Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Morreu o primo de Maria Teresa Horta, Fernando de Mascarenhas. Marquês de Fronteira e conde da Torre, entre outros títulos de que dispunha, foi sempre um democrata e um homem da cultura. Abriu as portas do Palácio de Fronteira a reuniões da oposição à ditadura. Criou a Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, um importante instrumento de divulgação cultural. Foi no palácio que Maria Teresa, ainda criança, o conheceu, bebé recém-nascido. E como ela incomparavelmente escreve...
INFÂNCIA
Éramos crianças
e corríamos com os inusitados animais que imaginávamos tirar da lisura dos azulejos equívocos
que nos rodeavam
A evitarmos a crueldade de cada cisne branco nadando no lago ao fundo
Éramos crianças
e brincávamos com o vento entre as estátuas dos jardins por onde voávamos
Maravilhados diante da estranheza
Lá atrás ficava o palácio onde as nossas mães desatentas fingiam vigiar-nos
Lavrando a beleza
Maria Teresa Horta Lisboa, 12 de novembro de 2014
Foto - Em junho de 2011, Fernando de Mascarenhas fez questão de ser o anfitrião do lançamento do romance «As Luzes de Leonor», em que Maria Teresa Horta revive a figura da marquesa de Alorna, pentavó dos dois primos.
O Fernando era uma personalidade extraordinária. Dotado de uma inteligência e de uma sensibilidade notáveis foi sempre um cidadão empenhado na defesa dos valores culturais, do património e da herança histórica portuguesa. Homem de horizontes abertos, cosmopolita, amante da liberdade soube compreender como poucos uma noção dinâmica de tradição, capaz de entender a memória, de defender a modernidade e de preparar o futuro, sem esquecer os nossos deveres perante as gerações passadas, presentes e futuras. Democrata desde quando a defesa da liberdade obrigava a correr riscos e a ter encontros com a polícia política, soube ser fiel às tradições liberais de sua família e dos seus mais célebres antepassados. Para Fernando de Mascarenhas a defesa do património cultural obriga a ligar a memória material e imaterial, as construções e as tradições, sem esquecer a criação contemporânea e o culto da sensibilidade e da arte. A Fundação das Casas de Fronteira e de Alorna, a preservação do Palácio de Benfica (de tão ricas lembranças) são obras de uma vida devotada à História e à Cultura Portuguesa entre nós e no mundo. O Fernando era um velho amigo, sempre disponível, com a generosidade própria de um aristocrata do comportamento, para usar a expressão António Alçada Baptista. A sua genuína simplicidade era sinal de humanismo e de entrega às melhores causas.
O Centro Nacional de Cultura contou sempre com o seu apoio! Pessoalmente exprimo a maior admiração, estima e amizade!