CRÓNICAS PLURICULTURAIS
8. A CURIOSIDADE E O NÃO SABER
O ser humano está formatado para a curiosidade.
O que nos deve entusiasmar é o que não sabemos, não o que sabemos.
A ciência e as artes são a continuação da curiosidade, da criação, do que não sabemos. Esperamos que a ciência e a arte não respondam a todas as perguntas, se não deixariam de ser ciência e arte, acabaria a curiosidade e a criação.
O verdadeiro artista e cientista faz perguntas e tem poucas ou nenhumas respostas. Querem descobrir ou saber, interessam-se por aquilo que não sabem e não por aquilo que sabem.
Querer saber é também querer ter poder. Saber é poder e poder é saber.
A evolução faz-se por fraturas, na ciência, nas artes, na democracia, no direito à informação, na liberdade de expressão, em tudo, onde impera a dúvida, a curiosidade, o incerto, o impermanente, o imperfeito, que nos atrai e estimula a continuar, a criar, a inovar, a ir mais além do além.
Mas a ciência e as artes não respondem a tudo.
Não respondem ao mistério último das coisas e da nossa existência.
Por exemplo, a dimensão do infinito e do sagrado é de tal modo misteriosa que nos ultrapassa. São transcendentes, dado que não os conseguimos perceber. Não são demonstráveis, à semelhança de Deus, não sendo objeto de ciência.
Mas matando a curiosidade e o porquê formulador de outros porquês, apelamos à ditadura, expurgando a democracia, em benefício de um conservadorismo certo e permanente, com reflexos na ciência e nas artes, formatadas por regras fixas e limitadas, contrárias à criação e inovação contínua.
Há quem prefira a liberdade à segurança e quem prefira a segurança à liberdade, tendo esta como um bem acessório.
Ao longo da história da humanidade, da história de todos nós, a luta pela liberdade, pela curiosidade e pela sabedoria, tornou-se o símbolo da democracia e dos maiores progressos civilizacionais.
Mas a História também nos ensina que feitos incríveis alcançados pelos antigos gregos e romanos, entre outros, se perderam, e que com a sua queda se conclui que a civilização não progride em linha reta, nem na direção de mais prosperidade, ordem, lei, ciência, saber e tecnologia.
Daí, de igual modo, ser importante encontrarmos algo de comum entre todos nós, como seres e pessoas humanas, em que não há raças, mas uma espécie humana, e uma só Terra, em conjugação de esforços e de interesses com a curiosidade permanente em busca do que não sabemos, com abertura ao outro, a par do bem comum, da ética, da ciência, da cultura e do saber.
01.05.2018
Joaquim Miguel De Morgado Patrício