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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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MEMÓRIAS DE EMÍLIO RUI VILAR (II) - O CITAC

 

Em texto anterior, referimos o livro de memórias de Emílio Rui Vilar, recentemente publicado, denominado “Varia II - Memoriae”. E tivemos então ensejo de evocar algumas ligações ao teatro como criatividade literária e como arte de espetáculo. Hoje, precisamente, damos conta de textos também evocativos do CITAC - Centro de Estudos de Teatro da Academia de Coimbra, a que Vilar presidiu.


Ora, o que sobretudo nos interessou foi o relacionamento entre a criação do CITAC e a renovação empreendida, a nível cultural e profissional, por diversíssimas individualidades e entidades, de uma forma ou de outra ligadas à atividade teatral. E nesse aspeto, o que aqui nos propomos evocar é a ligação a projetos e atividades de expressão teatral, citadas no livro e que marcaram a cultura e a sociedade portuguesa, durante décadas. Vale pois a pena estas breves referências.


Sobretudo, evocamos o texto publicado em 2006 para comemorar os 50 anos do CITAC. Pois, para além do âmbito direto da análise em si, faz-se um conjunto de referências a iniciativas de estudo e produção teatral ligadas aos meios estudantis, mas sobretudo, a evocação da personalidades que marcaram, na época, o teatro português, fossem ou não aqui nascidos e prosseguissem ou não carreiras e ações de expressão teatral.


Nesse aspeto, tem o maior interesse a evocação de iniciativas que na época estabeleceram a ligação do teatro estudantil e universitário com a própria cultura teatral subjacente, mas também com o profissionalismo que, mesmo em Portugal, ia marcando a cultura e a sociedade...


Muito concretamente, o CITAC constitui pois o grande tema de dois textos, o primeiro datado de 1961, o segundo datado de 2006. E é então de referir que Emílio Rui Vilar presidia ao CITAC em 1961 e nessas funções inaugurou o III Ciclo de Teatro.


E mais relevante, será então o outro texto evocativo dos 50 anos do CITAC, o qual “nasce”, diz-nos o texto, em 26 de fevereiro de 1956, data de aprovação dos estatutos pela Associação Académica de Coimbra. Em 1961, Vilar era presidente da Direção.


Mas mais relevante ainda, será o outro texto evocativo do CITAC, este referente ao cinquentenário celebrado pois em 2006. E aí, Vilar evoca especificamente algumas iniciativas de teatro estudantil, como designadamente o TEUC – Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra ou o CAIT - Círculo Académico de Iniciação Teatral. Mas o que agora mais nos importa é sobretudo referir como nessas décadas o meio teatral português se ia afirmando, através de grupos estudantis ou profissionais, sem dúvida, mas sobretudo pela criatividade dramatúrgica que nessa época foi de facto relevante e que Vilar evoca com objetividade. E nesse aspeto, são referidas atividades de relevo cultural em diversos países.


Mas o que aqui ainda mais nos interessa é sobretudo evocar a estreia de textos de autores portugueses mas também o relacionamento com o teatro que na altura era feito pelas companhias profissionais e pelas companhias de estudantes. Desde logo, segundo texto evocativo do CITAC no livro de Paulo Quintela, evoque-se designadamente um Circulo Académico de Iniciação teatral – CAIT, formado por alunos do Liceu D. João III!... desse não temos grande notícia.


Mas Vilar evoca autores e teatrólogos que, enfrentando óbvias dificuldades, desenvolveram o teatro em Portugal. Mesmo quando as origens dessa renovação também se ligam a meios culturais e teatrais bem mais desenvolvidos. E nesse aspeto, são citados por exemplo o Teatro-Estúdio do Salitre de Gino Saviotti, o Círculo de Cultura Teatral e o Teatro Experimental do Porto de António Pedro. E mais tem havido, e mais haverá a dizer...

 

DUARTE IVO CRUZ

MEMÓRIAS DE EMÍLIO RUI VILAR (I)

Emílio Rui Vilar.jpg

Assinala-se, neste artigo, o recente livro de Emílio Rui Vilar intitulado abrangentemente e significativamente “Varia II – 2012-2019 – Memoreae”, assim mesmo: e desde já refere que este título, no seu envolvimento clássico e de expressão latina, sintetiza e consubstancia a vasta abordagem de memórias, com uma temática que tem, além de tudo o mais, a própria variada atividade cultural/curricular do autor e a relevância que assume, pela intervenção, insista-se como autor/criador, e pelas funções desempenhadas como escritor e como dirigente de tantas entidades, todas relevantes e algumas delas primordiais na cultura e na intervenção da sociedade portuguesa.

E desde já se insista novamente que se trata então de um segundo volume de Memórias, englobando por intervenção diretiva, por colaboração destacada ou por acompanhamento também direto, todo um longo e decisivo período de atividade cultural a nível nacional, mas não só, a internacionalização é fator relevante, na análise direta/curricular, mas também na seletividade em si mesma dos temas.

E desse modo, justifica-se esta sucessiva referência por artigos diversos e muito variados no temário: ou não estivéssemos a analisar, como já se disse, um segundo volume da atividade curricular que cobre neste livro o período, já referido, de 2012-2019, mas que vem, no plano profissional direto, de 1958.

Nesse ano, recorda-se no livro, Emílio Rui Vilar, estudante na Universidade de Coimbra, surge como fundador do Círculo de Artes Plásticas da Academia de Coimbra (CITAC) e em 1960 como presidente do CITAC – Centro de Estudos de Teatro da Academia de Coimbra. Já tenho tido ocasião de referir a relevância que, durante anos, esta estrutura cultural/estudantil alcançou e manteve na cultura teatral portuguesa.

O livro traz-nos pois numerosas citações e transcrições de textos acerca do CITAC: e delas podemos expandir a análise para a arte e o espetáculo teatral em si mesmo, na abrangência complexa que o estruturam: texto, representação, comunicação com o público e sentimento/ideologia inerentes, o que abrange todos os estilos, conteúdos e formas da arte teatral.

Assim, em 1961, Emílio Rui Vilar define o palco como “esse pedaço de chão iluminado, cujas origens se perdem na penumbra do tempo, nascido talvez duma clareira de floresta quando o homem procurava, em passos de magia animista, os seus primeiros deuses e as suas primeiras verdades”. (cit. pág. 468).

Ora, independentemente do estilo subjacente, o que ressalta de facto é o origem histórica e cultural desta expressão das artes do espetáculo, desde logo envolvendo o respetivo conteúdo humanístico.

E a conciliação com a própria expressão de espetáculo, e não apenas de situação literária, surge logo a seguir: “E drama é, no mais puro significado da palavra, ação, aquilo que se passa na cena. Do palco e drama é feita a arte do teatro”.

E daqui se conclui então, entre outras características, “a elementar obrigação que nasce para o teatro de ser instrumento de educação e de a circunstancialidade em que ele vive não só o permitir, como fomentar de forma saudável”...

E o livro prossegue com mais referências ao teatro em geral, e ao CITAC em particular.

E quanto a esses, poderemos em mais artigos, novamente evocar esta iniciativa nas suas dimensões específicas sobretudo de teatro de expressão didática e de ligação universitária. E descentralizadora.

 

DUARTE IVO CRUZ