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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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AS ARTES E O PROCESSO CRIATIVO

 

XXXIX - IMPRESSIONISMO

 

1. Movimento artístico cujo nome advém da tela de Monet Impréssion, que repudiava a pintura académica e de estúdio de natureza clássica, recusando um estilo que idealizasse obras baseadas na mitologia, iconografia religiosa, história ou antiguidade clássica, contrariando uma técnica de pintura tida como adequada e precisa.

 

O impressionismo faz sobressair o reflexo da luz nos objetos e não os próprios objetos, com pinceladas urgentes, momentâneas, velocistas, com explosões de cor compactas, breves, ao ar livre, onde a luz muda permanentemente, captando a sensação de um momento passageiro, em que a informalidade e a velocidade era essencial, em oposição ao ambiente académico, artificial, controlado e solene do estúdio.   

 

Captavam o aspeto momentâneo, singular e continuamente em mudança das coisas, partindo dos efeitos óticos da luz e das cores, normalmente claras, decompondo-as em manchas e pinceladas finas e pequenas, que ao serem observadas a uma determinada distância, refletiam o jogo da luz e do cromatismo, sem dependerem, no essencial, dos contornos, volume corpóreo e da profundidade. 

 

Há quem diga que pinta o espaço que medeia entre nós e os objetos. 

 

O desenho torna-se secundário. É a cor que dá forma. 

 

Embora no contexto atual da arte moderna o impressionismo seja tido como adequado e encantador, por representar e retratar cenas reconhecíveis de uma maneira figurativa, por confronto com a desumanização do cubismo, abstracionismo, dadaísmo e arte concetual, não foi o que as pessoas pensaram aquando do seu aparecimento, dado que, na época, os impressionistas foram tidos como um grupo de arrivistas, rebelde e radical, pintando obras artísticas tidas como meras caricaturas não adequadas aos cânones da Academia, onde imperava o estilo neoclassicista do Renascimento. 

 

Baudelaire, no ensaio O Pintor na Vida Moderna, fez uma interpretação atualista e atualizada do que estava a acontecer, usando o seu estatuto de escritor e poeta consagrado para avalizar os impressionistas, pelo que muitas das suas ideias foram  incorporadas nos princípios básicos fundadores do impressionismo. 

 

Desafiando os artistas a distinguirem na vida moderna o eterno do transitório, tendo como fim essencial da arte captar o universal no presente do quotidiano, escreveu: 

 

“A modernidade é o transitório, o fugitivo, o contingente, a metade da arte, cuja outra metade é o eterno e o imutável. Existiu uma modernidade para cada pintor antigo; a maior parte dos belos retratos que nos ficaram de tempos anteriores estão revestidos de vestuário da sua época. São perfeitamente harmoniosos porque o fato, o penteado e mesmo o gesto, o olhar e o sorriso (cada época tem o seu porte, o seu olhar e mesmo o seu sorriso) formam um todo de uma completa vitalidade. Este elemento transitório, fugitivo, cujas metamorfoses são tão frequentes, não tendes o direito de o desprezar ou de o dispensar. Ao suprimi-lo, caireis forçosamente no vazio de uma beleza abstrata e indefinível, como a da única mulher antes do primeiro pecado”.   

 

2. Teve como principais representantes Manet, Monet, Renoir, Degas, Pissarro, Sisley e,  entre outras, como pinturas célebres Olympia e Almoço na Relva (1863, Édouard Manet), Impression, Soleil Levant (Impressão, Nascer do Sol, 1872, Claude Monet), A Aula de Dança (1874, Edgar Degas), onde são várias as influências sofridas, desde os paisagistas de Barbizon, os efeitos da luz natural do pintor inglês Turner e as xilogravuras japonesas coloridas e bidimensionais Ukiyo-e, com o seu significado de imagens de um mundo flutuante. 

 

As últimas consequências da técnica impressionista, desenvolveram-se com o neoimpressionismo (pontilhismo), a partir de 1885, nomeadamente com Seurat e Signac. Desenvolveu-se paralelamente ao processo físico visual, uma distribuição produzida por refração da luz através de um modo prismático das tonalidades, donde deriva o divisionismo, representando-as na tela via uso das cores puras aplicadas em forma de pequenos pontos aplicados uns contra os outros, formando uma espécie de teia.

 

Seurat era também artista gráfico, além de pintor, ficando conhecido por telas figurativas e paisagísticas, de grande força luminosa e estrutura matemática, enquanto Signac, além de pintor, foi escritor e artista gráfico, pintando paisagens com o movimento de redemoinho das cores.         

 

Na escultura, há que referir Rodin, com trabalhos em gesso, mármore e bronze, alusivos a formas plásticas de jogos permanentes de luz e sombras, exemplificando-o O Beijo (1866) e Os Burgueses de Calais (1884).

 

Reproduzindo, de igual modo, temas atuais e novos temas relacionados com a vida boémia e burguesa de Paris, o impressionismo opôs-se à pintura histórica e de género idealizada e tida como adequada para a época, tendo em atenção as inovações provocadas pela fotografia, estudos químicos sobre a cor do químico Chevreul, a pintura paisagística inglesa do século XVIII e do ar-livre fomentada e praticada pela escola de Barbizon. 

 

18.12.2018
Joaquim Miguel de Morgado Patrício

A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

As feras do século XX (parte I)

 

O fauvismo é o movimento rápido, revolucionário, e multiplicador. Para muitos dos pintores deste movimento francês, este não passou de uma transição - como que uma aquisição de conhecimentos onde primava a investigação e a experimentação e assim partiam para outras criações artísticas.

 

O fauvismo nasceu em França e aí se extinguiu, contudo deixou marcas, algumas muito profundas, sobretudo no que diz respeito ao uso livre da cor. A arte islâmica e tribal, assim como a arte praticada pelos pós-impressionistas era admirada pelos jovens artistas que aí viam uma forma de se libertarem de convencionalismos que os aborrecia. Desejavam ir mais além e não representar o que as sensações captam, nem queriam enveredar por caminhos naturalistas. A arte teria de ser também emoção, transportando para a tela não só o que se via mas o que se sentia instintivamente. Por isso Van Gogh e Gauguin são referências marcantes.

 

Com estes propósitos e desejos, em 1905, uma exposição de jovens artistas no Salão de Outono, fez sentir um estilo radicalmente novo, de cor violenta e ousadas distorções.  Escandalizaram mas venceram. A arte moderna arrancou por mérito destes pintores.

 

O grupo apresenta alguns pontos em comum e originalidade própria tais como na técnica e na temática. A nova via de expressão regista a natureza marcada pelo homem, acentuando a alegria de viver. Limita-se às paisagens, aos retratos e outros objetos da vida quotidiana. A cor é aplicada em tons puros, sem exatidão nem correspondência com o real. Nascem os contrastes agressivos e fortes, que se tornam o caminho desta verdade artística. Chegam mesmo a criar formas novas a partir de um trabalho sistemático e segundo a criação espontânea intuitiva. É imprescindível o facto da imaginação superar a observação. Porém, esta exaltação, não dura muito tempo. O grupo desfaz-se - ficando alguns a continuar e a desenvolver as técnicas fauvistas; outros enveredam para o cubismo e para o expressionismo.

 

Foi Gustave Moreau que propôs a Matisse e a Derain que trabalhassem no seu atelier da escola de Belas Artes de forma a desenvolver o estudo e a aplicação de cor. O grupo logo aí ficou constituído mas mais tarde girará somente em torno de Matisse. Os jovens são assim dados a conhecer ao público na exposição de 1905. São eles Henri Matisse, George Roualt, André Derain, Othon Friesz, George Braque, Raoul Dufy, Maurice de Vlaminck, Albert Marquet. 

 

Henri Matisse é o artista mais importante deste movimento, pois mostra-se interessado em dar-lhe continuidade, fazendo de forma fiel e não simplesmente transitória. Nasceu em 1869. Estudou primeiramente direito. Em 1891, frequentou a academia que lhe permitiu entrar na escola Belas Artes. No atelier de G. Moreau inicia o trabalho feroz e descobre o seu amor pela arte. O seu objetivo é salientar as possibilidades de cor através do estudo e de uma investigação árdua e trabalhosa. Estuda também o corpo humano elaborando uma série de nus de cores violentas, contornados a preto. Mais tarde sente necessidade de aplicar a cor pura de forma a dar-lhe também expressão. A partir de 1905, desmaterializa a cor privando-a de realismo. A simplificação e purificação das formas revelam felicidade e vitalidade. 

 

Já André Derain (1880-1954), pela vontade dos seus pais deveria ter sido engenheiro. Porém a pintura era a sua vocação. De 1898 a 1900, frequenta a academia Carrière, onde conheceu Matisse. Foi no entanto o encontro com Vlaminck que o marcou. Ambos usam a cor pura como meio de expressão. Van Gogh e o neo-impressionismo tem no seu trabalho uma influencia notável. Recorrendo muitas vezes ao contorno acentuado das superfícies coloridas, tentando transformar a emoção numa construção. Por volta de 1910, abandona a técnica fauvista para se dedicar à redução do emprego das cores. Graças à influência de Cézanne, volta-se para o cubismo. Nos seus últimos trabalhos desliza entre o Neoclássico e o Realismo.  

Ana Ruepp