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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO

 

XX - DA DIÁSPORA E DIMENSÃO DE MERCADO        
                                           

Pelos mais de duzentos milhões de falantes distribuídos por vários continentes, a língua portuguesa produz, necessariamente, curiosidade e conhecimento, sendo compreensível que falantes externos ao seu espaço físico e linguístico a ele queiram ter acesso, no âmbito das suas várias manifestações de produção económica, científica, tecnológica, cultural, desportiva. Disseminada por oito países em quatro continentes, é não só uma língua global e de comunicação internacional, mas igualmente transcultural e transcontinental. Como uma língua em crescimento demográfico, de populações e países maioritariamente jovens, também tem disponibilidade para crescer como língua estrangeira e de exportação, conjugando-se os fatores económicos e políticos potenciadores do desenvolvimento dos países seus falantes.

A que acresce uma diáspora portuguesa, que se converte em lusófona e contemporânea, em que para além de ser o idioma de mais de cinco milhões de emigrantes e cidadãos de ascendência portuguesa, há que contar com as deslocações de emigrantes de outros países lusófonos, em especial do Brasil, Angola, Moçambique e Cabo Verde, com todas as consequências daí derivadas, a médio e longo prazo, para a difusão mundial do nosso idioma comum.

A que corresponde um mercado de grande dimensão num espaço geograficamente descontínuo e de perfil variado, dando-lhe maior dinamismo e podendo suscitar, no futuro, uma acumulação de oportunidades de mercados relevante. Há comunidades lusófonas e lusófilas crescentes, pela Europa, Américas, África, Ásia e resto do mundo, que fazem o culto do mercado da saudade, de laços afetivos, visitas regulares e apetência por produtos lusófonos, quer em termos alimentares, gastronómicos, culturais, turísticos ou outros.  

A língua portuguesa é ainda língua oficial, de trabalho ou de tradução obrigatória, em várias organizações internacionais, como a União Europeia, a Unesco, a União Africana, o Mercosul, a Organização dos Estados Ibero-Americanos, a Organização dos Estados Americanos, entre outras, sendo crescente a implementação para que seja idioma oficial da Organização das Nações Unidas, com a perspetiva de remodelação do seu Conselho de Segurança, em que o Brasil seja parte integrante.

Estudos tendo por fim a divulgação da cultura e da língua portuguesa no estrangeiro, concluem que representa 17 por cento do produto interno bruto nacional, havendo um aumento significativo do português como língua de trabalho, de comunicação e de viagem, com projeções de maior valor, no futuro, a que não será alheio a força crescente, na área internacional, de Angola e do Brasil, em especial deste último. Numa perceção da língua em geral no exterior e em termos literários, o inventário é liderado pelos portugueses Fernando Pessoa e José Saramago, à frente do brasileiro Paulo Coelho, um recordista de vendas. Havendo, noutras áreas, referências a Lula da Silva, bem como aos futebolistas Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo, do Brasil, e a Luís Figo e Cristiano Ronaldo, de Portugal.

Para a dimensão de mercado, é fundamental uma marca distintiva que faça sobressair o nosso idioma no espaço da produção contemporânea. Em termos artísticos, o agrupamento musical português mais internacional de sempre, os Madre Deus, sempre cantaram em português e fizeram o culto da nossa música, o que de outro modo, para eles, não faria sentido. Para Mariza o facto de cantar em português nunca a impediu de ter uma carreira internacional de sucesso. Amália internacionalizou-se cantando em português, internacionalizando o fado. Veja-se, agora, a internacionalização de Joana Vasconcelos, com esculturas chamativas e impactantes, onde a marca portuguesa está sempre presente em interação com os tempos atuais. Atente-se na música popular brasileira, nos movimentos da bossa nova e do tropicalismo, onde Vinícius de Morais, Dorival Caymmi, Tom Jobim, João Gilberto, Caetano Veloso, Chico Buarque, Toquinho, Gal Costa, Maria Bethânia, entre outros, universalizaram a língua portuguesa exportando-a e originando inúmeros lusófilos. Sem esquecer a cantora e atriz portuguesa, naturalizada brasileira, Carmen Miranda.

Não é apagando as marcas de origem que um artista singra internacionalmente. Antes sim, tendo voz própria e uma marca distintiva que o diferencie com qualidade na diversidade, diferenciando e não banalizando, nem massificando o que é genuíno e como tal deve ser trabalhado, evoluindo e enriquecendo-o, e não apenas normalizando-o, ficando tudo igual, em todo o lado. Tentando, sem mais, equiparar-nos aos outros, normalmente aos tidos como mais evoluídos, abdicando do que nos distingue, além de provinciano, revela incapacidade de nós próprios. Afinal, a capacidade em assumirmos e valorizarmos o que nos distingue é a mais universal das linguagens.

 


13.12. 2016
Joaquim Miguel De Morgado Patrício