça Tiananmen.
E desde então nada se compreendeu?
Não estar morto não é tudo o que há a celebrar!
Fará sempre parte da nossa tragédia apenas colocar as culpas nos outros, minimizar os perigos reagindo demasiado tarde, ridicularizar a ciência, politizar doenças, relativizar a não-vida enquanto por entre tudo, uma primitiva manipulação já obteve êxito na criação de abismos de ódio entre os homens.
E não é fácil descortinar como esses abismos serão ultrapassados.
Quem toma por garantido deseja que nada aconteça depois disso: que não exista um tu vivo, um tu que sinta, pense e fale.
E não é fácil explicar o facto de não se saber coisas e é inexequível exprimir o facto de se não saber o que é saber.
Nas grandes tragédias humanas sempre esteve o comportamento do pior da nossa natureza, esse mesmo que se expande no obscurantismo das multidões fanáticas, na crueldade como seu traço distintivo.
Há de novo um mundo que pretende reinar destruindo tudo o que existe para dar início às versões dos messias titânicos que já vestem o nanismo do futuro do outrora.
Mas recuperadas forças e estupefações, a luta pela vida digna provará que o rugido de um mundo não ensurdece o de um outro onde vive um azul superior.
Os guias apontaram para um estranho animal no cimo das árvores e exclamaram «Indri» já que esta palavra significa «olhe para aquilo» e foi entendida a palavra «Indri» como sendo o nome local do animal.
Rezava a história que se se atirasse uma flecha contra estes animais, eles a apanhariam no ar e devolviam-na à procedência com pontaria certeira, e assim geraram-se as histórias sobre o Indri e estabeleceu-se um lugar do Indri na evolução dos grandes mamíferos, concluindo-se que humanidade e indris são aparentados.
De muitas das criaturas da Terra esta é uma das mais raras e cativantes e mesmo que as lendas sejam difusas, eu gosto de pensar que são de excelente clareza.
Acresce que, segundo a lenda, os indris reconheciam uma relação com os humanos, pois ajudavam muitas vezes a humanidade, nomeadamente com o seu uivo avisavam as aldeias da aproximação de ladrões.
Os indris são muito afetuosos entre si, passam horas a acariciar-se em gestos de grande proteção e parecem muito humanos, com proporções entre a medida das pernas e do peito muito próximas de nós.
Vivem os indris numa parte das florestas orientais de Madagáscar, florestas que estão a desaparecer, vítimas de incêndios e desflorestações devido a atividades de minério.
Em cativeiro os indris têm dificuldade em sobreviver e assim esta espécie fabulosa está ameaçada de extinção.
O Indri é o maior lêmure que se conhece. Todavia, o caminho entre os humanos e eles divergiu há milhões de anos, mas há uma conexão impressionante: os Indris são dos poucos mamíferos que cantam, criando mesmo coros nas copas das arvores que ecoam por muitos quilómetros.
Contudo, os indris deixam de cantar em cativeiro e apenas piam em constantes gritos de alarme.
Que a interpretação desta realidade, manifestação de sentir, faça parte do nosso círculo moral; que seja analisada com a riqueza de quem no mundo respeita a vida e a casa que todos partilhamos neste planeta; que em paz, esta aventura da existência, inimitável e extraordinariamente comovente esteja na base do nosso mais completo compromisso.