Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Jürgen Moltmann, o grande teólogo protestante com quem tive o privilégio de conversar mais de uma vez em Tubinga, que faleceu no ano transacto, escreveu que, na juventude, feito prisioneiro, na Segunda Guerra Mundial, embora não sendo particularmente crente e o que mais lhe apetecesse era comida, o que o capelão lhe ofereceu foi o Novo Testamento. Leu-o e, a partir da experiência dramática por que estava a passar por causa do Nazismo, percebeu que ou Deus não existe mesmo ou então o Deus verdadeiro é o que se revela em Jesus Cristo pregado na cruz para dar testemunho da verdade e do amor incondicional. E foi dessa experiência que partiu para o estudo da Teologia, tendo escrito obras que a marcaram no século XX: O Deus crucificado e Teologia da esperança, entre outras.
Com o terramoto de Lisboa, aconteceu um sismo no pensamento europeu, que abalou os grandes intelectuais. A famosa Teodiceia de Leibniz afundava-se. Como é que este podia ser o melhor dos mundos possíveis? E como pode a razão finita justificar Deus frente ao mal, pois é isso que pretende a teodiceia? O mal físico talvez seja explicável; mas como compreender o mal moral? Porque é que não somos sempre bons e, pelo contrário, criamos infernos de desumanidade? Há aquele enigma que amargurava São Paulo: “Ai de mim, que sou um homem desgraçado, pois faço o mal que não quero e não faço o bem que quero!”
A brutalidade do mal, que nos faz gritar e nos esvazia a capacidade de pensar, tem uma expressão terrível num passo célebre de Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévski, quando Ivan refere a tortura exercida sobre as crianças. Ele conta a história estarrecedora de um menino de oito anos que, um dia, quando se divertia a arremessar pedras, feriu na pata um dos cães favoritos de um antigo general, tendo, por isso, de passar a noite na masmorra. No dia seguinte, arrancado à mãe e completamente nu, é obrigado a correr. Como se de caça se tratasse, o general lança sobre o miúdo toda a matilha, perante o olhar aterrorizado e impotente da mãe.
Ivan diz que precisa de uma compensação, pois de outra forma destruir-se-á. Mas quer que ela seja aqui em baixo, “uma compensação que eu veja”.
Ele quer estar presente, “quando todos souberem o porquê das coisas.” Mas como compreender qual possa ser o papel das crianças que sofrem para concorrerem para a harmonia eterna futura? “Compreendo a solidariedade do pecado e do castigo, mas não se pode aplicá-la aos inocentes”, diz.
No final da História, Deus revelará os seus desígnios, e tudo ficará iluminado. Ivan recusa-se, porém, a aceitar essa harmonia superior, uma vez que não elimina o horror do sofrimento das crianças. “Acho que não vale uma lágrima de criança”. Ele não quer, portanto, entrar nessa harmonia última, pois o seu preço é exagerado. “Acho melhor devolver o bilhete... E é o que eu faço. Não me nego a admitir Deus, mas devolvo-lhe respeitosamente o meu bilhete.”
O mal é o espinho cravado na fé do crente. Perante o horror do mundo e face à morte, não se sabe quantas pessoas, se fosse possível escolher vir ou não à existência — claro, é um pensamento-limite e, em última análise, absurdo —, teriam escolhido existir.
Quem algum dia foi a Auschwitz fica estarrecido, mudo, sem palavras. Ali, é o horror pura e simplesmente. Mas também houve generosidades puras e quem caminhasse para as câmaras de gás com uma oração nos lábios.
Quem nega Deus também é confrontado com a pergunta dilacerante do mal. E é necessário tomar a sério o ateu e a sua convicção. Ignacio Sotelo, o filósofo espanhol agnóstico, escreveu numa troca de cartas com o teólogo J. I. González Faus, recentemente falecido: “a vida é uma luta que, por muito que nos esforcemos, está perdida à partida – desapareceremos no nada e os verdugos continuarão a dominar – e, no entanto, sustenta-nos a convicção de que não podemos abandonar o combate sem nos aniquilarmos a nós mesmos. Viver é lutar pela justiça, sabendo que a batalha está perdida à partida e que não podemos abandonar o combate.”
O crente que sabe o que quer dizer a fé participa no mesmo combate pela justiça. Mas ousa entregar-se confiadamente ao Mistério último de Deus. A História do mundo é um processo que ainda não transitou em julgado, e o crente confia, sem ingenuidade e convivendo com a dúvida, em que o juízo definitivo será de salvação para todos.
Na Sexta-Feira Santa histórica de há dois mil anos, Jesus, inocente e condenado como blasfemo e subversivo, morreu a rezar esta pergunta in-finita que atravessa os séculos: “Meu Deus, meu Deus, porque é que me abandonaste?” Mas as suas últimas palavras foram de esperança confiada no Mistério da Bondade radical: “Pai, entrego-me nas tuas mãos”.
Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia Escreve de acordo com a antiga ortografia 12 de Abril de 2025
Vivemos tempos de catástrofe, por vezes incompreensíveis, fugidos à razão, como se o mundo tivesse derivado para manicómio perigoso, ameaçado e ameaçador.
Que fazer? É preciso manter alguma serenidade e, claro, pensar, sem esquecer também o que disse Kant: para aliviar as agruras da vida, o Céu deu-nos três coisas: “a esperança, o sono e o riso.”
Sim, e aí estão a ironia e o bom humor.
O Papa Francisco, mesmo na sua presente doença, na qual esteve à beira da morte, não esqueceu o bom humor, de que sempre se socorreu. Ele reza todos os dias, aconselhando-a a todos, a Oração do bom humor, oração de São Tomás Moro, o filósofo autor de A Utopia, o ex-Chanceler do Reino que não se esqueceu de levar a gorjeta para o carrasco que ia decapitá-lo. Francisco recomendou-a também aos membros da Cúria Romana, onde tem tantos adversários e até inimigos, a quem falta o bom humor divino. Ei-la:
“Dá-me, Senhor, uma boa digestão e também algo para digerir. Dá-me um corpo saudável e o bom humor necessário para mantê-lo. Dá-me uma alma simples que sabe valorizar tudo o que é bom/ e que não se amedronta facilmente diante do mal, /mas, pelo contrário, encontra os meios para voltar a colocar as coisas no seu lugar. Concede-me, Senhor, uma alma/ que não conhece o tédio,/ os resmungos,/ os suspiros/ e as lamentações,/ nem os excessos de stress por causa desse estorvo chamado ‘Eu’. Dá-me, Senhor, o sentido do bom humor. Concede-me a graça de ser capaz de uma boa piada, uma boa piada para descobrir na vida um pouco de alegria/ e poder partilhá-la com os outros. Amém.”
Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia Escreve de acordo com a antiga ortografia 5 de Abril de 2025
Na crónica anterior, reflectimos sobre o cuidado. Ora, a saúde está intrinsecamente vinculada ao cuidado. Viver é ser cuidado, é ter cuidado, é cuidar. Cuidar de nós, cuidar dos outros — a solidão mata —, cuidar da natureza, dos amigos — a vida sem amigos não presta, já observou Aristóteles —, cuidar da natureza, cuidar do Sagrado, da Transcendência, do sentido, Sentido último... Significativamente, o étimo de saúde é salus, salutis, que está na base também de salvação... E também dizemos que alguém está são, utilizando a mesma palavra para santo — por exemplo São José.
Vamos, pois, continuar a reflexão, retomando reflexões anteriores e chamando, desde já, atenção para que, quando se fala de saúde, devemos fazê-lo no sentido holístico (do grego, hólon: todo enquanto mais do que a soma das partes). No inglês, saúde diz-se health e santo diz-se holy, provindo as duas palavras de the whole — de novo o todo enquanto mais do que a soma das partes.
A saúde tem, portanto, um carácter pluridimensional. No sentido autenticamente humano inclui vários níveis:
a) a saúde somática: o bom estado físico, portanto, um organismo capaz de desempenhar normalmente as suas funções;
b) a saúde psíquica: autonomia mental para enfrentar as dificuldades do meio e capacidade para estabelecer relações gratificantes interpessoais e com o ambiente;
c) a saúde moral: se não se cuida da honra, da dignidade, da justiça, dos valores éticos— não se deve ignorar que valor vem do latim: vale!, que era a palavra usada pelos romanos para a saudação: vale!, passa bem,! —, o que se poderá esperar senão a hecatombe?
d) a saúde sócio-política: se não se cultiva uma política autêntica do diálogo leal para o bem comum e não da pura conquista do poder e interesse próprio, se não se cuida do cumprimento integral dos direitos humanos, da educação, da justiça, do meio ambiente, da habitação, da alimentação, da harmonia social, da saúde pública, como salvaguardarão as pessoas a sua saúde e a saúde dos outros? No meio dos horrores indescritíveis das guerras e da fome, onde e como poderão encontrar a saúde?
e) a saúde ecológica: se o homem é solidário da biosfera em geral, a sua saúde dependerá também da saúde ambiental: ar puro e não-contaminado, água limpa, ambiente belo, sem poluição sonora;
f) a saúde espiritual e religiosa: a dimensão de transcendência do ser humano tem de ser salvaguardada, num duplo sentido: a interioridade e a transcendência são elementos constituintes da saúde plenamente humana, mas será necessário prevenir contra crenças e ideias neuróticas, que prejudicam o ser humano...
Neste contexto, Francisco J. Alarcos, depois de considerar todos estes níveis e dimensões, esboçou a seguinte tentativa de definição: “A saúde é a capacidade de realizar eficazmente as funções requeridas num dado meio, e como este meio não deixa de evoluir, a saúde é um processo de adaptação contínua a múltiplos micróbios, contaminações, tensões e problemas que o Homem diariamente tem de enfrentar. Mas o sujeito humano está também em constante evolução. A saúde é a capacidade de adaptar-se a um meio ambiente que muda; capacidade de crescer, de envelhecer, de sarar, por vezes com sofrimentos inevitáveis, e finalmente de esperar a morte em paz.”
A saúde comporta viver com sentido e, portanto, estar a salvo de tudo o que desumaniza e impede a realização adequada e plenamente humana. Por exemplo, saudar (de salutem dare) significa que estar são inclui “dar saúde” a quantos nos rodeiam, viver em solidariedade com todos, na alegria e na dor. No sentido íntegro da palavra, saúde é sinónimo de viver humana e harmoniosamente, com inclusão da esperança e da abertura à transcendência. Há hoje imensos estudos científicos que mostram a relação positiva entre uma prática sadia da religião e a saúde e até maior longevidade.
Mas acontece que ficamos doentes. Então socorremo-nos dos médicos. Também aqui a etimologia das palavras é iluminante. Significativamente, o radical med., donde deriva em latim mederi, com o sentido de ponderar, curar, cuidar de, restabelecer o equilíbrio, está na base de moderação, medicina e meditação. Aí está, pois, a saúde com o sentido holístico de harmonia, e o médico e o doente não se encontram como um técnico e uma máquina (o corpo) desarranjada, mas como dois seres humanos em diálogo, estabelecendo um pacto: o doente entrega-se à solicitude de outro ser humano, que, afectado por um pedido, escuta compassivamente e põe a sua arte ao serviço de uma existência ameaçada.
Isso acontece, em princípio, numa clínica, num hospital. Veja-se, mais uma vez, a etimologia. Clínica provém do grego klínein, inclinar-se. Hospital relaciona-se com hóspede. Um hospital deveria ser, portanto, sempre o lugar da hospedagem acolhedora e amiga. Mas é-o realmente? Veja-se a conexão entre as palavras latinas hospes e hostis (hóspede e inimigo — hostil —, respectivamente), como pode ver-se, por exemplo, hoje na palavra hostal, como se o hóspede, enquanto estranho, fosse ou pudesse tornar-se alguém hostil. Nos hospitais, hoje, para lá da efectividade, torna-se, pois, urgente recuperar a afectividade da hospedagem, para que o doente e o moribundo possam ser reconhecidos na sua dignidade e não como alguém estranho e hostil.
É bom saber do sentido holístico de saúde — sem esquecer o filósofo Immanuel Kant dizendo que O Céu, para aliviar as muitas dificuldades, nos deixou três coisas: “A esperança, dormir bem, rir com alegria” —, que implica também, no meio da agitação constante, capacidade para parar e não esquecer o melhor e poder pensar e meditar e ouvir música e contemplar a beleza de uma simples folha de erva, de um pôr-do-sol e do céu estrelado na sua quietude exaltante... Outra vez a etimologia: pensar vem do latim pensare, pesar razões, mas de pensare provém também o penso sanitário: pensar cura. Aí está, pois, a ameaça hoje das redes sociais e do “dedar” constante e absorto nos ecrãs e as nefastas consequências desse brutal consumo para o cérebro ao nível da saúde mental e da capacidade para ler, reflectir, estudar...
Repetindo, a saúde está intrinsecamente vinculada ao cuidado. Viver é ser cuidado, é ter cuidado, é cuidar..., em ordem à plena realização humana.
Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia Escreve de acordo com a antiga ortografia 29 de março de 2025
Entre as grandes obras filosóficas do século XX, figura uma do filósofo alemão Martin Heidegger: Sein und Zeit (Ser e Tempo). Nela, retoma a célebre fábula sobre o Cuidado, de Higino, um escravo culto (64 a. C.-16 d. C.). Fica aí, traduzida literalmente.
“Uma vez, ao atravessar um rio, ‘Cuidado’ viu terra argilosa. Pensativo, tomou um pedaço de barro e começou a moldá-lo. Enquanto contemplava o que tinha feito, apareceu Júpiter. ‘Cuidado’ pediu-lhe que insuflasse espírito naquela figura, o que Júpiter fez de bom grado. Mas, quando ‘Cuidado’ quis dar o próprio nome à criatura que havia formado, Júpiter proibiu-lho, exigindo que lhe fosse dado o seu. Enquanto ‘Cuidado’ e Júpiter discutiam, surgiu também a Terra (Tellus) e também ela quis conferir o seu nome à criatura, pois fora ela a dar-lhe um pedaço do seu corpo. Os contendentes invocaram Saturno como juiz. Este tomou a seguinte decisão, que pareceu justa: ‘Tu, Júpiter, deste-lhe o espírito; por isso, receberás de volta o seu espírito por ocasião da sua morte. Tu, Terra, deste-lhe o corpo; por isso, receberás de volta o seu corpo. Mas, como foi ‘Cuidado’ a ter a ideia de moldar a criatura, ficará ela na sua posse enquanto viver. E, uma vez que entre vós há discussão sobre o nome, chamar-se-á ‘homo’ (Homem), já que foi feita a partir do húmus (Terra)’.”
Martin Heidegger, um dos maiores filósofos do século XX, retoma a fábula e reflecte sobre o cuidado enquanto estrutura essencial do ser humano. Cuidar e ser cuidado são determinantes da sua constituição. O que seria de nós, se, ainda dentro do ventre materno, não houvesse cuidado, se, ao nascermos e depois do nascimento, não cuidassem de nós? O cuidado nunca nos pode abandonar. Sem o cuidado ao longo da vida toda, do nascimento à morte, o ser humano desestrutura-se, sente-se perdido, só, não encontra sentido e acaba por morrer, entregue ao abandono.
O cuidado tem uma dupla vertente. Por um lado, significa preocupação mais ou menos ansiosa e a consequente prevenção. É assim que os pais dizem aos filhos, ameaçados por perigos: tem cuidado, filho; tem cuidado, filha! E prevenimos os amigos que nos pedem conselho: eu não iria por aí, tem cuidado, tenha cuidado, acautele-se! Por outro lado, e sobretudo, tem a ver com a entrega abnegada aos outros, cuidando deles em todas as dimensões, pois a perfeição do ser humano na realização das suas possibilidades mais próprias é tarefa do cuidado.
Cuidar de quem e de quê?
Claro, cuidar de nós, cuidar dos familiares e amigos, cuidar dos mais frágeis, cuidar da natureza, cuidar da espiritualidade, da transcendência..., de Deus em nós.
Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia Escreve de acordo com a antiga ortografia 22 de março de 2025
Hermenêutica feminista das religiões e seus textos
A religião/religiões só têm sentido se e na medida em que são factor de libertação/salvação. Ora, a gente fica tremendamente impressionado, quando observa o que de negativo tantas vezes as religiões e os seus textos dizem sobre as mulheres.
Que é que isto quer dizer? É essencial interpretar e não tomar de modo nenhum à letra. Aí ficam, pois, alguns princípios de hermenêutica feminista das religiões e seus textos.
Pressuposto essencial é, evidentemente, a compreensão de que os textos sagrados não são ditados de Deus, tornando-se, pois, claro que, sem interpretação, eles se convertem, inevitavelmente, em textos fundamentalistas. Os textos sagrados têm de ser lidos de modo crítico e situados no seu contexto histórico.
Um livro sagrado, por exemplo, a Bíblia, só tem validade última e só encontra a sua verdade adequada enquanto todo e na sua dinâmica global. A argumentação com fragmentos pode por vezes tornar-se inclusivamente ridícula. Assim, princípio hermenêutico essencial e decisivo das religiões e dos seus textos é o do sentido último da religião, que é a libertação e salvação. O Sagrado, Deus, referente último do religioso, apresenta-se como Mistério plenamente libertador e salvador. É, pois, à luz desta intenção última que as religiões e os seus textos têm de ser lidos, concluindo-se que não têm autoridade aqueles textos que, de uma forma ou outra, se apresentam como opressores e discriminatórios. Então, não sendo normativos, têm de ser evitados nas celebrações religiosas.
Portanto, é claro que a hermenêutica feminista tem de ser uma hermenêutica da suspeita. Não é de suspeitar que religiões orientadas por homens e textos que têm homens como autores maltratem as mulheres, lhes sejam pouco favoráveis e as tornem invisíveis, as considerem inferiores e as coloquem em lugares subordinados?
Ela tem também de ser uma hermenêutica da memória. Lembra as vítimas, todas as vítimas. Exige, portanto, uma leitura da História no seu reverso, que é a História dos vencidos. Normalmente, o que aparece, como é sabido, é a História dos vencedores, onde, por isso, não cabem as mulheres nem as vítimas do sistema. Assim, como escreveu Juan Tamayo, “a memória das mulheres vítimas do patriarcado é já em si um acto de reabilitação, de devolução e reconhecimento da dignidade negada”. Na reconstrução da História, é preciso encontrar o papel das mulheres, activo e criador, mas oculto e silenciado.
A leitura feminista dos textos sagrados faz-se a partir dos movimentos de emancipação da mulher e, portanto, dentro da luta pelos direitos humanos, que, sendo indivisíveis, exigem sociedades que ponham termo a todo o tipo de discriminação, sem esquecer que as estruturas discriminatórias da mulher são múltiplas e multiplicativas, como bem viu a teóloga E. Schüssler Fiorenza.
A hermenêutica feminista está particularmente atenta ao funcionamento sexista da linguagem. Repare-se, por exemplo, no prurido auricular de expressões como: a arcebispa de Setúbal, a cardeal de Lisboa. Utilizando normalmente o genérico “homem” e “homens”, nos textos sagrados, nas celebrações litúrgicas, na catequese, as mulheres são inevitavelmente invisibilizadas, esquecidas e marginalizadas. Impõe-se, portanto, estar atento.
Essa hermenêutica é particularmente crítica com as imagens patriarcais de Deus. De facto, se Deus é masculino, o homem-varão acaba por ser divinizado. Realmente, a maior parte das imagens usadas nas religiões e nas teologias para se referirem a Deus são expressão do domínio patriarcal e acabam por legitimar religiosamente o poder dos homens. Entre as mais comuns: Pai, Rei, Juiz, Senhor, Soberano, Criador do Céu e da Terra, Omnipotente. Por conseguinte, a crítica feminista deve desconstruir estas imagens, porque estão associadas ao poder dos homens e geram atitudes de submissão e dependência, não fomentando uma relação interpessoal.
A teologia feminista mostra-se especialmente crítica com a imagem de Deus “Pai”, por tratar-se de uma imagem que leva “directamente à obediência e à submissão, de que a religião autoritária abusa”. Quer recuperar imagens que têm a ver com a vida, a amizade, o amor, a clemência, a compaixão, a compreensão, a generosidade, a ternura, a confiança, o perdão, a solicitude... E o que é que pode impedir os crentes de se dirigirem a Deus como Mãe? Deus é Pai/Mãe.
Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia Escreve de acordo com a antiga ortografia 15 de março de 2025
1. No Dia Internacional da Mulher, solidarizando-me com todas as que lutam contra a misoginia da Igreja, retomo o que já aqui escrevi em 2011: “As mulheres têm motivo para estar zangadas com a Igreja, que as discrimina. Jesus, porém, não só não as discriminou como foi um autêntico revolucionário na sua dignificação, até ao escândalo.”
Veja-se a estranheza dos discípulos ao encontrar Jesus com a samaritana, que tinha tudo contra ela: mulher, estrangeira, herética, com o sexto marido, mas foi a ela que se revelou como o Messias. Condenou a desigualdade de tratamento de homens e mulheres quanto ao divórcio. Fez-se acompanhar — coisa inédita e mesmo escandalosa na época — por discípulos e discípulas. Acabou com o tabu da impureza ritual. Estabeleceu relações de verdadeira amizade com algumas. Maria Madalena constitui um caso especial nessa amizade: ela acompanhou-o desde o início até à morte e foi ela que primeiro intuiu e fez a experiência avassaladora de fé de que o Jesus crucificado não foi entregue à morte para sempre, pois é o Vivente em Deus, como esperança e desafio para todos os que crêem nele, a ponto de Santo Tomás de Aquino e outros, apesar da sua misoginia, a declararem a “Apóstola dos Apóstolos”, precisamente por causa do seu papel fundamental na convocação dos outros discípulos para a fé na Ressurreição: na morte, não caímos no nada, pois entramos na plenitude da vida em Deus, Deus de vivos e não de mortos. Aliás, já São Paulo, na Carta aos Romanos, pede que saúdem Júnia, “Apóstola exímia”.
2. Num dos seus últimos escritos, o teólogo José M. Castillo veio lembrar a mesma coisa. Quando se lê os Evangelhos, o que constatamos é que Jesus teve conflitos e confrontos com vários grupos, desde as mais altas autoridades religiosas até aos discípulos que o acompanhavam: a Pedro, por exemplo, chegou a chamar-lhe Satanás. Mas há um dado que “chama poderosamente a atenção: as mulheres são o único grupo com o qual Jesus não teve problema algum, inclusivamente naquele caso da mulher cananeia que suplicava a cura da sua filha doente; parece que Jesus lhe deu uma má resposta, mas o carinho daquela mãe foi tão intenso que até fez Jesus dizer: ‘Mulher, como é grande a tua fé!’. E a filha ficou curada.”
Castillo insiste que Jesus esteve sempre do lado das mulheres, mesmo quando eram adúlteras ou prostitutas. Jesus deixou que uma mulher o perfumasse com perfume caro, ou lhe beijasse os pés com lágrimas e lhos enxugasse com os cabelos. E foram as mulheres que se mantiveram sempre fiéis no caminho do Calvário e depois da morte, diante da Cruz. E foram as primeiras testemunhas do Ressuscitado, do Jesus vivo em Deus para sempre.
E, atravessando a história da Igreja, lança a pergunta: “Como é possível o que está a acontecer? Se há tantos bispos que vivem em palácios, usam vestimentas que já ninguém usa, têm privilégios que ninguém mais tem, julgam ter poderes que Deus lhes deu a eles e a mais ninguém, não é lógico e inevitável que na Igreja esteja a acontecer o que todos vemos?” E conclui: “Como é possível que as mulheres continuem nesta Igreja que as marginaliza, as exclui, as anula em tantas coisas...? Porque é que hão-de continuar numa Igreja que, apoiada em séculos, nega e resiste a que celebrem Missa ou que possam ser esposas de padres? Se Jesus não proibiu nada disso, porque é que havemos de ser nós a proibir e, para cúmulo, ficando com a consciência do dever cumprido? O que é mais importante: agradar a uns tantos cardeais ou servir toda a gente?”
3. A Igreja continua a ser um dos maiores esteios da sociedade patriarcal. Até inconscientemente, com a doutrina tradicional, embora esta não encontre apoio no Evangelho.
Dou três exemplos.
Eva, que estaria, segundo a doutrina tradicional, a partir de uma leitura literal da Bíblia, na base do “pecado original”, criou a imagem da mulher tentadora, associada ao pecado.
Quando João Paulo I se referiu a Deus como Mãe foi um escândalo tal que não faltaram os protestos, clamando que Deus é Pai e não Mãe. Para esta visão, contribuiu também o desconhecimento da biologia. De facto, o óvulo feminino só foi descoberto em 1827. Por isso, na geração, a mulher era passiva e não activa. Neste quadro, nunca se poderia rezar o Credo, começando assim: “Creio em um só Deus, Mãe toda-poderosa, criadora dos céus e da terra...” nem rezar o “Pai Nosso”, dizendo “Mãe Nossa”. Mas, em relação a esta concepção, é preciso tomar consciência de que Deus está para lá da determinação sexual e, por isso, tanto nos podemos dirigir a Ele como Pai ou como Mãe, melhor: Pai/Mãe...
Também se diz que Deus encarnou no homem Jesus. Sim, esta afirmação é clara para a fé cristã, desde que não se ignore que, no Evangelho de São João, se lê que o Logos, que é Deus, se fez carne, no sentido de humanidade frágil. De facto, a palavra utilizada no original grego é “sárx”, que significa precisamente a humanidade enquanto frágil, e não “anér, andrós”, que se refere ao homem masculino (daí, andrologia e androcentrismo). Deus manifestou-se, revelou-se a todo o ser humano, na humanidade frágil do homem Jesus.
Neste contexto, pergunta-se: a mulher não poderá presidir à Eucaristia? Já há anos, o então cardeal-patriarca de Lisboa, José Policarpo, que sabia Teologia, fez uma declaração que teve muito eco nos média, inclusive estrangeiros: “Teologicamente não há nenhum obstáculo fundamental” à ordenação de mulheres. A recusa baseia-se apenas na tradição. É evidente que, perante esta afirmação, os protestos choveram e o meu amigo cardeal José Policarpo, por pressão do Vaticano, teve de recuar, dando esclarecimentos. Mas, evidentemente, era ele que tinha razão, como também outros cardeais reconhecem.
Para contrapor, invoca-se que na Última Ceia não houve mulheres. Ora, esta afirmação é contestada por grandes exegetas. De qualquer modo, onde é que está que Jesus ordenou alguém “in sacris” naquela noite? Mais: o famoso biblista, talvez o maior exegeta do século XX, Herbert Haag, da Universidade de Tubinga, com quem tive o privilégio de privar, ironizou: como eram só judeus os presentes, então a Igreja devia ordenar só homens judeus!... Sobretudo: é sabido que as primeiras comunidades cristãs — não havia igrejas nem capelas nem basílicas ou catedrais — se reuniam na casa de cristãos mais abastados, pois sempre teriam uma casa mais ampla, e quem presidia era o dono ou a dona da casa. Então, se já foi possível mulheres presidirem à Eucaristia...
A questão da mulher na Igreja tem, pois, de ser revista. Para não ferir o que Jesus disse: “Sois todos irmãos e iguais” nem este princípio fundamental do Concílio Vaticano II: “Toda a forma de discriminação nos direitos fundamentais da pessoa por razão do sexo deve ser vencida e eliminada, por ser contrária ao plano divino.”
Afinal, a linguagem que nos leva a dizer: “a Igreja discrimina as mulheres” revela bem onde reside o nervo do problema. Que Igreja é que discrimina? Quem é a Igreja? Evidentemente, ao dizer que a Igreja discrimina as mulheres, estamos a referir-nos à Igreja hierárquica: Papa, cardeais, bispos, padres, cónegos, monsenhores — com duas classes: clero e leigos —, quando o que Jesus queria era a Igreja como comunidade de comunidades, que obriga a dizer: “a Igreja somos nós”, a comunidade dos baptizados, homens e mulheres, uma comunidade de iguais, com carismas e ministérios vários ao serviço de todos, entre eles, o da presidência da Eucaristia, exercido por homens ou mulheres.
Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia Escreve de acordo com a antiga ortografia 8 de março de 2025
Papa Francisco em mesquita no Azerbaijão. Foto: L'Osservatore Romano/Pool Photo via AP
O fundamentalismo religioso
Na presente situação do mundo, impõe-se cada vez mais a urgência do diálogo inter-religioso. Dou hoje início a uma breve reflexão sobre a questão, mostrando a necessidade de acabar com o fundamentalismo.
De modo geral, quando se fala em fundamentalismo, é no fundamentalismo religioso que se pensa. Há, porém, outras formas de fundamentalismo: o fundamentalismo político, o fundamentalismo cultural, o fundamentalismo económico, por exemplo. Joseph Stiglitz, Prémio Nobel da Economia, referindo-se à política económica seguida pelo FMI no quadro da globalização, fala de “fundamentalismo neoliberal”.
Quando se refere o fundamentalismo religioso, pensa-se essencialmente no islamismo. Mas, de facto, as palavras “fundamentalismo” e “fundamentalista” nasceram nos Estados Unidos, nos princípios do século XX e no contexto do protestantismo. Com o objectivo de preservar e defender os pontos considerados fundamentais da fé cristã, protestantes evangélicos norte-americanos de várias denominações escreveram artigos teológicos que foram reunidos e publicados entre 1910 e 1915, em doze fascículos com o título The Fundamentals: a Testimony to Truth, numa edição de três milhões de exemplares. Em 1919, foi criada a World’s Christian Fundamentals Association, na convicção de que a regeneração do protestantismo implicava o combate ao liberalismo teológico. Foi em 1920 que o termo passou à opinião pública através de um artigo de Curtis Lee Laws, no qual se lia: “Sugerimos que aqueles que ainda continuam firmemente apegados aos grandes fundamentos (Fundamentals) e que estão decididos a combater a sério por esses fundamentos sejam chamados Fundamentalists”, devendo, portanto, o termo ser considerado “um elogio e não um insulto”.
Um dos fundamentos inquestionáveis era o da inspiração verbal da Bíblia, seguindo-se daí a sua infalibilidade e inerrância. O texto bíblico devia ser assumido à letra e a sua autoridade estendia-se não só ao domínio religioso mas a todos os campos do saber: científico, histórico, filosófico... Foi neste contexto que em 1925 teve lugar em Dayton o famoso “caso Scopes”: um jovem professor de biologia, John T. Scopes, foi julgado e condenado por ensinar aos alunos a teoria da evolução das espécies de Darwin. Esse debate à volta do ensino do evolucionismo e da narração bíblica da criação nas escolas continua ainda hoje nos Estados Unidos.
Seja qual for o juízo que se faça sobre a modernidade e a sua crise, é necessário reconhecer conquistas suas irrenunciáveis: precisamente a leitura não literal, mas histórico-crítica dos textos sagrados, a separação das Igrejas e do Estado, da religião e da política, os direitos humanos, a ciência e a razão crítica, a autonomia das realidades terrestres. Apesar das constantes tentações restauracionistas e até pró-fundamentalistas, são valores que também a Igreja Católica reconheceu no Concílio Vaticano II (1962-1965), superando, no essencial, os conflitos que durante mais de trezentos anos manteve com os tempos modernos.
Neste contexto e não desconhecendo que Maomé foi ao mesmo tempo um profeta religioso, um chefe de Estado e um guerreiro à frente de um exército, impõe-se imprescindivelmente a necessidade de perguntar se também nos Estados muçulmanos são possíveis a separação da religião e do Estado, a interpretação crítica do Alcorão, a autonomia das realidades temporais em relação à tutela religiosa, o respeito pela liberdade de consciência, de pensamento, de expressão, de reunião, de associação, o direito à crítica da religião, à mudança de religião e à não crença, a igualdade dos sexos e dos seus direitos, a distinção entre ética civil e ética religiosa.
Há várias explicações para o fundamentalismo, que cultiva o pensamento único e a intolerância. Sublinham-se três.
Quando se não suporta viver na perplexidade e na interrogação, surge a tentação de absolutizar as próprias crenças, excluindo e perseguindo quem as não partilha.
Em toda a História foi permanente a utilização da religião para fins que não são os seus: alcançar o poder, servir os próprios interesses económicos, políticos, culturais, impor hegemonicamente o próprio domínio.
Em última análise, na base está uma determinada concepção de verdade, que se confunde com a posse do Fundamento. Mas, precisamente aqui, é preciso perguntar: quem é o Homem, um ser finito, para considerar-se senhor do Fundamento? Ele não possui o Fundamento ou o Absoluto, é o Fundamento que o possui a ele. Isto não é relativismo, mas perspectivismo: vamos ao encontro da realidade sempre numa determinada perspectiva. Por isso, no domínio religioso, há que reconhecer que há mais verdade nas religiões todas do que numa só, e dessa verdade faz também parte a pergunta pelo ateísmo.
De qualquer modo, condições imprescindíveis para a paz são um Estado laico, não confessional, e a leitura não literal, mas histórico-crítica dos livros sagrados, nomeadamente a Bíblia e o Alcorão.
Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia Escreve de acordo com a antiga ortografia 1 de março de 2025
No século VIII, no contexto da ameaça militar e religiosa do islão a Bizâncio, a tradição cristã viu-se confrontada com a pureza radical do monoteísmo islâmico e a sua proibição das imagens. Os imperadores bizantinos mandaram destruir as imagens e os seus defensores foram perseguidos como idólatras. Embora esta luta dos iconoclastas tenha acabado com a vitória dos iconódulos (veneradores das imagens), pois Jesus Cristo é a imagem visível de Deus, nunca deveria esquecer-se que Deus é infinitamente transcendente e, se o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, Deus não é à imagem do Homem.
Diz-se perante certas imagens: vale mais uma imagem que milhares de palavras. Pense-se, por exemplo, naquelas imagens televisivas das crianças esfomeadas no mundo — pequenos andaimes de ossos a soçobrar, num olhar suplicante e quase morto —, e o soco que nos dão no estômago e na alma.
Aqui, porém, do que se trata é da civilização da imagem, daquela civilização que quer a visualização de tudo. Trata-se daquilo para que uma aluna uma vez me chamou a atenção. Ela tinha feito um trabalho sobre A Sociedade do espectáculo, de Guy Debord, um dos breviários da geração de 68, e disse-me: “Viu a transmissão televisiva do funeral do Papa João Paulo II? Aquilo era espectáculo, donde o mistério da morte foi arredado. Logo a seguir, em sequências vertiginosas, lá estavam imagens publicitárias e futebol: tudo o mesmo.” Ah! A alienação com o futebol: “pensar com os pés” (Carlos Fiolhais)!
Há perigos na civilização da imagem?
Nela, por paradoxal que pareça, julga-se que se está perante a hiper-realidade, mas o que se vai impondo é o virtual, com a consequente perda da realidade real.
Depois, é isso: a vertigem de imagens e de informações, em voragem. Mas, então, onde está o tempo da possibilidade de distanciamento e de crítica? Ah!, e a própria crítica, se existe, tem de ser dada em espectáculo, dissolvendo-se então com ele e nele, pois, como escreveu José María Mardones, mais do que permitir a reflexão e a crítica, do que se trata é de vender e “seduzir”.
Na civilização da imagem, importante não é ser, mas parecer e aparecer. Quem não aparece existe? Por isso, lá dizem os políticos, e não só eles, que decisivo é aparecer, mesmo se se diz mal deles.
De novo José Maria Mardones: o predomínio da imagem, com a pretensão de mostrar tudo, até a interioridade do sujeito, tem outra consequência perversa: “o esvaziamento da intimidade”. Por causa disso, eu fui uma vez à televisão para prevenir e chamar a atenção para a necessidade da distinção não apenas do público e do privado, mas do público, do privado e do íntimo. De facto, não anda para aí tudo desavergonhadamente escancarado, sem réstia de pudor?...
O símbolo, esse, abre para a profundidade do real e para o mistério e vincula à transcendência. Na civilização da imagem, onde a realidade é o que se mostra, vive-se na imediatidade do que há, do mercado das sensações, do empírico-funcional, e, portanto, na in-transcendência.
E uma conclusão, que pode parecer abrupta. Por vezes, há quem se espante com a indiferença e a distância dos jovens em relação à política. Seja-me permitido espantar-me com esse espanto. Razão de fundo – não a única, evidentemente, – para esse distanciamento está em que o espectáculo da política e dos políticos é muitas vezes deprimente e pouco recomendável. Não está a própria Assembleia da República, por exemplo, a sucumbir por vezes à falta de vergonha, à má-criação?...
Com o fim do trabalho simbólico e o império da imagem e da técnica, o mundo humano vai definhando. Sem o símbolo, também não há lugar para a religião na sua autenticidade e verdade. E corre-se o perigo da idolatria.
Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia Escreve de acordo com a antiga ortografia 22 de fevereiro de 2025