A FORÇA DO ATO CRIADOR
Lugar e espaço.
'If a place can be defined as relational, historical and concerned with identity, then a space which cannot be defined as relational, or historical, or concerned with identity will be a non-place.', Marc Augé
A hipótese avançada por Marc Augé, no livro 'Non-Places. An Introduction to Supermodernity.', é a de que a supermodernidade produz não-lugares, isto é, espaços que não são em si lugares antropológicos, são simplesmente lugares de memória circunscritos a um sítio específico.
Lugar e não-lugar são extremos opostos, mas o primeiro nunca deixa de existir e o segundo nunca chega a completar-se.
Os não-lugares são a verdadeira medida do nosso tempo: 'one could quantify them by totalling all the air, rail and motorway routes, the mobile cabins called 'means of transports', the airports and railway stations, hotel chains, leisure parks, large retail outlets and finally the complex skein of cable and wireless networks.'
A distinção entre lugar e não-lugar é gerada na oposição entre lugar e espaço. Espaço, para Augé, é o lugar frequentado, é a intersecção dos corpos em movimento - porque é a presença do homem que transforma uma rua, geometricamente definida como lugar pelos projectistas, em espaço. Lugar é o conjunto dos elementos físicos que coexistem segundo uma determinada ordem.
O espaço é existencial - ambíguo, transformável e influenciável. O lugar é geometria - área, volume, proximidade e distância.
Uma narrativa, em forma de mapa ou itinerário, tem o poder de transformar o lugar em espaço e o espaço em lugar. As narrativas atravessam e reorganizam o lugar segundo um sistema de signos.
A experiência de um espaço permite ao homem, reconhecer-se a si próprio e ser ao mesmo tempo, outro. O espaço é também a frequência de vários lugares que são entendidos segundo uma visão parcial e incompleta - é a memória que reconstitui a forma do lugar e constrói uma relação ficcional entre o olhar e o que se observa.
'A lot of tourism suggests the position of spectator as the essence of the spectacle. The traveller's space may thus be the archetype of non-place. Thus it is not surprising that it is among solitary travellers of the last century that we are most likely to find prophetic evocations of spaces in which neither identity, nor relations, nor history really make any sense; spaces in which solitude is experienced as an overburdening emptying of individuality, in which only the movement of the fleeting images enables the observer to hypothesize the existence of a past and a glimpse the possibility of a future.', M. Augé
A experiência do não-lugar, como um retorno ao próprio ser, permite uma distância maior do espectador e do espectáculo. A existência do não-lugar permite ao homem perder-se na multidão com o poder absoluto de se afirmar inversamente na sua exacerbada consciência individual.
Ana Ruepp