NÃO BASTA PENSAR NA ECOLOGIA INTEGRAL; É PRECISO TAMBÉM REFLETIR SOBRE A IGREJA TOTAL
Na encíclica “Pacem in terris”, de 1963, há quase sessenta anos, o papa João XXIII dizia que a afirmação da mulher era um dos sinais dos tempos. Podemos reconhecer que essa novidade epocal é também uma semente do Evangelho. Esta afirmação da mulher e este caminho de afirmação eclesial e social da mulher é algo que foi também consequência do Evangelho.Vemos, na literatura bíblica, que a teologia da Criação não separa o homem da mulher. E nas primeiras comunidades [
cristãs] as mulheres têm um papel muito significativo. Basta ler, nas Cartas de Paulo, as mulheres que aparecem como protagonistas para percebermos como o que está escrito aos Gálatas é bem verdade: não há macho nem fémea, somos um só em Cristo. Isto não significa anulação da sexualidade, mas pelo contrário: neste corpo místico de Cristo que é a Igreja não estão apenas os homens – estão os homens e as mulheres. Desde o princípio.
O papa Francisco percebeu que esta é uma questão central do nosso tempo. Uma das primeiras vezes foi em 2013, em julho, ao regressar da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, dentro do avião; questionado, respondeu que a Igreja tinha de abrir um processo de reflexão, um estaleiro, um laboratório de pensamento.
Não basta pensar uma ecologia integral; precisamos também de uma eclesiologia integral. Não podemos deixar a maioria da humanidade a não se sentir protagonista da vida da Igreja.
A presença da mulher é fundamental. O papa Francisco está a abrir caminhos e a pedir a todos nós que reflitamos, os teólogos possam investigar, que se possa tornar às origens da Igreja, perceber como era no princípio, analisar.
Os passos que o papa Francisco tem dado são de grande encorajamento para que possa acontecer isto: a responsabilidade na Igreja e a responsabilidade pelo Evangelho não seja apenas questão de homens, mas de homens e mulheres, nas diferentes dimensões, diferentes ministérios, numa complementaridade certamente, segundo a tradição da Igreja seguramente, mas que a Igreja é chamada a fazer um caminho e que o papa Francisco introduz essa tensão para darmos passos, fazermos reflexão nesta matéria é para todos muito claro.
Card. José Tolentino Mendonça
Fonte: Jesuítas Brasil
Edição: Rui Jorge Martins