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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICAS PLURICULTURAIS

 

8. A CURIOSIDADE E O NÃO SABER

 

O ser humano está formatado para a curiosidade. 

O que nos deve entusiasmar é o que não sabemos, não o que sabemos.

A ciência e as artes são a continuação da curiosidade, da criação, do que não sabemos. Esperamos que a ciência e a arte não respondam a todas as perguntas, se não deixariam de ser ciência e arte, acabaria a curiosidade e a criação.

O verdadeiro artista e cientista faz perguntas e tem poucas ou nenhumas respostas.  Querem descobrir ou saber, interessam-se por aquilo que não sabem e não por aquilo que sabem.   

Querer saber é também querer ter poder. Saber é poder e poder é saber.

A evolução faz-se por fraturas, na ciência, nas artes, na democracia, no direito à informação, na liberdade de expressão, em tudo, onde impera a dúvida, a curiosidade, o incerto, o impermanente, o imperfeito, que nos atrai e estimula a continuar, a criar, a inovar, a ir mais além do além. 

Mas a ciência e as artes não respondem a tudo. 

Não respondem ao mistério último das coisas e da nossa existência.

Por exemplo, a dimensão do infinito e do sagrado é de tal modo misteriosa que nos ultrapassa. São transcendentes, dado que não os conseguimos perceber. Não são demonstráveis, à semelhança de Deus, não sendo objeto de ciência.

Mas matando a curiosidade e o porquê formulador de outros porquês, apelamos à ditadura, expurgando a democracia, em benefício de um conservadorismo certo e permanente, com reflexos na ciência e nas artes, formatadas por regras fixas e limitadas, contrárias à criação e inovação contínua. 
Há quem prefira a liberdade à segurança e quem prefira a segurança à liberdade, tendo esta como um bem acessório. 
Ao longo da história da humanidade, da história de todos nós, a luta pela liberdade, pela curiosidade e pela sabedoria, tornou-se o símbolo da democracia e dos maiores progressos civilizacionais. 
Mas a História também nos ensina que feitos incríveis alcançados pelos antigos gregos e romanos, entre outros, se perderam, e que com a sua queda se conclui que a civilização não progride em linha reta, nem na direção de mais prosperidade, ordem, lei, ciência, saber e tecnologia.
Daí, de igual modo, ser importante encontrarmos algo de comum entre todos nós, como seres e pessoas humanas, em que não há raças, mas uma espécie humana, e uma só Terra, em conjugação de esforços e de interesses com a curiosidade permanente em busca do que não sabemos, com abertura ao outro, a par do bem comum, da ética, da ciência, da cultura e do saber.

 

01.05.2018

Joaquim Miguel De Morgado Patrício

CRÓNICA DA CULTURA

 

A criatividade é sobretudo a ideia nova da curiosidade

 

A fome da experiência diferente existe. O excesso que quebra o entorpecimento e nos faz sentir a necessidade de espreitar pela janela, é em si, uma abordagem da consciência sem medo das emoções: a raiz da força da ideia nova.

 

Pelos canais das intuições, as empatias do entender o fundo que se não mostra, separa-se mesmo dos outros sentidos, e, dão o salto sozinhas, num processo interno de diálogo e de recolha interpretativa à precisão das nossas perceções. Este um dos caminhos da intensidade e das razões por que ocorre; este um processo vivo de interatividade que até pode ser doloroso, insuportável mesmo, face à decisão do que fazer com a nova informação. Como reagir à nova cor? À nova palavra? Ao novo som? Como criar a nova substância, face ao que existia, quando em peças isoladas a intuímos?

 

Não é fácil. Há que abrir passagens na própria barreira das nossas emoções. Há que ter aprendido a necessidade da curiosidade, aprendizagem que sempre se iniciará e acabará no nosso coração, nem sempre generoso ao trabalho de sapa que nos leva às razões.

 

Criar é também tornarmo-nos fluxo e refluxo do nosso próprio entender, e expô-lo a interagir, e, por aqui, quantas vezes, enrolados nós até aos outros, e a luz do mapa que percorremos e que afinal não foi suficiente. Ainda assim a criatividade vai decidir como proceder para alterar esta situação e afinar desculpa, corrigindo o processo energético desperdiçado num saber que o não chegou a ser, ao menos pela diferença da criatividade e da curiosidade, ambas, quantas vezes, sem libertação suficiente para a todos convidar ao mais longe possível, por onde sempre podemos começar um décimo segundo passo, no validar da criatividade, atributo de uma curiosidade fértil e atenta e responsável.

 

Também dentro do ato criativo, dentro e bem dentro da curiosidade imparável, existe uma hospitalidade universal em nós, que significa um direito do que é estrangeiro e que chega até nós - sua nova morada - e não invoca acolhimento, antes visita, e nos convida a ir até ao outro lado da terra prometida sem qualquer mapa que nos oriente.

 

Teresa Bracinha Vieira

Fevereiro 2018