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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICA DA CULTURA

Tempos e Poder

  


A etnografia bem nos ensinou o quanto os reis se não contentam com uma permanência esporádica na ideia dos seus súbditos.

Em rigor, a evocação do seu nome, ao constituir uma autorização ao súbdito para atuar, em muitas situações determinantes da vida social, mais tarde, iria levar a que se não descurassem para realidades similares, o imprimir dos rostos dos chefes de Estado em dinheiro, dinheiro este que por sua vez, estabelece, como se sabe, relações das pessoas entre si.

Também podemos identificar um equivalente entre a grandiosidade dos rituais reais e o desejo de impulso totalitário subjacente aos atuais grandes desfiles e paradas militares, nos Estados totalitários, ainda que, cremos, o poder do soberano não teria uma evidente relação com o poder expresso no fausto que referimos, não obstante em ambas as posições, se visasse, e ainda se visa, a ideia de projetar um poder eterno.

Palácios e mausoléus anunciam conquistas que perduram e fazem parte do nosso património, inclusive enquanto museus, com um poder que não nos obriga, mas pode feitiçar.

Entender a realidade do poder, é compreender o que está entre o que se declara poder fazer, e o que efetivamente se consegue fazer.

O sociólogo inglês Philip Abrams tem como ponto de partida que a individualidade e a sociedade, constituem construções históricas sucessivas, e que, necessário se torna analisar as suas interconexões, sob pena de se não descobrir onde é que o Estado não existe, e onde foi substituído pelas grandes burocracias a nível planetário (FMI, OMC, etc.) impedindo talvez, de muitos modos que a democracia possa, enfim, ser a inevitabilidade competitiva mais desejada.

A etnografia, método consagrado no campo da pesquisa antropológica, não descura hoje a etologia, e o quanto ela tem contribuído para a compreensão do comportamento humano, peça central na civilização.

Cremos poder dizer que até nós não nos chegaram reinos de poder na sua forma acabada e que herdámos amálgamas de elementos conectados entre si, que cabe repensar, refletir em prol dos caminhos mais direcionados aos nossos ideais.

 

Teresa Bracinha Vieira