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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

O POETA DA BOLA

 

No segundo incerto

A certeza que segura no respirar e no olhar

Suspenso e unânime dentro de si e iminente

E já subindo o impossível na aresta viva de um conseguir

Apertados que estão todos os sonhos trabalhados à exaustão

De encontro aos ásperos pilares das inúmeras barragens

Eis a vida cumprida no golo que é naquele momento

O que lhe resta, livre, altivo, humano

E Cristiano

Num coro de milhões é um sinal aos homens

Que desde as suas profundidades inimagináveis

Se podem encontrar numa fulguração indizível

A tal ponto inatingível que o conseguem

E chegarão à verdade

Até onde sem palavras o riso franco, feliz

Aberto de par em par

Se nos oferece

E eis o poeta da bola no pé

A desvendar-se desde sempre e neste agora

Um diamante de menino que cria

A sua poesia - possante abraço

Que tudo alaga e nos corre

Por dentro

Ligando coisas que não sabemos

 

Teresa Bracinha Vieira
Junho 2018

 

P.S. Já tenho escrito sobre Cristiano Ronaldo, tentando interpretar o seu saber crescer. Hoje gostaria que a minha bandeira fosse este poema que lhe ofereço à custa de sempre o ter entendido como entendo o mar: uma ilha, uma fruta onde ferve a vida espessa já que só é espessa a vida que se desdobra em mais vida, tal como a flor é mais espessa que a fruta e o dia se adquire a cada dia.

CRÓNICA DA CULTURA

Cristiano Ronaldo içou-se do chão de quando era criança; rodou nos invisíveis degraus do esforço d’alma; prendeu-se no ar, e, intacto de natureza, opôs-se ao que no mundo é simulacro. 

 

  

 

De mão no peito o agradecimento minucioso a cada um, a cada vida.

O gesto, o gesto de que o limite é para se ultrapassar.

 

  

 

Ronaldo, o vulto voante de uma magia que poucos merecem, demanda-nos na sua vida o nosso próprio desejo de pulsar pelo céu. Expõe sentires em choros e felicidades de inocência rara.

 

Cristiano Ronaldo o menino empurrado para os dias dos socalcos de todas as solidões.

Ronaldo o homem-menino que hoje segura o seu filho à expansão das manhãs.

 

 

O menino-homem da bola de ouro a erguer ao mundo o sentido do choro.

 


Ronaldo, um fundo de convicção que aponta caminhos, muitos deles entre o ser-eu e o estar-ali irredutível.

O colossal jogador de futebol português, conhece-se e devolve-se a nós, na simplicidade de algo a decifrar, como se não transportasse também um Portugal e suas pedras, em ordenada linguagem aplanada pela força do mérito, do trabalho, do sonho, e da indecifrável magia de pertencer a um lugar que poucos conhecem.

Obrigada

 

Teresa Bracinha Vieira

GLOBALIZAÇÃO E NACIONALISMO NO FUTEBOL

 

Sendo o futebol um desporto globalizado, o seu mercado internacionalizou-se, o que levou a que os melhores treinadores e jogadores nacionais, de vários países, como José Mourinho e Cristiano Ronaldo, entre nós, fossem contratados por clubes estrangeiros mais ricos. Constitui um fenómeno crescentemente global, que uma percentagem significativa ou maioritária de jogadores de uma seleção nacional de futebol sejam jogadores estrangeiros, naturalizados nacionais, ou jogadores nacionais que jogam em clubes estrangeiros. O que não impede os adeptos nativos de sentirem como nacionais as vitórias da seleção nacional. Mesmo quando para esse sucesso desportivo é reconhecidamente decisivo o desempenho de jogadores não brancos, nomeadamente na Europa. Igualando ricos e pobres, etnias e raças, num unanimismo emocional e coletivo desejável e desejado, o futebol igualiza em imagens idílicas de celebrações triunfalistas, rumo a uma globalização pacífica e ausente de conflito, ansiada e opinada por muitos.

 

Só que, analisando melhor, o fenómeno da globalização, tão patente e potente na economia e finanças, não aparenta ter penetrado no futebol, onde se indicia, cada vez mais, uma ligação nacionalista e clubística. Seja como disputa entre nações, como competição de autoafirmação nacional, como altar ou salvação da pátria, a que os próprios políticos e governantes prestam honras e vassalagem, o mundo futebolístico, com o seu ícone da bola salvífica, não resiste à ideia de divergência e diversidade, o que pode ser exemplificado com o campeonato europeu de futebol.

 

Integravam tal competição, em 2016, 24 seleções nacionais. Entre elas a de Portugal, que foi campeão europeu. Há 28 anos eram oito, passando para 16, em 2012.

 

Na União das Associações de Futebol Europeu (UEFA), há seleções que não correspondem a países, tendo como exemplo mais antigo o Reino Unido, com quatro equipas: Inglaterra, País De Gales, Escócia e Irlanda do Norte, a que se juntou, muito mais tarde, Gibraltar. Com o colapso da União Soviética, além da Rússia, há mais dez países associados: Estónia, Letónia, Lituânia, Bielorússia, Ucrânia, Moldávia, incluindo os euroasiáticos Azerbaijão, Geórgia, Arménia e o asiático Cazaquistão. A divisão da Checoslováquia originou dois países: República Checa e Eslováquia. A da Jugoslávia, seis: Eslovénia, Croácia, Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Macedónia. Sem esquecer a Turquia, minoritariamente europeia, bem como o asiático Israel. Além das seleções de Andorra, San Marino, Liechtenstein, Malta, Chipre, Ilhas Faroé e, recentemente admitido, o Kosovo. Estando pendente a candidatura da Catalunha.  E por que não, no futuro, o País Basco, a Flandres, a Valónia e a Lombardia?

 

Esta diversidade e pluralidade de seleções, com tendência a aumentar, com a exibição  de bandeiras e exposição de outros símbolos nacionais, galvaniza sentimentos clubísticos e nacionais, mesmo que cada vez mais as seleções integrem jogadores de várias origens. Mas se a naturalização de jogadores é determinante para que possam ser parte de uma seleção, conclui-se que a nacionalidade e nacionalismo no futebol globalizado, ultrapassam e desatualizam as fronteiras territoriais e o princípio da territorialidade inerente aos Estados e sua soberania. Ao mesmo tempo, autonomizam, autodeterminam e dão visibilidade democrática a povos e nações que rompem a unicidade e peculiaridades da globalização.    

 

17.01.2016

Joaquim Miguel De Morgado Patrício