Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

 

The Labour’s Brexit shift, 2018

 

How ironical! Depois de uma vida política de eurocético ativismo face aos continentalistas do seu Labour e do Conservative Party, eis RH Jeremy Corbyn a envergar as vestes de Remainer-in-chief

Um ideológico discurso em Coventry sobre a European Union serve ao líder trabalhista para anunciar que quer manter Britain na união aduaneira. Melhor que esta mudança de agulha, só o aplauso empresarial ao trotskista que promete renacionalizar a economia. — Chérie! On sait ce que l'on quitte, ne sait pas ce que l'on prend. O termómetro continua nos baixios por todo o reino. O cartoonista Matt sopra 30 velas de bem humorado traço no Daily Telegraph. — Well. Laughter is the best medicine. No resto do mundo, o US President Donald J Trump afirma que "we have more seven years of this" no anúncio da sua recandidatura. North Korea cede a trato diplomático com Washington. O China Communist Party pavimenta a manutenção ilimitada de Mr Xi Jinping na presidência, com emenda constitucional ao limite de dois mandatos no cargo. Por unanimidade e ao oitavo ano de guerra, devastação e tormento, o UN Security Council aprova cessar-fogo na Syria ‒ prontamente violado por indiscriminada escalada de violência.

 

 

Wind chill, a lot of weather warnings, but no signs of snow at London. Uma vaga de frio ártico perturba o quotidiano no reino, com as invernosas confusões de estradas, carris e aeroportos a estenderem-se até aos telemóveis. As imagens das árvores nevadas e das lãs adicionais contrastam com o crepitar mercurial em Whitehall. O primeiro sinal de faísca vislumbra-se na House of Commons. Em diálogo com a Premier, pela primeira vez em meses e depois do intelligence tale ressuscitado dos anais da Cold War, o Leader of Her Majesty's Most Loyal Opposition traz a Brexit para a despatch box. Os MPs digerem ainda o briefing paper com as Council Directives for Negotiations on Transition e o gradualismo da regulatory divergence face a Brussels. No ar pairam também as estranhas garantias do RH David Davis de a retirada da Other Union não significar queda “into a Mad Max-style world borrowed from dystopian fiction.” Gostos literários do responsável que por estes dias voa até Lisboa à parte, Red Jezza é ferino no political tennis: “Does the Prime Minister not feel that the Brexit Secretary could set the bar just a little bit higher?” Right Honourable Theresa May responde com pauta brexiteira: “We are very clear that we are going to ensure that, when we leave the European Union, we are able to take back control of our borders, our money and our laws. The only fiction in relation to Brexit and the European Union is the Labour party’s Front Bench, who cannot even agree with themselves on what their policy is.”

 

RH Jeremy Corbyn persiste no tema, uma e outra vez, com ramalhete de citações ministeriais ao qual não falta a cor de RH Boris Johnson: “The Foreign Secretary recently made a speech about Brexit and found time to mention carrots, spam, V-signs, stag parties and a plague of boils. There was not one mention of Northern Ireland in his speech. We are halfway through—[Interruption.] the six speeches we were told would set out the Government’s negotiating position. So far, all we have had is waffle and empty rhetoric. Businesses need to know. People want to know. Even the Prime Minister’s Back Benchers are demanding to know […]. This Government are not on the road to Brexit—they are on the road to nowhere.” Chegados a nenhures, finaliza a residente no 10 sem requerido detalhe que não das aventuras do (codename) Agent Cob: “I think I have mentioned to the Right Hon. Gentleman before that his job is actually to ask a question, but I am perfectly happy to respond to the points he made.[…] But may I congratulate him, because normally he stands up every week and asks me to sign a blank cheque? I know he likes Czechs,..”

 

Ora, o conteúdo das alegadas conversas outrora havidas entre o MP por Islington North e um obscuro espião vindo do frio são do domínio do patético. 29 anos após a queda do Berlin Wall, os arquivos do KGB & Co. guardam decerto segredos e indiscrições. Todavia, do que veio a público dos ficheiros checos, confirma-se a aproximação comunista a deputados trabalhistas da ala radical, mas o mais excitante encontrado na pasta do “foreign secretary of the Left” aparenta ser o interesse pelos apetites de Lady Thatcher nos anos de Downing Street! De todo em todo há indícios que RH Jeremy Bernard Corbyn haja sido um colaborador, somente o sabido apóstolo de alto perfil. E é justamente o missionário vermelho quem acaba de curto circuitar o manifesto “For the Many, Nor the Few” com que o Labour Party se apresenta nas ultimas eleições e onde arrecada 40% dos votos. Alinhando com teses dos Blairistes e do seu Shadow Secretary of State for Exiting the European Union, Sir Keir Starmer, o Bennite antecipa-se ao esperado discurso europeu desta semana da PM e dá uma guinada na Brexit que muda mais que a forma a aprovar nas Houses of Parliament ‒ caso Brussels aquiesça no cherry-picking que sempre recusou. Na longa intervenção de Coventry deixa nova posição negocial: "A customs union is a viable option for the final deal. So Labour would seek to negotiate a new comprehensive UK-EU customs union to ensure that there are no tariffs with Europe and to help avoid any need for a hard border in Northern Ireland."

 

Esta viragem política dos trabalhistas abre o flanco ao derrube de RH Theresa May na liderança dos Tories, onde já hoje se perfilam RHs Anne Soubry, à esquerda, e Jacob Rees-Mogg, à direita. O governo minoritário dificilmente se aguentará nas eurovotações face à informal aliança do Lab com os conservadores rebeldes. O Springtime esboça alerta meteorológico para o Mayism, pois o alvo de Mr Corbyn é o No. 10. O calendário acelera. As England Local Elections de 3 May dirão do pêndulo partidário em 32 municipalidades de London, 34 áreas metropolitanas, 68 concelhos distritais e 17 autoridades unitárias a par das diretas para as Mayoralties de Hackney, Lewisham, Newham, Tower Hamlets e Watford. Uma derrota no país e no parlamento pode forçar a sufrágio antecipado no UK. Curiosíssima é a estranha banca de contrários ideológicos. — Umm. Ironical are those which augmented with tears the stream that did not need water like Master Will remind us in the adventurous Henry IV Part 1: — “There’s no more faith in thee than in a stewed prune."

 

St James, 26th February 2018

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

The United Kingdom’s spirit, May 2017

 

Após dias dramáticos de severo alerta terrorista e ainda a processar o massacre dos inocentes em Manchester perpretrado por um jihadista, o reino carry on. Um jovem Brit, de 22 anos, fruto de refugiados do regime líbio de Gadaffi generosamente cá

acolhidos e dado ao consumo de drogas, ruma para o delírio das ‘70 virgens’ enquanto assassina adolescentes e crianças que sorriem no final de um concerto pop na Arena. Entre as vítimas deste “evil loser”, como o reputa o President Donald J Trump, está a pequena Sophie de 8 anos. — Chérie. Qui sème le vent, récolte la tempête. A campanha eleitoral pára por momentos. A apresentação dos manifestos partidários revela a deslocação à esquerda. O Corbynism ganha tração com um líder em Father Christmas mood e radical programa de re-nacionalizações, vasto investimento público e altos salários. — Shocking days, indeed. O French President Emmanuel Macron viaja a Berlin e Moscow para a enésima jura de reforma continental. O POUS faz um périplo ao Middle East e Europe, com paragem em Jerusalem e no Vatican, discursando sobre o Islam e a contabilidade da NATO. A Bundeskanzelrin Frau Angela Merkel anuncia o fim da aliança ocidental e conclui que Europe “must take destiny in its hands.”

 

 

Dark days in the Realm. O ambiente em volta é de alta tensão, entre o choque e a fúria face à matança dos inocentes. O alerta da segurança nacional sobe de crítico a severo, regressando à atual categoria de existir forte probabilidade mas não estar eminente um novo atentado terrorista. Forças especiais capturam uma dúzia de jihadistas em várias paragens, à mistura com detonações controladas em catedrais, casas e centros comerciais. Soldados e polícias protegem áreas sensíveis. Mal refeitos da cadeia de acontecimentos, com um tigre à solta num zoológico de Cambridgeshire e o caos informático a suspender os voos da British Airways em Heathrow e Gatwick, a honorável Press revela a presença de 23,000 extremistas islâmicos na watch list. O número do terror assusta e o clamor popular pede medidas. Afinal, a rede de controlo 24 h+7x7 é perfurada em Manchester, berço do jihadista e geografia aparentemente inclinada a produzir extremistas entre os assíduos da Mosque sem que haja mão nos hate preachers. As ondas de choque face ao Homegrown Jihadism e ao ataque de May 22th continuam a evoluir. O reino reage com as velas e as vigílias, mas há mais. Na internet, de rosto tapado e familiar sotaque, o Isis faz ameaças de morte aos filhos do infidel. Nas ruas questiona-se o… até quando?

 

Já hoje à noite sopra vento de normalidade. A Sky News apresenta o grande debate político das #2017 General Elections. Em estúdio, red-looking, estão Mrs Theresa May e Mr Jeremy Corbyn. É a Battle for Number 10. A segurança é um entre vários temas quentes abordadas num TV show formatado a dois tempos: um após outro, os líderes do Labour e do Conservative Party respondem a questões da audiência (em modalidade Townhall) para depois se submeterem a entrevista com o (not so) temível Mr Jeremy Paxman. Ambos vão bem no geral, mas chegam aqui a diferentes velocidades. Os Tories estão em queda nas sondagens, com a vantagem inicial a cair dos 20% para os 5-8%, após lançarem um manifesto incluindo exigente reforma na segurança social, no meio de cortes nos benefícios e apelos à responsabilidade individual. Os contornos da proposta central são tais que, logo etiquetada pelas oposições de “dementia tax,“ a reação do espetador imparcial é de perplexidade: What are they thinking! Se os Red Tories ousam ir longe de mais na distribuição das libras orçamentais, já o Populist JC Labour tem vento pela popa à custa de querer taxar os ricos. RH Jezza promete agir “for the many, not the few.” Nacionalizará combóios, telecomunicações, correios, água e eletricidade ― mas não bancos. Aonde vai buscar o dinheiro para pagar a fatura? Aos impostos e ao crédito internacional, que o paraíso chaveznista não teme as dívidas soberanas. Só as simpatias de Mr Corbyn &co para com os movimentos revolucionários armados causam inquietação, entre o apoio ao IRA ou a amizade com o Hamas. Faltam 10 dias para a 2 horses race e 21 para o início das negociações da Brexit.

Estes são também dias da partida de Mr Roger Moore, o suave “James Bond” que se aventurou em Portugal. É ainda tempo para um dos meus eventos favoritos na capital: o Chelsea Flower Show. A mostra é sempre uma inspiração para quantos amam o English Garden. Na abertura por lá passam HM Queen Elizabeth II ou Dame Judy Dench. A recreação natural corresponde às expetativas do mais rigoroso dos jardineiros locais. E os Iris Louvois nos London living displays da Royal Horticultural Society apresentam-se gloriosamente surpreendentes em nova coloração. Para a semana, de 7 a 11 June, é a vez do RHS Chatsworth Flower Show em Derbyshire e da tradicional visita à glasshouse com que Mr Joseph Paxton MP em 1836 induz a traça dos Crystal Palaces no meridiano atlântico. — Well. Keep in mind those floral wording of Master Will in A Midsummer Night's Dream: — “I know a bank where the wild thyme blows, / Where oxlips and the nodding violet grows, / Quite over-canopied with luscious woodbine, / With sweet musk-roses and with eglantine: / There sleeps Titania sometime of the night, / Lull'd in these flowers with dances and delight.."

 

St James, 29th May 2017

Very sincerely yours,

V.

LONDON LETTERS

 

Mr Corbyn goes to Liverpool, 2016-17

 

Há ali uma espécie de inocência e há ali algo de diabólico. Entre a suavidade do seu amado líder, Mr Nice Guy, o maquiavelismo do chanceler sombra, Mr Bad Guy, e a ferocidade dos divididos regimentos, o trabalhismo britânico está em triste encruzilhada ideológica.

RH Jeremy ‘Red’ Corbyn vence, pela segunda vez no espaço de um ano, a liderança do Labour Party. Está tanto mais forte quanto a causa debilitada. — Chérie! Sans tentation, il n'y a point de victoire. A Prime Minister RH Theresa May está sob fogo dos… Cameroonists. As adagas giram ainda em torno da Brexit inside story. Já o Number 10 recebe Herr Martin Schultz, com o EU Parliament President a ajudar à consolidação do público adeus. — Well! A fox is not taken twice in the same snare. Na White House Race é a contagem decrescente para o muito esperado primeiro dos três debates entre Mrs Hillary Clinton e Mr Donald Trump. Meanwhile, o US President deixa legado oratório na United Nations General Assembly. Britain censura Russia pelo fracasso do último cessar fogo na Syria, em eco de war crimes. A Countess Sophie of Wessex chega a Buckingham Palace, com fanfarra, família e flores, após épicos 800 km em bicicleta desde Holyroodhouse para apoio filantrópico aos 60th Duke of Edinburgh's Awards. Os Young Royals visitam Elizabethean Canada. A University of Oxford é classificada como a melhor universidade do mundo, o que posso pessoalmente corroborar.

Mainly dry and breezy weather at London. Vamos dizê-los um a um para dar o tom. A Labour Party Conference abre com a decisiva vitória do brave new old leader: RH Jeremy Corbyn arrecada 61,8% dos votos (+2% que antes) dos membros, afiliados, simpatizantes e apoiantes registados no sufrágio do comando, face a 38,2% de RH Owen Smith MP, o rival por cá conhecido como “Owen Who?” Uma imediata sondagem da Sky News entre a militância conclui que 59% declara que o partido “can’t win” as legislativas de 2020 com o atual rumo (incluindo 93% de assumidos corbynistas) e 45% espera até não mais ver um governo trabalhista no seu tempo de vida. Uma outra internal polling realizada pela Survation/LabourList revela hoje que a HM Most Loyal Opposition perde terreno para os Tories desde a derrota eleitoral de 2015, em oito de nove temáticas políticas. O amigável analista conclui que os resultados “puts Labour on course for worst election defeat since 1935.” Finalmente: Contas feitas à despesa pública no fecho do dia dedicado à economia na arena de Liverpool somam “£250billion” em infraestruturas e aumentos salariais. Os jornais de amanhã dirão do detalhe da magic money tree, a par da equívoca política de defesa no pipe dream.

Também intranquilas andam certas franjas conservadoras. Com o ex Chancellor George Osborne MP a posicionar-se em todas as oportunidades para eventual coroação futura, hipótese sempre contrariada pela ausência da guerra e da fome por si profetizadas para o voto Leave EU, Westminster sorri com os segredos de polichinelo que levam à demissão do PM David Cameron dados à estampa pelo seu Director of Politics and Communications. O ora Sir Craig Oliver é o autor de Unleashing Demons: The Inside Story of Brexit, um diário sobre o euroreferendo visto de Downing Street. Os aperitivos do livro, um entre vários que se anunciam sobre a decisão, espalham-se pela Sunday Press. Especialmente visados pelo antigo spin doctor são os Brexitters, de RH Boris Johnson a RH Michael Gove, apimentadamente desnudados por desertarem do 10, mas também a atual Premier. Aponta-se o dedo a RH Theresa May por alegada “Brexit blame,” nomeadamente pela recusa em maior envolvimento na campanha. Se a senhora faz dois discursos a favor do Remain, sublinha-se que o antecessor lhe faz sucessivos apelos “to come off the fence.” A tática do “a fight alone” é tão exótica quanto foi o Project Fear. Ainda assim, fica registo de Mrs T ser no Cam Govt “an enemy agent” (ou “Submarine May”) e de a então Home Secretary considerar o célebre travão negociado com Brussels para controlar a circulação de pessoas como a “emergency fake” (e não emergency brake na emigração).



Entre estórias de sacos de tarecos, pois, importa ressalvar que tanto Larry como Gladstone e Palmerston continuam no bom exercício de funções em Whitehall como the high mouse officers. Dois outros Top Cats prestam desempenho histórico esta noite. A horas de duelo presidencial, as TVs &co aquecem as emissões com debates e reportagens sobre os dois candidatos restantes na batalha pelo poder da superpotência ocidental. A nota dominante cá e lá é… a imprevisibilidade. Hillary v Donald falarão para uma plateia global, mas as suas atenções incidem nos estados chave da US Election como os indefinidos Pennsylvania, Maine, Ohio ou Florida. Daí que peculiares propostas políticas como “the wall” e “the Muslim emigration ban” soem envoltas no “bringing jobs back to America” e a par da ameaça terrorista do Isis. — Well! Let us bear in mind what Master Will says about the tune through the attentive mind of Lorenzo in The Merchant of Venice: — The man that hath no music in himself, / Nor is not moved with concord of sweet sounds, / Is fit for treasons, stratagems, and spoils. / The motions of his spirit are dull as night, / And his affections dark as Erebus. / Let no such man be trusted. Mark the music.

 

St James, 26th September 2016

Very sincerely yours,

V.