A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
XCVI - PERFIL DE ANTERIORES E NOVAS VAGAS IMIGRATÓRIAS
Comparativamente às novas vagas imigratórias em Portugal, eram as anteriores, no essencial, de imigrantes das ex-colónias, cuja ligação se fixava, maioritária e naturalmente, por uma língua comum.
Eram imigrantes preferencialmente do espaço lusófono, ao invés de um novo perfil de origem anglófona, francófona, asiática, eslava, entre outros.
Enquanto anteriormente se diferenciavam, na quase totalidade, por baixas rendas e qualificações, há um novo perfil imigratório que se particulariza por serem recursos humanos qualificados e de um elevado património líquido.
Sendo um país intercultural, aberto a imigrantes, de emigrantes e com uma população das mais envelhecidas, é-nos dada uma esperança para amenizar o inverno demográfico e escassez de mão de obra.
Sucede que, em termos linguísticos - e se acreditarmos que o português é um ativo que não podemos desperdiçar - há uma nova vaga de imigrantes que se limita a estar entre nós enquanto auferir um benefício pessoal imediato, não se vendo como solução para os nossos problemas demográficos, económicos e outros, alheando-se da nossa cultura, a começar pela língua, e não reconhecendo em Portugal uma fonte civilizadora.
São, essencialmente, imigrantes muito qualificados, de altos rendimentos, criativos, cosmopolitas, globalizados, falantes fluentes de inglês, entre outras línguas, com capacidade para uma mobilização conjuntural e permanente (de país em país), ao gosto das circunstâncias, não portadores de uma mais valia estrutural, com uma experiência de inclusão limitada.
Interessa que permaneçam, não só porque aconchegados pelo nosso clima, pacifismo, natureza, gastronomia, baixo custo de vida (para eles), mas também abrindo novos espaços e mentalidades, investindo, criando postos de trabalho e integrando-se, o que mais vezes, do que seria desejável, não acontece, manifestando-se amiúde na não aprendizagem da nossa língua.
Nem sempre por responsabilidade exclusiva, dado o provincianismo de alguns portugueses, no próprio país, omitirem o idioma materno e usarem o alheio, mesmo que o interlocutor se esforce por o aprender e falar, chegando ao cúmulo de ter presenciado, num hipermercado, uma portuguesa atender, sempre em inglês, um imigrante que se esforçava, expressando-se e respondendo sempre em português! (apelei a uma colega, que se apercebeu, para chamar a atenção para o exagero, que compreendeu, prontificando-se a fazê-lo, dado me ter antecipado e não poder esperar).
O que nunca exclui, por uma questão de princípio e de respeito para com o país que nos acolhe, que todo o imigrante se tente integrar e aprender, ab initio, o nosso idioma, apropriando-se dele e tornando mais fácil, por arrastamento, a compreensão e interação com a nossa cultura.
Imigrantes de mais baixos rendimentos e qualificações, incluindo países de nível de vida inferior ao nosso, como das ex-colónias, leste europeu e de algumas bolsas asiáticas (não todas), reveem-se mais e melhor, até agora, como solução para a crise demográfica e aprendizagem da língua, sendo esta comum, para alguns.
Anote-se que entre os originários do Brasil, falantes de português na vertente brasileira, há um novo perfil e uma nova vaga de pessoas qualificadas, de altos rendimentos, diferentes dos brasileiros comuns, singularizando-se por bolsas de brasilidade, preferindo ser vistos como “não residentes” e não como “imigrantes”, em paralelo com os que estão de passagem ou trabalham no nosso país para o exterior, em que uma percentagem relevante nos quer mais como de acolhimento que como de integração.
Em qualquer caso, o permanente aumento da população estrangeira obriga Portugal a refletir sobre o seu futuro como país, contando com o perfil das tradicionais e novas vagas imigratórias, em termos de uma maior inclusão e integração (e não só acolhimento), com reflexos na nossa história e cultura, a começar pela língua, um ativo primordial e internacional de projeção global.
03.03.23
Joaquim M. M. Patrício