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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

  

Returning to the Realm, 2017

 

Após um adorável interregno de férias, eis o regresso ao suave reino. A vida política permanece marcada pelo debate em torno do Brexiting.

Tudo, aliás, parece tão diferente quanto é assaz igual. Se os Tories mantêm o rumo com a manutenção de RH Theresa May MP no leme governamental, apesar da murmuração, o Labour Party acomoda a ambiguidade com novo posicionamento europeu: quer agora garantir um perído de transição com acesso… ao mercado único. — Chérie! À l'impossible nul n'est tenu. A House of Commons ocupa-se em maratona de esgrima em torno da Great Repeal Bill, o diploma âncora na retirada de Britain da European Union. A contrabalançar  a alta mercurial em Westminster, a frente negocial em Brussels evidencia graus árticos. — Well. As you know, bad money drives out good. Além Atlântico, a estação dos tufões causa vítimas e danos. Os Clintons regressam em força às capas das revistas, a par de Mr Al Gore e a climática inconvenient truth. No continente começa a contagem para o teste popular da Bundeskanzlerin Frau Angela Merkel nas eleições federais alemãs. Preocupante é o adensar da crise na península coreana, com guerra aberta de palavras entre Washington e Pyongyang. Nas ilhas, os Duke e Duchess of Cambridge anunciam que esperam o seu terceiro filho. 

 

Sky partly cloud at Central London. O nome é equívoco, mas…surpresa, surpresa. A denominada Great Repeal Bill acaba de confirmar algo de que até agora se duvidava: a existência parlamentar da Her Majesty’s Most Loyal Opposition. À hora a que escrevo, o Labour de Mr Jeremy Corbyn ameaça resistir à aprovação do diploma que determina a integral transposição das leis europeias para os Statute Books, algo que, convenhamos, é de todo em todo distinto do sugerido no título. Os conservadores censuram o gesto como visando gerar “caos and confusion” na Brexit e boa fatia dos observadores vê aqui fio conspiratório da resistência ao divórcio continental. Seja como seja, a bem de democracia, os trabalhistas questionam os chamados poderes do King Henry The Eight  que a proposta governamental entregará aos ministros “without a proper parliamentary scrutiny.” Se o enredo nos Commons ostenta uma singular ironia histórica, logo o Tudor!!, a vera novidade deste Summer vem das fileiras eurófilas. Em mais uma intervenção pública, nas Sunday Politics de ontem, RH Tony Blair aponta a responsabilidade do voto eurocético à… emigração maçiva. Daqui parte para refrescada via para intentar segundo euroreferendo: na sua ótica, basta que o UK adote “tougher immigration policies” e a outra Union reforme o seu modo de funcionamento, Comentário desta manhã do grande Nick Ferrari na LBC: “This is the man who presided over opening the gates.”

 

Sublime mesmo nestes dias outonais é o regresso de Victoria. Mrs Jenna Coleman corporiza novamente a segunda série da ITV sobre a jovem rainha, quando Dame Jude Dench está em vésperas de revelar no celuloide um seu tardio amor ― até agora omisso nas crónicas reais e que não é o querido cavalo Almonzo. Para já saboreie-se a elegância neoclássica do conto televisivo, ao som inconfundível da Gloriana, dado que bem escrito e bem interpretado. A história retoma a prévia meada, cujo finale fora o nascimento da homónima primogénita do casal Saxe-Coburg. Porque as tensões up and downstairs estruturam a trama, eis a monarca às voltas com os delicate times da maternidade e ainda com os dédalos teutónicos a somar à gestão dos assuntos num reino em notável metamorfose. Os três primeiros episódios são soberbos no entrelaçar da visão política e da vida familiar, entre os lençóis reais e as Corn Laws, sobre a tela do poderoso império global em construção. O resultado fílmico é simplesmente  excelente. A tal nível de qualidade, também a criadora Mrs Daisy Goodwin está a erguer mais um Brit drama para conquistar o globo. — Great, indeed. And as Master Will writes in his unique Midsummer Night's Dream, let us leave with a fine heart: — “So, good night unto you all. / Give me your hands, if we be friends, / and Robin shall restore amends."

 


St James, 11th September 2017

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

An historical date, 29 March 2019

 

HM Elizabeth II apõe o Royal Assent na European Union (Notification of Withdrawal) Bill. O PM Office anuncia que accionará a cláusula de saída da EU no próxima quarta-feira e imediatamente RH Theresa May inicia em Wales mais uma ronda de contatos às quatro nações do reino unido.

  O calendário fixa a histórica Brexit para 29 March 2019. —  Chérie. En toute chose il faut considérer la fin. Com a campanha interna do No. 10 aberta em Swansea (Wales) e o parlamento de Scotland a votar amanhã novo referendo independentista, já Westminster centra o olhar noutros temas prementes. O ex Tory Chanceler of Exchequer a todos espanta com o seu recrutamento para editor do London Evening Standard, sendo agora por cá conhecido como RH George ‘Six Jobs’ Osborne. Também o Labour Parliamentary Party protagoniza exaltada reunião com o líder RH Jeremy ‘Red’ Corbyn. — Hmm. Clothes do not make the man. France visiona longo debate televisivo entre os principais candidatos presidenciais. Netherlands dá a vitória eleitoral aos liberais do Premier Mark Rutte face aos eurocéticos de Mr Wim Welders. Washington assiste a frosty Trump-Merkel Summit na White House enquanto Capitol Hill investiga a conexão russa que pode desaguar em impeachment process com o GCHQ pelo meio. O Sinn Féin diz adeus a Mr Martin McGuinness.

 

Light rain at the begginings of the London Springtime. O alinhamento entre Downing Street e Buckingham Palace ganha visibilidade no Brexiting, tanto na frente interna como na frente externa. Passados os escolhos nos dois lados de Westminster Square, sejam as Houses of Parliament e o Supreme Court of Justice, a mais importante lei no nosso tempo ruma à secretária de Her Majesty The Queen. Elizabeth II tem constitucionalmente três opções: selar, recusar ou demorar a EU Bill. Sem delongas despacha o Royal Assent, através de letters patent unidas ao articulado legislativo, logo remetidas aos Commons para aqui se anunciar de viva voz a decisão da monarca: "La Reyne le veult." A tradicional fórmula em Anglo-Norman Law French é saudada com cheers dos MPs e não deixa de ser astral ironia que, segundo os anais de Westminster, o último veto real, em 11 March 1707, pela Queen Anne, haja incidido sobre a Bill for the settling of Militia in Scotland. Mais faz o cetro: os Dukes of Cambridge viajam até Paris em missão oficial de charme.

 

O avanço da Brexit materializa-se com anúncios públicos de prontidão em London e Brussels. Incontornáveis são os contornos homéricos do processo. Whitehall prepara um pacote legislativo, estima-se que 15 leis de enquadramento setorial, para acompanhar The Great Repeal que ecoará em May no Queen’s Speech. Até lá, é a vez da Prime Minister testar as suas habilidades diplomáticas na campanha interna de unificação de vontades e propósitos. Se era expetável que a saída do UK da European Union serviria de pretexto para nova batalha dos independentistas no parlamento de Holyrood, o cenário geral com que Mrs May se depara é bem mais complexo. Vejamos quem se sentou na primeira cimeira doméstica, a 24 October 2016, entre Downing Street e as autoridades de Edinburgh, Cardiff e Belfast. À volta da mesa encontram-se uma English Tory, uma Scottish nationalist, um Welsh socialist e uma Ulster unionist mais um Irish republican. Acresce que o euroreferendo de 23rd June reflete os votos a favor de England e Wales mas contra de Scotland e da Northern Ireland. Não por acaso é RH Theresa May MP comparada a formidável personalidade histórica na manutenção da coroa: Elizabeth The First. À Good Queen Bessie valeram os divinos ventos do Channel quando atacada pela Invincible Armada.

 



A tarefa de Mrs May igualmente requer boa ventura na outra Union. Que as nuvens se avolumam além Channel observa-se sobretudo na fragmentada paisagem política gaulesa. No debate presidencial de três horas e meio entre os cinco principais candidatos ao Palais de l'Élysée, por maiores que foram os esforços de Madame Marine Le Pen para debater a situação europeia criada pela Brexit, multiplicado foi o silêncio manuseado pelos rivais – acrescido pela câmara de eco dos mass media. Evidente é a frente continental dos eurófilos. Em vésperas de RH G Osborne assumir as vestes de jornalista e fazer do London Evening Standard um jornal de combate dos Remainers, soa estranha equivalência na Spring Party Conference dos Liberal Democrats que tudo revela quanto à nova retórica dos contrários. RH Tim Farron acusa a comunitarista Theresa May de prosseguir as “aggressive, nationalistic politics of Trump and Putin.” Assim vamos quando nos US ocorre peculiar cimeira. O President DJ Trump recebe a Bundeskanzlerin Angela Merkel. Afirma-se não isolacionista e pró NATO ao apresentar faturas a Berlin. Ora, a linguagem corporal dos dois líderes diz do máximo desconforto existente nas neo relações continentais transtlânticas. No mais, passados 100 dias da administração republicana, The Trump Show goes on. Em Capitol Hill projeta-se já cibersequela do clássico de Holywood: The Comies are coming…

 

Com a novel interdição dos dispositivos eletrónicos nas viagens aéreas de paragens exóticas no Middle East e previsível agitação em torno da Pound Sterling para a próxima estação de veraneio, examinemos atempadamente destinos turísticos para caseiro 2017 Summer. O Sunday Times ajuda. No seu guia anual dos "best places to live in Britain" distingue a amena cidade de Bristol, à frente de campeões regionais como Peckham na Great London, Wadhurst em East Sussex ou Shipston-on-Stour em Warwickshire. A urbe portuária está geminada com o Porto e tanto a esplêndida traça natural como os pergaminhos recomendam visita. A Royal Charter recua a 1155. Cedo floresce o condado do South West England, autonomizando-se de Gloucestershire e Somerset em 1373 e conquistando foro a desenho de Master Robert Ricart em 1478. A terra fértil coloca Bricstow entre os grandes contribuintes do trono desde o medievo, com a cruz e o comércio a globalizar os elos com outros reinos de cruzados e navegadores. — Well. Remember what Master Will says in his Jacobean play Pericles, Prince of Tyre about the maritime lives: — Master, I marvel how the fishes live in the sea. | Why, as men do a-land; the great ones eat up the little ones; I can compare our rich misers to nothing so fitly as to a whale; a’ plays and tumbles, driving the poor fry before him, and at last devours them all at a mouthful. Such whales have I heard on o’ the land, who never leave gaping till they’ve swallowed the whole parish, church, steeple, bells, and all.

 

St James, 21th March 2017

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

Blue beginnings, 2017

The Queen anunciará no próximo discurso oficial de abertura do estado que o United Kingdom reestitui a plena soberania sobre as suas terras e gentes, as suas leis e fronteiras. Tal qual como em 1533 é a Lex Terrae Victrix, a afirmação real da supremacia da ancestral Common Law, diretamente derivada da divina lei da natureza a que hoje chamamos razão.

Her Majesty  abraça a mudança e a visão de uma Global Britain, Greater still. Elizabeth II cortará os laços com a eurocracia de Brussels, não com Europe. Desde já o reino está on the move. — Chérie! Et au Printemps aller voter la plus eurosceptique nation du continent! A Prime Minister RH Theresa May MP calendariza a “Great Repeal Bill” para March 2017. — Well! Expeditions clearly agree with us. O Deustche Bank está em crise. Alem Atlantic Ocean, termina a visita dos Dukes of Cambridge ao Canada e America assiste a extraordinário debate presidencial. Mrs Hillary R Clinton vence o nativismo de Mr Donald J Trump. Às voltas com finuras fiscais, e outras, a candidatura republicana agenda revelações ligadas ao Wikileaks. O US President Barack Obama cessa os esforços de cooperação com Moscow para um cessar fogo humanitário na Syria. O país morre, transformado que está numa micro guerra mundial entre potências e jihadistas. Israel perde o founding father Mr Shimon Peres. A cápsula espacial Rosetta extingue-se como pó no asteróide 67P, após a well done star mission. A Tintin Magazine comemora 70 anos.

 

 

Sunny glorious blue sky at Central London. Mas é na Birmingham de RH Joseph Chamberlain, (1836-914), um dos liberal unionists cujo engenho patriótico ergue o império vitoriano em Africa, South Pacific e West Indies, que os Tories are making the weather. Reúne a primeira conferência dos Conservatives sob a liderança de Mrs Theresa May e é todo um mar de subtis diferenças face ao Cameroonism reinante há apenas 100 dias. Igual azul, sim, agora porém sob a mensagem triádica de “a country/economy/society that works for everyone” que posiciona o partido ao centro e atribui ao estado (ordeiramente gerido) um papel ativo na educação, habitação e industrialização. O conservadorismo britânico reinventa-se e amiúde cruza os evangelhos da Gladstone age com o visionarismo de Sir Winston Churchill e o talento de Lady Margaret Thatcher. Surgem novos protagonistas, ambiciosas políticas e arejadas prioridades, adaptados uns e outras à circunstância política criada pelo euroreferendo de 23rd June. Anda até por ali espírito de missão histórica, fundada na visão de uma nova era global para o free trade, ancorada na British Commonwealth e no entendimento que o British people deliberou por integrais political and economical freedoms. A abrir, sem mas ou ses, também sem opt-outs de nacionalismos indesejáveis, a Prime Minister certifica o rumo do voto popular: O UK está de saída da European Union e a rota é “to making Parliament sovereign once again“ Nota importantíssima: acaso as instituições continentais insistam no binarismo free movement & single market, London já escolheu ― o controlo das fronteiras e o primado da lei comum.

A literatura inglesa tem páginas notáveis sobre o nascimento das coisas. “A beginning is the time for taking the most delicate care that the balances are correct,” escreve Mr Frank Herbert em Dune. “To begin your study of the life of Muad'Dib, then take care that you first place him in his time: born in the 57th year of the Padishah Emperor, Shaddam IV. And take the most special care that you locate Muad'Dib in his place: the planet Arrakis. Do not be deceived...” E é o Manual of Muad'Dib que contém o fio da sabedoria transmitido na irmandade Bene Gesserit, pela voz da Princess Irulan: “Beginnings are such delicate times.” Nos Four Quartets explica Mr T. S. Eliot que “to make an end is to make a beginning. The end is where we start from.” Que nenhuma chancelaria duvide da real prerrogativa e dos meritocratas no poder nas Houses of Westminster, ambos os pólos do realm imbuídos do Churchillian way: “Achieving world security while yet preserving national rights, traditions and customs.” Não por acaso logo no ICC de Birmingham os Brexiters escoltam a firme intervenção da PM. Ao Foreign Secretary The Rt Hon Boris Johnson MP cabe justamente invocar Sir Winston: “The empires of the future are the empires of the mind.” E o Good Old WSC cedo sinaliza que “the price of greatness is responsibility.” Começa a Brexit rollercoaster.

Algumas palavras ainda sobre o que se passa no Labour Party após RH Jeremy Bernard Corbyn hastear a bandeira de designado “21st-century socialism” no fecho da conferência em Liverpool. A proposta recupera as 70s politics, com despesa pública a jorros entre os impulsos sindicais, condimentada com um ventilado desarmamento unilateral. No mais do new flower power, e face ao Brexiting - Act 1, Comrade Jez continua a negociar com os MPs rebeldes para formar coerente Shadow Cabinet. A luta continua, pois, entre fações. Haverá alguns progressos, legíveis nas sucessivas manchetes de The Socialist. A palavra de ordem “kick out the Blairites” está substituída no Corbynist movement por… “kick out the Tories and the Blairites,” E há desventurados episódios. A atestar que a hard left faz do ido radical RH Michael Foot um suave social democrata, de novo os membros para o HM Privy Council violam os protocolos seculares. O inefável Shadow Chancellor RH John McDonnell informa que “will not kneel for the Queen.” A consciência de classe impede-o. Ora se o patriotismo do 1st Earl Attlee que está na fundação da NATO dificilmente teria hoje lugar no Lab, temo concluir que mesmo o rosto do desastre vermelho na 1983 general election encontraria resistências. É que, segundo o próprio, republicano e anti estalinista, fiel ao ideário de RH Aneurin Bevan (o autor do NHS Act), o senhor era leal ao Parliament como instituição e algures ousa confessar a sua “affection for the Queen.”
 

Em vésperas da publicação das memórias de RH Ken Clarke (o ex ministro Tory que classifica a PM como “a bloody difficult woman”) e do teledebate entre os candidatos a Vice President na White House Race (sabeis quem são?), para os pares fãs de Dame Agatha Christie fica a nota final. A 20th Century Fox prepara uma novel versão de Murder on the Orient Express, se bem que na velha modalidade de all-star cast. Da pré produção saem indicações da centralidade no mistério de Mr Kenneth Branagh em companhia onde pontuam Dame Judi Dench, Mrs Michelle Pfeiffer, Daisy Ridley e Lucy Boynton a par de Mr Tom Bateman, Michael Pena e Johnny Depp. O livro de 1934 é um dos clássicos com Monsieur Hercule Poirot, na boa tradição de Mr Sherlock Homes e do whodunit, sendo classificado como “a perfect crime.” — Well! Play with Master Will and the ghosts bordering the state of Denmark in The Tragedy of Hamlet: — There are more things in heaven and earth, Horatio, / Than are dreamt of in your philosophy.

 

 

St James, 3rd October 2016

Very sincerely yours,

V.