Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Já aqui foi feita referência ao Cine-Teatro Gardunha do Fundão, salientando a tradição histórico-urbana das salas de espetáculo da cidade e da zona geográfico-urbana em que se inscreve.
Importa efetivamente enfatizar, a nível de todo o país e a nível histórico, esses movimentos de descentralização que se foram implantando num sentido obviamente convergente de desenvolvimento descentralizado de cultura e de espetáculo, com toda a vastíssima abrangência que envolve.
E é relevante referir esse movimento, no que diz respeito a instituições e edificações ligadas ao espetáculo, na transição da relevância teatral para a relevância cinematográfica, sinais generalizados e incontestáveis no seu significado histórico-urbano e cultural.
Ora, como já temos referido, é também de realçar o desempenho da Câmara Municipal na reconversão desta infraestrutura e atividade cultural. Independentemente do desempenho, o que aqui agora referimos é pois essa infraestrutura, que ao longo de décadas pelo menos se tem mantido como tal, independentemente das alterações urbano-arquitetónicas envolvidas, e que oportunamente têm sido aqui evocadas.
Isto sem embargo de referir também a dissidência epocal que neste domínio, repita-se, da atividade e da infraestrutura, sempre acaba por ocorrer.
No caso agora evocado, há que recordar que em meados da década de 60 foi demolida no Fundão uma bela sala oitocentista, na época integrada no então designado Casino Fundanense.
Restaram imagens e descrições de uma pequena sala à italiana, como aliás era quase norma na época (e de certo modo ainda hoje…) a certa altura devidamente restaurada, com camarotes, e pinturas no teto: terá sido reaberta cerca de 1915 mas sofreu sucessivas intervenções e adaptações, até que a Câmara lá instalou o Museu Arqueológico.
Entretanto, em 1958 é inaugurada uma sala de espetáculos, precisamente o Cine-Teatro Gardunha. E já tivemos ensejo de referir que à época este edifício foi devidamente saudado, pela tecnologia de construção em betão pré-esforçado, com revestimento em cantaria de granito da região, o que confere no ponto de vista arquitetónico uma especificidade de certo modo também regional.
Mas o mais relevante seria o torreão, ao qual se tinha acesso através de escadaria implantada no foyer. A sala tinha condições para funcionar como teatro e como cinema, com uma lotação de cerca de 750 lugares. E como tal se manteve em atividade, com óbvio destaque para os espetáculos cinematográficos.
E a partir de certa altura, só esses lá eram apresentados, o que terá mais a ver com as condições de produção e atividade cultural da época, do que propriamente com a exploração da sala e do público: assim era e de certo modo assim ainda é em todo o país…
Encerrou atividade nos anos 90 do século passado. E no entanto, importa destacar a singularidade do edifício, dominado pela torre.
Na época a Câmara Municipal definiu o processo de reabilitação do edifício preenchendo assim uma lacuna a nível de infraestruturas do Concelho no que respeita a equipamentos de espetáculo. E nessa componente técnico-artística participou José Manuel Castanheira como arquiteto responsável pelas áreas de recuperação e espaço de espetáculo.
Já tivemos então ensejo de referir este exemplo da chamada geração dos cineteatros. Além de constituírem em si mesmo equipamento arquitetónico e urbano que merece ser preservado, representam importante expressão cultural na globalidade da conceção, construção, urbanização e exploração.
DUARTE IVO CRUZ
Obs: Reposição de texto publicado em 14.09.19 neste blogue.
Já aqui foi feita referência ao Cine-Teatro Gardunha do Fundão, salientando a tradição histórico-urbana das salas de espetáculo da cidade e da zona geográfico-urbana em que se inscreve.
Importa efetivamente enfatizar, a nível de todo o país e a nível histórico, esses movimentos de descentralização que se foram implantando num sentido obviamente convergente de desenvolvimento descentralizado de cultura e de espetáculo, com toda a vastíssima abrangência que envolve.
E é relevante referir esse movimento, no que diz respeito a instituições e edificações ligadas ao espetáculo, na transição da relevância teatral para a relevância cinematográfica, sinais generalizados e incontestáveis no seu significado histórico-urbano e cultural.
Ora, como já temos referido, é também de realçar o desempenho da Câmara Municipal na reconversão desta infraestrutura e atividade cultural. Independentemente do desempenho, o que aqui agora referimos é pois essa infraestrutura, que ao longo de décadas pelo menos se tem mantido como tal, independentemente das alterações urbano-arquitetónicas envolvidas, e que oportunamente têm sido aqui evocadas.
Isto sem embargo de referir também a dissidência epocal que neste domínio, repita-se, da atividade e da infraestrutura, sempre acaba por ocorrer.
No caso agora evocado, há que recordar que em meados da década de 60 foi demolida no Fundão uma bela sala oitocentista, na época integrada no então designado Casino Fundanense.
Restaram imagens e descrições de uma pequena sala à italiana, como aliás era quase norma na época (e de certo modo ainda hoje…) a certa altura devidamente restaurada, com camarotes, e pinturas no teto: terá sido reaberta cerca de 1915 mas sofreu sucessivas intervenções e adaptações, até que a Câmara lá instalou o Museu Arqueológico.
Entretanto, em 1958 é inaugurada uma sala de espetáculos, precisamente o Cine-Teatro Gardunha. E já tivemos ensejo de referir que à época este edifício foi devidamente saudado, pela tecnologia de construção em betão pré-esforçado, com revestimento em cantaria de granito da região, o que confere no ponto de vista arquitetónico uma especificidade de certo modo também regional.
Mas o mais relevante seria o torreão, ao qual se tinha acesso através de escadaria implantada no foyer. A sala tinha condições para funcionar como teatro e como cinema, com uma lotação de cerca de 750 lugares. E como tal se manteve em atividade, com óbvio destaque para os espetáculos cinematográficos.
E a partir de certa altura, só esses lá eram apresentados, o que terá mais a ver com as condições de produção e atividade cultural da época, do que propriamente com a exploração da sala e do público: assim era e de certo modo assim ainda é em todo o país…
Encerrou atividade nos anos 90 do século passado. E no entanto, importa destacar a singularidade do edifício, dominado pela torre.
Na época a Câmara Municipal definiu o processo de reabilitação do edifício preenchendo assim uma lacuna a nível de infraestruturas do Concelho no que respeita a equipamentos de espetáculo. E nessa componente técnico-artística participou José Manuel Castanheira como arquiteto responsável pelas áreas de recuperação e espaço de espetáculo.
Já tivemos então ensejo de referir este exemplo da chamada geração dos cineteatros. Além de constituírem em si mesmo equipamento arquitetónico e urbano que merece ser preservado, representam importante expressão cultural na globalidade da conceção, construção, urbanização e exploração.
Assinala-se aqui a atividade de uma sala de espetáculos no Fundão, e a coerência da designação respetiva, tendo em vista o histórico do edifício. É que se trata da “transformação” de uma antiga fábrica num centro de cultura e de espetáculos: e não é habitual, como bem sabemos, este género de mudanças, no sentido em que aqui se processou: pelo contrário, o mais habitual, pelo menos em certas fases da evolução recente dos meios urbanos, seria precisamente o contrário: rentabilizar um velho teatro situado no centro das cidades em, não digo uma fábrica, mas pelo menos um centro de produção económica.
Ora neste caso do Fundão, o que ocorreu foi precisamente o contrário. Uma antiga empresa de moagem, fundada nos anos 20 do século passado, é transformado, insista--se no termo, em Centro de espetáculo e de cultura: e precisamente, para não haver dúvidas, adota a designação de Moagem – Cidade do Engenho e das Artes.
Trata-se de um projeto do Arquiteto Miguel Correia, inaugurado em 2007, por iniciativa da Camara Municipal que adquiriu a velha fábrica em 2002. Como já escrevemos, comporta duas salas de espetáculo, com 165 e 50 lugares, hoje amplamente utilizadas em iniciativas de âmbito cultural.
Com um aspeto que merece destaque: o edifício conciliou, de forma interessante, a recuperação dos velhos edifícios fabris com a modernidade do corpo central vocacionado para a atividade cultural e de espetáculos: e em boa hora essa atividade perdura.
Manuel Freches, no estudo que dedicou a este Teatro, assinala que “engenho significa a capacidade de criar, de realizar e de produzir com arte”. (in “A Moagem – Cidade do Engenho e Arte “ ed. CMF 2007 pág. 7). Ora, acrescente-se agora, a expressão em si mesma assume, quando aplicada a uma iniciativa de caracter cultural, um eco quase camoniano...
O Fundão é referido no século XVII por Frei Francisco de Santiago que assinala-o entre os “lugares (...) que estão situados por todo o espaço que vulgarmente se chama Cova da Beira”. E três séculos depois, na peça “Entre Giestas (1916), Carlos Selvagem situa em “uma aldeia da Charneca “ o drama amoroso da “Clara Jornaleira” e do António, filho do “Ti Jacinto Cravo, lavrador abastado”. E a descrição da cena inicial documenta a visão realista que, na época, o ambiente urbano local impunha.
Inclusive, cerca de um século decorrido sobre a estreia desta peça, os Paços do Conselho estava instalado num belo edifício da antiga Real Fábrica de Lanifícios. (cfr. “Teatros de Portugal – Espaços e Arquitetura” – ed. Mediatexto e Centro Nacional de Cultura – 2008).
RECUPERAÇÃO DE CINETEATROS DOS ANOS 50: O CASO DO FUNDÃO
Ciclicamente, temos aqui referido antigos teatros e cineteatros, datados dos anos 30 a 50 do século passado, desativados, quando não arruinados: mas trazemos também notícia de iniciativas das Câmaras Municipais respetivas, no sentido de restauro e reaproveitamento desses edifícios.
Importa aliás ter presente que o período foi pródigo, em todo o país, na implantação de cineteatros, muitos deles, aliás, projeto de conceituados arquitetos. Foi uma fase áurea da expansão do espetáculo teatral e cinematográfico pelo “interior”, como na altura se dizia. Mas os tempos obviamente mudaram, e a malha urbana, e as comunicações também. A televisão ajudou: e o resultado de todos estes fatores, no que respeita às artes do espetáculo e aos edifícios respetivos não foi o melhor ao longo da segunda metade do século XX. Antes pelo contrário: só mais recentemente assistimos, em grande parte por mérito do poder local, à recuperação de edifícios de espetáculo.
Neste sentido, é de louvar a iniciativa da Câmara Municipal do Fundão. Pois, tal como noutro lado escrevemos, nos anos 60 do século passado foi demolida uma bela sala oitocentista, integrada no chamado Casino Fundanense. A iconografia da época mostra-nos uma pequena sala à italiana, a certa altura transformada por obras de restauro, com camarotes e pinturas no teto e que retomou atividade em 1915. Mas importa porém referir que “sobreviveu” transformado em sala de espetáculos e mais tarde aproveitado pela Câmara Municipal como Museu Arqueológico.
Entretanto, em 1958, é inaugurado no Fundão o Cine-Teatro Gardunha, o qual na época se singularizou pela tecnologia aplicada na construção em betão pré-esforçado. Mas, já o escrevemos, o que mais se notava era o revestimento em cantaria de granito da região e sobretudo o torreão, a que se acede por uma escadaria a partir do foyer, num conjunto de muito boa qualidade arquitetónica. A lotação desta sala era de cerca de 750 lugares. Funcionou como teatro e como cinema, a partir de certa altura só como cinema: até que encerrou atividade já nos anos 90.
E no entanto, ainda hoje se impõe a singularidade do edifício, dominado por uma torre que se harmoniza com a paisagem e com a malha urbana da cidade.
Precisamente: a Câmara Municipal definiu um programa de recuperação e reabilitação do edifício, preenchendo assim uma lacuna a nível das infraestruturas do Conselho, no que respeita a equipamentos de espetáculo. E nessa componente técnico-artística participa José Manuel Castanheira, que tantas vezes aqui temos citado como arquiteto responsável nas áreas de recuperação de edifícios e espaços de espetáculo.
Importa ter presente que esta geração de cineteatros, além de constituírem, em si mesmos, um equipamento arquitetónico que merece ser preservado, representam uma importante expressão cultural, no ponto de vista de conceção, construção e exploração. Por esse país fora, muitos foram demolidos, muitos estão transformados, muitos abandonados: mas há que os conservar e recuperar. E o Cine-Teatro Gardunha do Fundão merece amplamente o investimento cultural e urbano que a Câmara Municipal está a concretizar.