Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE DANIEL JONAS  

  


Trabalho e trabalho


Trabalho e trabalho
para dar à luz um pai
na minha solidão de depauperado
arado que nada sulca
porque como um comboio a que faltaram carris
prévios ao meu arado são seus sulcos.

Sou um filho circular. Como um signo
zodiacal sou um filho circular, requer o que faço
aquilo em que me movo
que é aquilo em que me movo
o que faço e como fazê-lo
se não tenho já em que me mova? O que faço
é o que me fez.

Sou comboio e arado e um rodado
sem discos. Sem paralelo em círculos
rotunda tristeza propago
de vertiginosa incubação de vórtices
que ajudo a solidificar: outra vez a sólida
solidão: é fácil a primeira imagem do comboio:

insta à compaixão. E são pesados os bois
circulares que o meu arado
entontece, em vão o rodado
sem discos. Quanto pesarão
bois entontecidos? Como ser pai
quando se é filho?


in Os fantasmas inquilinos, 2005


Work and more work


Work and more work
to give birth to a father
in my loneliness as a decaying
plough that ploughs nothing
because like a train in need of tracks
the furrows precede my ploughing.

I’m a circular son. Like a sign
of the Zodiac I’m a circular son, what I do
needs what I’m moving in
which is where I move
what I do and how can I do it
if I no longer have what to move in? What I do
is what made me.

I am train, plough and turn table
with no records. Unparalleled I spread
in circles a rotund sadness
from the incubation of a vertiginous vortex
which I help to solidify: once again the solid
solitude: the first image of the train is easy:

it urges compassion. And the circular oxen are
heavy made dizzy by my plough,
and the turning table turns in vain
without records. How heavy can
dizzy oxen be? Like being a father
when you are the son?


© Translated by Ana Hudson, 2010
in Poems from the Portuguese

 

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE DANIEL JONAS 

  


Dente-de-Leão


A juba encanecida do dente-de-leão.
Eu soprei-a como velas
de aniversários
e ele envelheceu anos.
Ali, tão calvo agora, o ancião,
um leão glabro
entupido de testosterona,
um Sanção
com a sua cerviz rente
descravando
dos quadris da fêmea
a fome de uma semente.


in Passageiro Frequente, 2013


Dandelion


A ring of birthday candles,
I blew
the dandelion’s hoary mane
and how much older he grew.
There he is now, an old
bald smooth lion
clogged with testosterone,
a Samson
with a shaven neck
unloosing
from female hips
the hunger of seed.


© Translated by Ana Hudson with Gabriel Gbadamosi, 2014
in Poems from the Portuguese

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE DANIEL JONAS

  


Opacidade


Estúpido outono

a tudo impondo sua ferrugem
como num velho armazém de ferragens
a artrose ganhando dobradiças
e as espirais
a parafusos zonzos.


E estas árvores são também

impossíveis: árvores
como furgonetas com seus toldos
esvoaçantes, rangendo
a grande dor da
mudança.


Estúpidas árvores: cada copa

um enleio de fios,
uma instalação eléctrica pública
de Calcutá, fundindo
o céu, seu
capote puindo.


Ou este outono é só

uma betoneira
regurgitando o seu betão zonzo.
Estúpido outono. E que erro
tomar os meus olhos
por um aterro!


in Os fantasmas inquilinos, 2005


Opaqueness


Stupid autumn

imposing its rust on everything,
arthrosis conquering the hinges
and the spirals from
giddy screws
like in an old hardware warehouse.


And also these trees are

impossible: trees
like vans with their flying
canvas covers, grinding
the great pain
of change.


Stupid trees: each top

an entanglement of wires,
a public electric installation
out of Calcutta, smelting
the sky, fraying
its canopy.


Or this autumn is just

a concrete mixer
regurgitating its dizzy slime.
Stupid autumn. And
what a misconstruction
to take my eyes for
a building plot!


© Translated by Ana Hudson, 2010

in Poems from the Portuguese