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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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BREVE EVOCAÇÃO DO TEATRO GARCIA DE RESENDE


Evocam-se hoje os 140 anos da fundação em Évora da chamada Companhia Fundadora do Teatro Garcia de Resende, iniciativa que se desenvolve a partir da aquisição e início da edificação do edifício e, segundo então se pretendiam da atividade cultural inerente. A obra inicia-se em 1881, prossegue mas suspende-se em 1883. O grande animador foi José Maria Ramalho Perdigão.


Mas o certo é que a obra é suspensa por falta de meios e Ramalho Perdigão morre em 29 de janeiro de 1884. Três anos decorridos, a viúva, de seu nome Inácia Fernandes Ramalho, casa em segundas núpcias com Francisco Eduardo Barahona Fragoso, o qual assume grande parte da herança do primeiro casamento de Inácia: e desse casamento resultou, entre tantas mais consequências, o avanço das obras então interrompidas.


Uma vez terminadas as obras, Fragoso doa o Teatro à Câmara Municipal.


E assim surge, concluído, um dos mais antigos teatros municipais inaugurados em Portugal!...A inauguração data de 1 de junho de 1892. E é de assinalar a inspiração direta de aspetos relevantes do projeto e da sua execução.


Evoca-se aqui o que escrevemos sobre este teatro, no estudo intitulado “Teatros de Portugal”: e é de assinalar então que este marcou de forma ainda hoje amplamente assinalável o que na época se fez no sentido da descentralização na arquitetura do espetáculo, digamos assim.


Aí se recorda então, e cito, que um grupo de cidadãos em 1881 constituiu a chamada Companhia Fundadora do Teatro Garcia de Resende e, a custas próprias, adquirem terreno e lançam-se na empreitada da construção. Como mecenas animador aparece José Maria Ramalho Perdigão. Ora a obra parou em 1883 por falta de meios e Ramalho Perdigão morre em 29 de janeiro de 1884. Ocorre então que em 1887 a viúva, Inácia Fernandes Ramalho, casa com Francisco Barahona Fragoso, o qual assume o passivo do Teatro, avança com as obras e doa-o à Câmara Municipal de Évora.


Trata-se de um dos mais antigos teatros municipais do país…


E mais acrescento na obra citada que se trata de uma típica sala à italiana excelentemente equipada e com maquinaria da época. A decoração comportava evocações do Palácio de D. Manuel e também do passado muçulmano da cidade. Mas assinalava-se como uma inspiração direta da estrutura do Teatro de São Carlos: frisas e três ordens de camarotes com decoração naturalista e ainda medalhões de atores a dramaturgos, como era hábito nos teatros da época.


E é de assinalar que o teatro abre ao público para estreia em 1 de junho de 1892. Representou-se uma peça de Eduardo Shwalbach intitulada “O Íntimo”. E acresce uma comédia francesa, tudo isto representado pela Companhia Rosas e Brasão, à época uma das mais notáveis no meio teatral português!...


E cito então aqui o que escrevi, em “Teatros de Portugal” a propósito da visita que Fialho de Almeida fez ao Teatro Garcia de Resende.


Aí recordo que Fialho de Almeida reporta-se a uma visita efetuada com o edifício ainda em obras. Aproveita, com uma proverbial verrina, para apoucar o S. Carlos e o D. Maria mas, dado o estado de ambos em 1872, certamente com razão: “riquezas de pacotilha, bancos sujos, os oiros delicados, papéis de seis vinténs, salões de grisalha besta e plafons de botequim de cavalinhos”…


Pelo contrário, acrescento, o Garcia de Resende, apesar das reservas que lhe merece o exterior, e o acesso, e apesar da sala ser “defeituosamente alta”, merece elogios. A sala apresenta “uma espécie de arcaria gótica de bom gosto”. A decoração do ebenista Leandro Braga é (cito) um “trabalho delicado, sóbrio e elegante, deixa uma impressão de riqueza e de nobreza esparsa”…


Nada menos!...

 

DUARTE IVO CRUZ

Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, 1516

 

 

CANTIGA

Para mim tanto me monta

ser presente com’ ausente,

tudo vem a ũa conta,

porém mal por quem o sente.

 

Esta conta tenho feita

e fizeram-ma fazer,

com saber

que nada nam aproveita.

Assi que tanto me monta

ser presente com’ ausente,

tudo vem a ũa conta,

porém mal por quem no sente.

 

Como se sabe o Cancioneiro Geral, é uma compilação de poemas de poesia palaciana. Os poemas, são escritos em português na maior parte, mas também em castelhano e abordam diversos temas. Este Cancioneiro reúne a primeira coletânea de poesia impressa em Portugal. Recordar que o siso não é calar mas buscar a poesia. Ei-la assim.

 

Teresa Bracinha Vieira