Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Reza a lenda que a Grécia foi formada por Deus quando depois de distribuir pelo mundo as terras, olhou a sua peneira, e deu consigo com inúmeras rochas e pedras a mais, e aproveitou e construiu a Grécia.
Realmente, na Grécia, até as montanhas parecem sair da água, e da República Helénica, quatro quintos são também desfiladeiros e picos grandiosos.
Na Grécia, o coração da geopolítica é extraído de Tucídides e da sua História da Guerra do Peloponeso, obra que ainda serve de base a discussões de aconteceres contemporâneos.
Para Tucídides, o poder hegemónico e o desejo de conquista constituíram o principal fator e base da guerra do Peloponeso. Recorde-se a chamada «armadilha de Tucídides».
Assim, ainda hoje se refere que na origem da guerra esteve sempre o poder ateniense e o medo que tal realidade despertava em Esparta. Hoje também podemos pensar na ascensão da China e nas emoções que os domínios provocam em muitas partes do mundo.
Mais uma vez a Geografia nos ensina a importância da motivação dos comportamentos para a organização dos países e suas modificações culturais e fronteiriças, entre outras.
Como se sabe a geopolítica foi um termo criado no começo do séc. XX pelo sueco Rudolf Kjellén, e tem como objetivo analisar até que ponto a situação geográfica é capaz de interferir nas ações políticas, perscrutando as características do território com o desenvolvimento dos países.
Friedrich Ratzel (1844-1904) considerado como um dos principais teóricos clássicos da Geografia, e influenciado pela obra de Charles Darwin, vem a desenvolver a conhecida Teoria do Espaço Vital.
A Teoria do Espaço Vital, determina que aquelas populações que dispusessem de melhor espaço vital, estariam mais aptas a se desenvolver e a conquistar outros territórios.
Era o modelo político-ideológico que Hitler apresentava para a Alemanha.
Hoje, uma das leituras que podemos fazer, é a de que, se na antiguidade o mar Jónico e o mar Mediterrâneo, foram mares que ligaram comércios, novas ideias, riquezas e também conflitos, hoje podem significar que a Grécia tem de estar atenta ao Médio Oriente, zona de confluência do continente asiático com a Europa e a África, e no qual a economia gira em torno da exploração de petróleo e de gás natural.
Todavia, a orografia (que estuda as nuances do relevo de uma região) e tal como já numerosos invasores antigos constataram - como nas Guerras Médicas lideradas pelos derrotados persas – diz-nos que, na Grécia, esta característica muito a protege de uma invasão, para além de contar também com o mar como defesa natural.
Afinal, não é em vão que o termo «acrópole» significa «cidade alta» também por entre a Geografia e outras leituras do mundo.
Mares, rios, montanhas e betão condicionam as escolhas do poder e limitam o que a humanidade pode ou não fazer.
As características geográficas de uma região definem passado e presente e futuro, no exato momento em que o campo de batalha também se trava na atmosfera da terra.
Se nos lembrarmos que o Irão tem duas grandes características geográficas: as montanhas e os desertos de sal, eis uma fortaleza!
Se nos aproximarmos, o caminho por qualquer angulo é de terreno ascendente e em muitos locais, intransponível. As terras interiores são na sua maioria ermas.
O deserto de Cavir ou o Dasht-e-Kavir é o Grande Deserto de Sal que possui aproximadamente 800km de comprimento e 320km de largura o que se pode afirmar ser o tamanho dos Países Baixos e da Bélgica juntos e, em muitas áreas, o sal à superfície esconde lama tão funda que nela nos podemos afogar.
Deste modo as características geográficas deste país que raramente sai dos noticiários, criam cerco protetor ao regime repressivo e ligado ao terror.
Como se sabe todo o Irão era a Pérsia, sendo que a forma nan-e-barbari (forma do pão persa) tem constituído a sua figura geométrica de base.
Neste país, são também os montes e montanhas que ajudam a descrever curvas, o que significa que poderes que queiram invadir estes territórios, terão de lutar com pântanos, desertos e montanhas que constituem formidáveis obstáculos de preços inimagináveis a pagar.
Contudo, a geografia deste país também o confrange a ficar contido no seu território.
Os grupos étnicos agarram-se à sua identidade e resistem ao estado moderno, e a escassez de água é um dos muitos fatores de atraso económico do Irão, onde apenas um terço do cultivado é irrigado.
Enfim, um início do não esquecer o quanto o espaço geográfico possui carater histórico e engloba as ações humanas sobre o ambiente em que vive.
Confrontada com o risco de perder “o seu modo de vida”, a Europa interroga-se: Quem somos e para onde vamos? Ao sentir-se ameaçada, questiona-se: existe uma identidade europeia? Se há uma ameaça, esta define-se em alternativa ou por oposição a um outro “modo de vida”.
Há fatores comuns da identidade e civilização europeia, havendo que os consciencializar, por maioria de razão em tempos de um adverso choque de civilizações, ideias, culturas.
Há quem recuse essa identidade comum, refugiando-se na história e na política. Quem invoque uma memória de guerras, de imperialismo, colonialismo, neocolonialismo, fascismo, nazismo, estalinismo, conflitos civis, deportações, escravatura e genocídios, confundindo aquilo que somos, nos molda e estrutura, com política e narrativa histórica. Ou quem defenda que não há património europeu, que a Europa é um acidente, um “mal branco”, um covil de supremacistas brancos e racistas, que usaram meios violentos e desumanos para subjugar culturas e civilizações. Quem a veja como um ente abstrato, acima das nações que a integram. Quem o faça por ressentimento ou traumas.
O que não exclui, sob qualquer perspetiva, a existência de referências e valores comuns, não sendo hoje exclusivos europeus, tendo-se disseminado para outras latitudes e longitudes, constituindo a chamada civilização ocidental.
Havendo uma convergência de valores, devemos procurar uma convergência de interesses e uma visão estratégica comum.
Democracia, humanismo, racionalismo, cristandade, iluminismo, separação de poderes, primado da lei, laicismo, tecnicismo, individualismo e direitos humanos são referências e valores comuns à Europa, ao mundo ocidental, seus descendentes e aliados, estando o Ocidente mais amplamente alargado no seu espaço “físico” e mental.
Mesmo na ausência de uma continuidade territorial europeia subsiste sempre a mental e espiritual, como o provam comunidades linguísticas transcontinentais organizadas em blocos linguísticos como a anglofonia, lusofonia, francofonia e hispanofonia. Tendo como referência, no mundo ocidental e global, a presente liderança dos Estados Unidos, é num descendente da antiga Europa imperial que assenta o atual “império” linguístico, dada a aposta na adoção do inglês como língua franca comum. O que, por similaridade, sucede com a língua portuguesa, em termos de projeção, transitando de uma perspetiva lusíada para uma lusófona, a que acresce uma lusófila e como língua de exportação. Em que o Brasil lidera, de momento, com as adaptações inerentes ao facto de também ser um continuador da velha Europa.
Se, por exemplo, são os descendentes e sucessores da antiga Europa imperial os novos impérios linguísticos do futuro, por analogia com o que tem sucedido com o inglês, espanhol, português e francês, tem de haver uma nova mentalidade europeia, um novo paradigma civilizacional, em irmandade com os contributos dos demais povos e, em primeiro lugar, aqueles cujo modo de vida e convivência de costumes agarra mais de perto aquilo que a Europa foi, é e quer ser.
A Europa não pode ser um clube de aristocratas com poses solenes eurocêntricas, tendo que se agregar e ampliar geograficamente, crescer adaptando-se às novas conveniências e realidades estratégicas, sendo cada vez menos uma mera convenção geográfica, em que a fixação das suas fronteiras tem mais a ver com a fixação de um recorte político, cultural e civilizacional, que geográfico.