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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICAS PLURICULTURAIS

Retrato de Nicolau Maquiavel por Santi di Tito.jpg

 

124.  O PODER E O TERROR ABSOLUTO

Para Maquiavel se queres ter êxito na vida passa por cima dos outros, pelo que, em termos de poder e autoridade, tudo é lícito para o conseguir e manter, usando a astúcia, a hipocrisia, a crueldade, a má fé, a mentira, o crime e a violência. Não é censurável alcançar o poder e o sucesso de modo pouco honroso, desde que se chegue onde se quer. Não importa quem governa, mas como se governa. Os interesses dos governantes, conhecidos por razões de Estado, estão acima do bem comum dos governados, podendo o governo recorrer, lícita e legitimamente, à crueldade e ao engano, sendo admissível o Estado infringir as suas próprias leis, sem limites, se necessário, para sobreviver.

Passou a chamar-se maquiavélica a política caraterizada pela ausência total de escrúpulos morais e éticos com que eram aconselhados os políticos e governantes a atuar, justificando-se o fim por todos os meios.

Realista a têm tido, até hoje, os políticos, que jamais a deixaram de estudar, meditar ou pensar, por mais pérfida que seja, ao invés da sociedade ideal, perfeita, romântica e sonhadora, que vive numa ilha longínqua, que não existe em lado algum, chamada “Utopia”.

Embora clássica e atual, esta lógica maquiavélica tem algo de primitivo e tribal por confronto com os políticos e militares fabricantes do poder e terror absoluto emergente do nuclear, face ao qual a ambição desmedida, o erro, a estupidez, o mau senso, a criminalidade e a violência, podem destruir a humanidade.

Uma certa ciência, anteriormente símbolo e sinónimo de progresso, é hoje progresso e retrocesso. Quando perdeu e perde o sopro humano inspirador do humanismo, tornou-se e torna-se amoral.

Tradicionalmente argumenta-se que a responsabilidade dos cientistas existe só para com a verdade científica, não para com a verdade moral, ética ou social, o que os torna especialistas indiferentes aos malefícios das suas invenções e à sorte dos homens daí resultante, tornando-se a ciência, por vezes, uma atividade imoral.

Há que contrariar e condenar este caminho que nos conduz ao poder e terror absoluto que leva à morte total e à aniquilação de toda a esperança. Há que enriquecer a vida e o progresso humano espiritual, ao invés de uma hipotética ingenuidade de Einstein e outros cientistas ao tentaram suspender a explosão atómica e se deram conta do perigo de uma corrida permanente às armas nucleares que, por certo, prepararia uma guerra que poderia ser o fim do mundo que conhecemos e da nossa espécie, desacompanhado da consciência de qualquer responsabilidade moral ou ética, mesmo que validada juridicamente por seres medíocres e indecisos detentores do poder e terror absoluto que querem para comando da História.

 

04.11.22
Joaquim M. M. Patrício