Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE MANUEL DE FREITAS 

  


Restaurant Biblioteket


Há poemas assim, que não precisam
de ser escritos; apenas enunciados,
ditos em voz baixa a mais ninguém.
A cidade levar-te-á onde te quiser levar,
indiferente à paixão ou à minúcia dos teus passos.
Quem esteve na Toldbodgade, 5,
depressa concordará comigo.


in Brynt Kobolt, 2008


Restaurant Biblioteket


There are poems which, as they are, don’t need
to be written; just summoned,
spoken quietly to no one else.
The city will take you wherever it will,
indifferent to the passion or preciseness of your steps.
Who has ever been at 5, Toldbodgade
will promptly agree.


© Translated by Ana Hudson, 2012R
in Poems from the Portuguese

 

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE MANUEL DE FREITAS 

  


Num livro de Dylan Thomas


Passados seis anos, pouco mais serás
do que isto: o marcador
que assinaste, subitamente descoberto,
uma frase que poderia ser um verso
(«nunca consegui amar nunca»)
a meio de um livro e da minha vida.
Esqueçamos, por esta vez, os desencontros,
a sombra magoada com que
os teus lábios pousaram sobre papel
de arroz – e arderam (o mesmo livro
me contou que não te serviu de filtro
o bilhete para o Seixal, 12 SET. 1996).
A outrem perguntaria se a arte pode ser razão
da arte, enquanto o ciúme (crescendo
no escuro) fulmina talvez as melhores páginas.
Ou nem isso faria: a manhã é lá fora
renovada promessa de abandono
e acabei agora mesmo de ver Mamma
Roma – mais um filme, a vida toda,
a separar-nos.
Quando afinal nada,
deste nada, ficará, «as I sail out to die»
com a última memória do teu nome.


in Blues for Mary Jane, 2004


In a book by Dylan Thomas


In six years time, you’ll be
little more than this: the bookmark
you signed, suddenly found again,
a sentence that could be a line
(‘I’ve never been able to love never’)
half way through a book and my life.
Let’s for once forget the misunderstandings,
the hurt wounded way
your lips touched the roll-up
paper – and got burnt (that same book
told me that the Sept 12, 1996 coach ticket
to Seixal didn’t make it as filter).
I’d turn elsewhere to ask if art can be the reason
for art, while jealousy (growing
in the dark) may perhaps strike the best pages.
Or I wouldn’t even do that: the morning outside
is a renewed promise of forsakenness
and I’ve just watched Mamma
Roma – another film, a whole life,
keeping us apart.
When, after all, nothing
of this nothing remains ‘as I sail out to die’
with the last memory of your name.


© Translated by Ana Hudson, 2010
in Poems from the Portuguese

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE MANUEL DE FREITAS

  


QUINTA DA REGALEIRA


Por amor, pode-se. Ou quando
se traz no bolso do casaco
um envelope lilás dirigido
a um amigo que não queremos perder.


Por amor - ou por amizade -
pode-se, enfim, descer pela
primeira vez o Poço Iniciático,


sofrer em pleno dia a noite
dos túneis que nos devolverão à luz;
esse chão pisado por americanos
nédios e europeus sem graça.


Mas dispensem-me de razões
e argumentos. O medo foi
o que de mais precioso tive esta manhã.
Ou durante toda a minha vida.


in Cólofon, 2012


'QUINTA DA REGALEIRA'


For love, you could. Or when
you carry in your pocket
a lilac envelope addressed
to a friend you don’t want to lose.


For love – or for friendship –
you will at last, for the first time,
go down the Initiatory Well,


suffer by day the night of tunnels
which will take us back into the light;
this ground walked on by sleek
Americans and dull Europeans.


But spare me reasons
and arguments. Fear was
the most precious thing I had this morning.
Or throughout my whole life.


© Translated by Ana Hudson, 2012
in Poems from the Portuguese