Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
que as lágrimas eram e porque foram e são uma alegria a assomar-nos aos olhos nessa forma líquida e deles se soltaram e soltam para uma malga que fizemos da matéria do coração para nos darmos a beber quando na cama limpa os corpos nus
Isso foi certo, era certo e é certo o nome dessa realidade
E foi assim ontem e em todos os dias anteriores e hoje
o pulso do poema continua à janela e nós reconhecemo-nos
muito azuis naquela estrela-do-mar que veio ao mundo abrindo imensamente
as mãos até ao ponto mais longínquo,
depois, entrando em casa sim, entrando em casa ávida
como nós
Sim, foi isso mesmo e a partir daí e até quando
começámos a ler os livros abertos sobre o mar redondo
Procurar a felicidade é uma necessidade humana e como todas as necessidades ela é atribuída a uma falta.
Aprender a desenvolver as nossas potencialidades, é tomarmos consciência do sentido que queremos dar às nossas vidas, é tomarmos consciência dos limites e da finitude.
Sabemos que para vivermos melhor todos carecemos de amigos a fim de nos conhecermos a nós mesmos. Ter amigos é, sem dúvida, uma necessidade. Somos seres relacionais e a nossa autonomia implica a própria realidade que nos torna dependentes uns dos outros.
Aristóteles afirmou que a procura da amizade e a busca da felicidade são um mesmo caminho e afirmou mesmo que «quando os homens são amigos, não há necessidade de justiça».
Encontrarmo-nos para conversar é uma harmonia resolvida que implica a harmonia dos outros connosco, e se acaso esta harmonia encontra fissuras, algo nos desassossega no equilíbrio da dependência recíproca, na experiência da comunhão afetiva que é indissociável da condição humana.
A amizade proporciona segurança e autoconfiança; proporciona a meditação entre amigos; proporciona o bem comum que nos conecta: a sympatheia que nos faz sentir afetados pelo sofrer e pelo prazer dos outros.
David Hume cultivou com Adam Smith uma profunda amizade e entendia de que o que motivava o comportamento das pessoas era o calor dos sentimentos e não a fria razão. Assim, este «sentir com» levou-nos também a entender o quanto a felicidade da sociedade é aquela que merece o entendimento daqueles que a compõem.
A felicidade não tem receitas para ser alcançada, mas razões para se não sucumbir ao não esforço por este bem maior - que exige tempo e paciência - na consecução de algo rico, de algo com limite, mas que concede.
Teresa Bracinha Vieira
Obs.
Pierre Aubenque, no seu livro sobre a virtude da prudência aristotélica, e tal como o interpretámos, convida-nos a refletir sobre o querer apenas o que é possível e desfrutarmos da vida até onde ela depende de nós.
Jesus Mosterín, no seu livro Racionalidad y acción humana, e tal como o interpretamos, atenta o quanto a racionalidade não promete o caminho da felicidade, mas pode constituir um guia de onde podemos extrair soluções para prosseguirmos os nossos fins «(…) que são mais amplos do que as nossas vidas e que se espalham no tempo.»
Para Aristóteles o homem é um ser social, sendo a procura da felicidade a finalidade da vida, só no fim se podendo dizer se fomos felizes.
Há quem diga que a felicidade está nas pequenas coisas, num cheiro apelativo e sedutor matinal, em estados de alma.
E quem sustente que é uma atividade, não um estado.
Se para uns o trabalho é escravatura, para outros é ser feliz.
Temos de trabalhar a felicidade, num equilíbrio entre interesses pessoais, impessoais e o trabalho, sabido que este, mesmo com amor e gosto, não preenche as nossas necessidades, menos ainda as espirituais.
Necessário é o meio termo, para fixar o equilíbrio entre o esforço exigível para saber o que é indispensável à maioria das pessoas para serem felizes.
O que exige atividade e esforço, desde a alimentação, a habitação, o amor, reconhecimento e compensação profissional, saúde, respeito de quem e por quem nos rodeia. Para alguns, constituir família e ter descendência. Ou ter interesses por aquilo que não tenha uma importância prática na vida.
Há interesses à margem das atividades essenciais da nossa vida que nos ajudam a manter o sentido das proporções, que são gratificantes e momentos felizes: uma boa leitura não relacionada com a nossa atividade profissional, ir a jogos, ao cinema, ao teatro, caminhar, correr, atividades e práticas desportivas, artes e cultura em geral.
Segundo Aristóteles, sem amigos não se alcança a eudemonia, palavra grega que significa felicidade, sendo caso para dizer, exemplificando-o: se grande remédio do mal foi sempre a conversação, idem uma boa conversa a dois.
Há coisas imprescindíveis à felicidade da maioria das pessoas: saúde, alimentação, habitação, amor, ter trabalho, ser respeitado, liberdade de circulação e de movimentos. Para alguns, constituir família e ter descendência é fundamental. Na sua ausência, só alguém excecional é capaz de ser feliz.
As pessoas que gozam de saúde e podem satisfazer as suas necessidades, deveriam ser felizes, e nem todas o são.
Quem adquire facilmente as coisas que deseja, sem esforço, e mesmo assim é infeliz, dá razão a quem conclui que o privar-se alguém de algumas coisas de que precisa é parte indispensável da felicidade.
Mas a felicidade não é uma evidência.
Cada um tem a sua interpretação.
Há quem a negue e tenha como uma quimera.
É um conceito amplo, variável no tempo e espaço, de pessoa para pessoa.
Que impõe limites excluindo, desde logo, a obsessão pela felicidade.
A cultura do excesso, do sempre mais e mais, do espírito de competição doentio, do culto do dinheiro sem limites, parece ser um modo de fuga da realidade e de vivermos num mundo virtual.
O dinheiro, por si só, não dá felicidade, apesar de dar jeito e, até um certo limite, a aumentar.
O sentimento de triunfo gerado pelo êxito da competição, torna a vida mais agradável, mas por si só também não chega.
Parecem ser um dos vários elementos da felicidade, sendo demasiado elevado o preço a pagar se em função de um deles se sacrificarem todos os demais.
Será assim se se considerar o triunfo como um único fim em si mesmo, como a finalidade, o desfecho e meta da vida.
O mercado providencia pela procura em alta da felicidade, oferecendo várias terapias, numa sociedade orientada pela medicalização dos comportamentos e seus litígios, orientações psicológicas ou pontuais, com a pressão social para consumirmos cada vez mais, parecendo sempre felizes.
O que gera uma insatisfação permanente, uma incapacidade de resistência à frustração, criando a ilusão que ser feliz é viver sem angústia, tristeza, derrota, medo, desgosto, entre tantas outras coisas que fazem parte da condição humana, devendo ser aceites e compreendidas como tal e para melhor com elas lidarmos.
O lema de que nada é impossível, tudo depende de nós, está errado.
Há que ter como dado adquirido que saber viver e ser feliz se deve, em grande parte, ao facto de termos descoberto e termos alcançado o que mais desejávamos e, também, por termos excluído dos nossos anseios o incessível, como a aquisição filosófica e científica de um conhecimento absoluto em todas as coisas, ou o prazer ilimitado do culto do dinheiro, sob pena de cairmos no pessimismo, por vezes causa de várias formas de infelicidade, como a de quem tem tudo para ser feliz e ainda assim é infeliz, concluindo que a vida humana é essencialmente desprezível.
Que os nossos interesses sejam tão amplos quanto possível, o relacionamento com as coisas, os animais, a natureza, o nosso semelhante seja o mais factível e saudável, a par de interesses subsidiários, além dos pessoais, que são o núcleo central da nossa mundividência.
É uma mensagem a reter, sem esquecer o sentido crítico, interrogando o sistema, tentando libertar-nos duma realidade distópica e niilista.
Sem narcisismo, egocentrismo, megalomania, vaidade, aborrecimento, tédio, sentimento de culpa, ou de pecado, mania de perseguição, nem agitação, fadiga, inveja ou pessimismo derrotista.
Antes sim, e tão só, um acessível e tranquilo gosto de viver.
1. Agora, há dias de tudo e para tudo. Certamente o dia mais universal é o dia 20 de Março, porque nele se celebra o Dia Mundial da Felicidade. Sim. O que é que verdadeiramente queremos? Não há dúvida sobre isso. Queremos todos ser felizes. O Papa Francisco acaba também de o reconhecer e dizer: “A busca da felicidade é algo comum em todas as pessoas, de todos os tempos e idades”, pois foi Deus que colocou “no coração de todo o homem e mulher um desejo irreprimível da felicidade, da plenitude”. “Os nossos corações estão inquietos e em contínua busca de um bem-estar que possa saciar a nossa sede de infinito”, desejo dAquele que nos criou e que é, Ele mesmo, o amor, a alegria, a paz, a verdade e a beleza.
2. Precisamente por ocasião desse dia a celebrar a felicidade, Vatican News propôs, a partir de textos e declarações de Francisco, uma espécie de decálogo para a alegria e a felicidade.
Ficam aí, em síntese, dez pontos sobre o tema, esse Decálogo.
2.1. O início da alegria é começar a pensar nos outros
O caminho da felicidade começa pela necessidade de passar do egoísmo ao pensar nos outros. “Quando a vida interior se encerra nos próprios interesses”, sem “espaço para os outros”, não se goza da “doce alegria” do amor. Não se pode ser “feliz sozinho”. É necessário redescobrir a generosidade, porque, como disse São Paulo aos Coríntios, “Deus ama quem dá com alegria”. Jesus também disse: “Dá mais alegria dar do que receber”. “Se conseguir ajudar uma só pessoa que seja a viver melhor, isso já é suficiente para justificar o dom da minha vida”.
2.2. Afastar a melancolia
Francisco gosta de citar o livro bíblico de Ben Sira: “Meu filho, se tens com quê, trata-te bem. Não te prives da felicidade presente, e não deixes perder nenhuma parcela de um legítimo desejo que se te apresente no caminho”. “Deus deseja a felicidade dos seus filhos também nesta terra, embora estejam chamados à plenitude eterna, porque Ele criou todas as coisas ‘para que’ todos possam desfrutá-las”. “O cristianismo não consiste, lembra, não consiste numa série de proibições que reprimem os nossos desejos de felicidade, mas num projecto de vida que pode fascinar os nossos corações”. Deus não é invejoso da nossa alegria e felicidade, o seu único interesse é que sejamos felizes, todos, para isso nos criou. Portanto, “quer que sejamos positivos” e não prisioneiros de “complicações intermináveis” e pensamentos negativos. Lá está o dito, que não se deve esquecer nunca: “Por cada minuto que nos zangamos, perdemos 60 segundos de felicidade”.
2.3. Não são o poder, o dinheiro ou os prazeres efémeros que dão alegria, mas o amor
“A felicidade não é algo que se compra no supermercado, a felicidade vem apenas de amar e deixar-se amar”. “Quando procuramos o êxito, o prazer, o ter de forma egoísta e fazemos ídolos, também podemos experimentar momentos de intoxicação, uma falsa sensação de satisfação; mas, no final, convertemo-nos em escravos, nunca satisfeitos, vemo-nos obrigados a procurar mais e mais, sempre mais”. A alegria verdadeira “não vem das coisas, do ter; nasce do encontro, da relação com os outros, do sentir-se aceite, compreendido, amado e do aceitar, do compreender e do amar”.
2.4. Ter sentido de humor
O caminho da alegria também tem um sentido do humor: saber como rir-se das coisas, dos outros e de si mesmo é profundamente humano, é uma atitude “próxima da graça”. O contrário de graça não é desgraça? É preciso dar particular importância à auto-ironia, para vencer a tentação do narcisismo: os narcisistas, diz Francisco, “olham-se ao espelho, compõem o cabelo”. Dá este conselho: quando te vires ao espelho, “ri-te de ti mesmo, far-te-á bem”.
2.5. Saber agradecer
A alegria também consiste em poder ver os presentes que todos os dias a vida nos oferece. Estar vivo, a maravilha da beleza da vida e das coisas grandes e pequenas que preenchem os nossos dias. Por vezes, a tristeza está relacionada com a ingratidão, com “a incapacidade de reconhecer os dons de Deus”. É preciso seguir o exemplo de São Francisco de Assis, “capaz de sentir-se emocionado com gratidão diante de um pedaço de pão duro ou louvar a Deus com alegria pela simples brisa que acariciava o seu rosto”. Viver com alegria também é “a capacidade de saborear o essencial” com sobriedade e partilhar o que se tem, renovando “em cada dia o maravilhamento pela bondade das coisas, sem se afundar na opacidade do consumo voraz”. Um coração que sabe ver e como agradecer e louvar é um coração que sabe regozijar-se.
2.6. Saber perdoar e pedir perdão
Num coração devastado pela ira, pelo ódio e pelo rancor, não há lugar para a felicidade. Quem não perdoa causa dano, prejudica-se, antes de mais, a si mesmo. O ódio é causa de tristeza e autodestruição. É preciso perdoar como Deus nos perdoa. Perdoar inclusivamente a si mesmo. Infelizmente, observa Francisco, por vezes “não somos conscientes do perdão de Deus”, e isto vê-se nas caras tristes dos cristãos. E recorda um filósofo que disse: “Os cristãos dizem que têm um Salvador; eu acreditarei, acreditarei no Salvador, quando tiverem o rosto de gente salva, de redimidos, felizes por estarem salvos”. O que faz o perdão? “Engrandece o coração, gera a partilha, dá serenidade e paz”.
2.7. A alegria do compromisso e o descanso
Francisco convida a experienciar a alegria de trabalhar com outros e pelos outros na construção de um mundo mais justo, fraterno e livre. E, “contra o pensamento dominante”, apela para o espírito das Bem-aventuranças, que são “o caminho da verdadeira felicidade”. São felizes “os simples, os humildes que deixam espaço para Deus, que sabem chorar pelos outros e pelos seus erros, continuam tranquilos e serenos, lutam pelo justiça, são misericordiosos com todos, mantêm a pureza do coração, trabalham continuamente pela paz e permanecem na alegria, não odeiam e até, quando sofrem, respondem ao mal com o bem”. As Bem-aventuranças não são comportamentos e virtudes para heróis, mas um estilo de vida para aqueles que se reconhecem necessitados de Deus. Não perdem “nunca de vista o caminho de Jesus”: estão sempre com Ele no trabalho e sabem descansar com Ele para empreender o percurso com alegria.
2.8. Oração e fraternidade
Pelo caminho da felicidade também há provações e fracassos que podem levar ao desalento. Contra isso, duas indicações, para não perder a esperança e não se render: perseverar na oração e nunca caminhar sozinho. “A oração muda a realidade, não o esqueçamos. Muda as coisas ou muda o nosso coração, mas muda sempre a situação. Rezar é agora a vitória contra a solidão e o desespero”. E Francisco adverte contra a tentação do individualismo: “Sim, podes ter êxito na vida, mas não, sem amor, sem companheiros, sem essa experiência tão bela que é o arriscar juntos. Não se pode caminhar sozinho”.
2.9. Abandonar-se nas mãos de Deus
Na vida, há o tempo da cruz, da noite e da dúvida, momentos tenebrosos em que nos sentimos abandonados por Deus, e é nesse silêncio de Deus que precisamos ainda mais de nos abandonarmos confiadamente nas suas mãos. Aí, encontramos a paz, na certeza de que “as graças do Senhor não terminaram, as suas misericórdias não se esgotam”. Como diz Jesus: “A tua tristeza transformar-se-á em alegria ‘e’ ninguém poderá tirar-te a tua alegria”. “A Boa Nova é a alegria de um Pai que não quer que nem um dos seus filhos se perca”.
2.10. Saber que és amado
A alegria autêntica provém do encontro com Jesus, de acreditar que Ele nos amou a ponto de dar a sua vida por nós. Fonte da alegria verdadeira é saber que somos amados por Deus, que é Pai e Mãe. Fundamento inabalável da alegria é escutar Deus que nos diz: “Tu és importante para mim, amo-te, conto contigo”. Para Deus, “não somos números, mas pessoas” que Ele ama. “Nascemos para nunca morrer, nascemos para desfrutar eternamente da felicidade de Deus”.
3. Este é o segredo do Papa Francisco: “Sou amado, logo existo”. Por isso, “não tem medo de nada”.
Aqui, permita-se-me uma confissão pessoal. Tentei um dia dizer isso numa palestra em Maputo: que valemos para Deus, temos valor para Ele, e isto é que justifica a vida, na perspectiva da doutrina célebre da justificação em Lutero. Vim depois a saber que um moçambicano tinha feito uma caminhada de mais de 10 quilómetros a pé, para ir dizer a uma irmã: “Sabes? Agora percebi: valemos para Deus, temos valor para Ele. Esta é a fonte da nossa alegria. Tinha de vir dizer-to.”
Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia Escreve de acordo com a antiga ortografia Artigo publicado o no DN | 31 MAR 2019
São consideradas nulas as pirâmides conceituais positivadas a menos que projetadas por arquiteto costumeiro em traços de futuro.
ARTIGO 112º
(Legítima Defesa)
Aplicam-se todas as lacunas da alma inerentes à capacidade de sonhar nas exatas condições do possuidor da mesma, desde que visem a transmissão da felicidade dos próprios a pessoa singular, bem como aos povos e às nações:
a) Para efeitos da presente norma entende-se por felicidade transmissível apenas aquela que tenha modo de se eternizar e probabilidade de ser entendida como tal.