Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Os livros abandonados no apartamento de Jan falavam línguas distintas. Podíamos ir pela estante (coleccionando fronteiras) Tentando adivinhar quem os teria legado (quem sabe se em desagravo pelo rumo da história)) suponho que: pelo desvelo que impede à partilha. Cruzando o apartamento alugado tantos anos saudei nos livros esquecidos a experiência do mundo (breves rasgões na lombada testemunhando a viagem) o olvido por companhia cedo demais para morrer. Nessa idade em que uma mão (a minha a sua: leitor) podia da vida quieta extrair vida ainda.
in Você está aqui, 2013
Still Life
The books left behind in Jan’s flat spoke different languages. You could go through the shelves (collecting borderlands) trying to guess who may have bequeathed them (who knows if in retaliation for the course of the plot) perhaps: due to some non-sharing zeal. Pacing around the flat rented out for so long I greeted in the forgotten books the experience of the world (small tears on the spines witnessing their journey) the neglect of a company not yet ready for death. Time in which a hand (mine yours: reader) might yet extract life from all that stillness.
Os dias: deposito-os na pele. Deus (ou qualquer coisa por Ele) está com certeza por trás desta tarde de domingo (o verão chegando ao fim imenso em seus labirintos) acautelamos derrotas milímetro a milímetro. Por vezes (mais distraídos) somos tecnicamente felizes abrindo nozes ao meio (quais cirurgiões das meninges) desenrolando croissants à procura do infinito. Mas sabes quando sabe a derrota apesar de ter vencido? Não se vence por inteiro quando o tempo é o inimigo.
in Você está aqui, 2013
Beer & regrets
Days: I lay them on my skin. God (or something like Him) is certainly behind this Sunday afternoon (as summer begins to end in its immense labyrinths) we’re looking out for defeats inch by inch. Sometimes (more distracted) we are technically happy evenly cracking nuts open (like surgeons of the brain) untwisting croissants in search of the infinite. But do you know when you taste defeat despite being a winner? You cannot wholly succeed when you have time as your enemy.
As cores da maçã assada aberta pelo fim do verão antecipam no palato uma emergência de outono. Convida a ficar por casa esta maçã que feri e salpiquei pelo torso com cézannes de canela. Sob a epiderme tisnada (cor amarelo-pecado) é perene o seu sabor. Vê só como jazem nuas suas vestes pelo prato (qual roupa de rapariga desbragada pelo chão).
in A Parte pelo Todo, 2009
An autumnal emergency
The colours of the baked open apple in the last throes of summer anticipate in the palate an autumnal emergency. It’s an invitation for home this apple I wounded and whose torso I sprinkled with cézannes of cinnamon. Underneath the tanned skin (its colour a sinful-yellow) the taste is perennial. See just how naked they lie the robes along the plate (like the clothes of indecorous girls trailing on the floor).