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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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EXPRESSÕES ROMÂNTICAS E MODERNAS DO TEATRO MEDIEVAL PORTUGUÊS


Evocamos hoje as origens históricas do teatro português, a partir de referências e citações que documentam a realização de espetáculos, e como tal a documentação relativa a textos, a autores e a espetáculos que marcaram na sua forma a cultura e a sociedade da época.


E sem querer aqui desenvolver e documentar excessivamente as referências históricas desta tradição, que esteve na origem do teatro-espetáculo produzido e representado em Portugal, será de qualquer forma oportuno referir as origens do teatro-espetáculo entre nós.


A tradição vem da Idade Média e como tal é analisada.


Para não ir mais longe, basta então referir por exemplo que Fernão Lopes, na "Crónica de D. João I", evoca os momos, os entremezes e os espetáculos realizados na Corte de D. Afonso V.  Na "Cónica de D. João V evoca as festas nupciais e os espetáculos então realizados.


E Zurara refere também os chamados momos da época: eram espetáculos cénicos adequados à expressão literária de então.


Ora, vale a pena lembrar que na 2ª edição da peça "A Morta", escrita em 1890, Henrique Lopes de Mendonça afirma que "em Fernão Lopes encontrei o modelo shakespeariano e formidável que intentei transplanta para a cena", nada menos! 
Refiro essa evocação na minha "História do Teatro Português" (2001).


E também Luís Francisco Rebello na sua "História do Teatro Português" remete para a "Crónica de D. João I" a descrição de Fernão Lopes dos "vários e luzidos jogos" celebrados no banquete do casamento de D. João I em 1387. E desenvolve a descrição (e citamos) dos "momos ordenados pelo Infante D. Henrique por ocasião das festas da epifania em Viseu no ano de 1414 a que se refere Gomes Eanes de Zurara na "Crónica da Tomada de Ceuta" bem como numerosas exibições de espetáculo teatral de época que iriam determinar evocação sobretudo (mas até hoje) a partir do teatro romântico.


Ora, vale a pena evocar Fernão Lopes na origem de peças neo-românticas, como as de Henrique Lopes de Mendonça.


Porque efetivamente, na segunda edição da sua peça "A Morta", escrita em 1890, Lopes de Mendonça relaciona os seus principais títulos de teatro histórico, designadamente "O Duque  de Viseu" e "Afonso de Albuquerque" com a forte dimensão cronológica do teatro histórico da época. E cita então Fernão Lopes. 


Ora como já tivemos ocasião de escrever na "História do Teatro Português", "isto aponta para um escrúpulo de rogos históricos que a forma não acompanha, pois qualquer destas peças é escrita em verso, aliás de cuidadosa feitura".


Mas isso não obsta ao rigor da pesquisa que serviu de base à interpretação cénico-dramatúrgica do teatro de Lopes de Mendonça. Como de certo modo marca a reconstrução dos temas históricos numa renovada abordagem criativa, que separou esta fase da dramaturgia da tradição romântica e ultra-romântica precedente.


 A expressão romântica do teatro, em si mesma evoluiu: mas isso não impede que tenham desaparecido os valores que desde sempre integraram a expressão cénico-dramatúrgica de sucessivas culturas que duram desde sempre.


E como obviamente não impede, antes pelo contrário, a manutenção do património material que lhe serve de suporte.


Iremos pois abordando o vasto e variado tema global.

 

DUARTE IVO CRUZ 

A CRISE DO TEATRO PORTUGUÊS NO INÍCIO DO SÉCULO XX

 

Num estudo muito recente, publicado pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, sobre “O Teatro de Henrique Lopes de Mendonça”, tive ensejo de analisar o conjunto de mais de 30 títulos de peças e textos de maior ou menor vocação de espetáculo deste grande dramaturgo e escritor, que nos deixou designadamente a letra de “A Portuguesa”: aí incluímos, precisamente, a transcrição das três estrofes da íntegra do poema épico que Alfredo Keil musicou.

 

Sobre a dramaturgia, importa agora frisar que Lopes de Mendonça (1856-1931) foi representado em praticamente toda a rede de teatros e salas de espetáculo da transição dos séculos XIX/XX, com destaque óbvio para as grandes salas de Lisboa, designadamente o Teatro de D. Maria II e o Teatro da Trindade, mas também teatros (e depois cineteatros) a nível nacional.

 

O que queremos salientar é a doutrina, chamemos-lhe assim, que Lopes de Mendoça nos deixou sobretudo na síntese efetuada numa conferência a que deu o nome de “Crise do Teatro Português”. Importa referir que essa “crise” ocorria no inicio do século XX: na verdade, a conferência data precisamente de 1901.

 

Ora recordamos que nessa transição do século funcionavam em Portugal e nas colónias cerca de uma centena de teatros. E mesmo assim, Henrique Lopes de Mendonça faz a conferência, publicada na imprensa e precisamente intitulada “A Crise do Teatro Português”. Ora a verdade é que o título de certo modo contém uma contradição: pois a “crise” comportava na época ainda assim centenas de teatros e salas de espetáculo.

 

Destaco então algumas passagens do texto de Henrique Lopes de Mendonça sobre “A Crise do Teatro Português”.

 

Desde logo, a ausência de público. Mas aí, há como que uma contradição, pois Lopes de Mendonça reconhece que são poucas as capitais em que a população local, sem o auxílio da população “flutuante que entre nós é mínima, concorre com maior assiduidade aos espetáculos públicos”.

 

E tal como escrevi no livro acima citado, Henrique Lopes de Mendonça enumera como razão principal dessa relativa crise a falta de apoio aos escritores e aos dramaturgos, a quem refere e qualifica como “trabalhadores do espírito”. E mais refere a articulação entre os interesses legítimos das empresas com o apoio recebido das entidades públicas.

 

Não perdeu atualidade...

 

 (cfr. Duarte Ivo Cruz “O Essencial sobre o Teatro de Henrique Lopes de Mendonça” ed. INCM 2018)

 


DUARTE IVO CRUZ