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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES  

   


Still Life


Os livros
abandonados no apartamento de Jan falavam
línguas distintas. Podíamos ir pela estante
(coleccionando fronteiras)
Tentando adivinhar quem os teria legado
(quem sabe se em desagravo
pelo rumo da história))
suponho que: pelo desvelo que impede
à partilha. Cruzando o apartamento alugado
tantos anos saudei
nos livros esquecidos a experiência do mundo
(breves rasgões na lombada
testemunhando a viagem)
o olvido por companhia cedo demais
para morrer. Nessa idade em que uma mão (a
minha a
sua: leitor) podia da vida quieta
extrair vida ainda.


in Você está aqui, 2013


Still Life


The books
left behind in Jan’s flat spoke
different languages. You could go through the shelves
(collecting borderlands)
trying to guess who may have bequeathed them
(who knows if in retaliation
for the course of the plot)
perhaps: due to some
non-sharing zeal. Pacing around the flat rented out
for so long I greeted
in the forgotten books the experience of the world
(small tears on the spines
witnessing their journey)
the neglect of a company not yet ready
for death. Time in which a hand (mine
yours:
reader) might yet extract
life from all that stillness.


© Translated by Ana Hudson, 2013
in Poems from the Portuguese

 

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES 

  


Cerveja & remorsos


Os dias: deposito-os na pele. Deus (ou
qualquer coisa por Ele) está com certeza
por trás desta tarde de domingo (o
verão chegando ao fim imenso
em seus labirintos)
acautelamos derrotas milímetro a
milímetro. Por vezes
(mais distraídos) somos
tecnicamente felizes
abrindo nozes ao meio (quais cirurgiões das meninges)
desenrolando croissants à procura
do infinito. Mas
sabes quando sabe
a derrota apesar de ter vencido?
Não se vence por inteiro quando o
tempo é o inimigo.


in Você está aqui, 2013


Beer & regrets


Days: I lay them on my skin. God (or
something like Him) is certainly
behind this Sunday afternoon (as
summer begins to end in
its immense labyrinths)
we’re looking out for defeats inch
by inch. Sometimes
(more distracted) we are
technically happy
evenly cracking nuts open (like surgeons of the brain)
untwisting croissants in search of
the infinite. But
do you know when you taste
defeat despite being a winner?
You cannot wholly succeed when
you have time as your enemy.


© Translated by Ana Hudson, 2013
in Poems from the Portuguese

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES

  


Uma emergência de Outono


As cores da maçã assada aberta
pelo fim do verão antecipam no palato
uma emergência de outono.
Convida a ficar por casa
esta maçã que feri e salpiquei pelo torso
com cézannes de canela.
Sob a epiderme tisnada (cor
amarelo-pecado) é
perene o seu sabor. Vê só
como jazem nuas
suas vestes pelo prato
(qual roupa de rapariga desbragada
pelo chão).


in A Parte pelo Todo, 2009


An autumnal emergency


The colours of the baked open apple
in the last throes of summer anticipate in the palate
an autumnal emergency.
It’s an invitation for home
this apple I wounded and whose torso I sprinkled
with cézannes of cinnamon.
Underneath the tanned skin (its
colour a sinful-yellow) the
taste is perennial. See just
how naked they lie
the robes along the plate
(like the clothes of indecorous girls trailing
on the floor).


© Translated by Ana Hudson, 2010
in Poems from the Portuguese