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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE MIGUEL CARDOSO 

  


O mundo, portanto


O mundo, portanto.
O que nos manuseia.
Convoca: esta é uma outra maneira
de dizê-lo.
Será esse o seu propósito
(chamemos-lhe assim) e a razão
dos seus acasos, necessidades,
dos inacabados engenhos,
das suas discretas insistências
e dos nossos risos
(chamemos-lhes assim) ruidosos por entre
o que há de incumprido nos lugares.
Mas depois disso?
Não adianta alegar inocência.
Já ninguém acredita.
E depois pouco interessa.
Há quem tenha rabiscado
em guardanapos ou lançado
gestos. Assim,
sem mais.
Como se fossem
imprevistos.
Quem tenha feito aperfeiçoado
o crrchtctchhtt
das fitas encravadas
ao lembrar-se. E assim
por diante, sem que andasse assim
tão longe da verdade. Quem tenha furiosamente
esquecido o tempo e o espaço, ou dobrado
um no outro, bem devagar, enquanto
esperava, simplesmente, que passasse
por ali um sopro. Ou seja, que fosse
visto pelos outros igualmente assim
cambaleantes. Que as dores
não amansassem o tempo,
o mundo, e tudo o resto.
Há quem tenha sido exaltadamente
retráctil, como uma mão
na água fria. Quem tenha guardado
uns berlindes num saco de renda,
numa gaveta junto aos bonecos
de dar à corda. Naturalmente.
(Pensem por exemplo
no som que uns e outros)
Há quem tenha chegado um pouco tarde
porque parou, muito parado um bom bocado,
para desentorpecer o andar. Uma espécie
de esgravatar da rotina
por uma desordem, quase sossegada.
Uma desordem quase, uma desordem quase.
Há quem tenha feito uma ideia súbita durar
anos, usando-a ferozmente, só de vez em quando.
Quem tenha lido tão espantadamente
os voos e as vísceras desgovernadas do banal.
Há quem tenha deixado de vez
de anunciar cortes
nos paradigmas e emprestado a faca
a criaturas mais soltas.
Quem se tenha deixado ficar
muito aconchegado para ouvir melhor
e praticar o ranger de dentes.
Quem tenha de tanto andar digamos
por aí roubado a arquitectura aos arquitectos.
Quem tenha demorado uma vida a chegar
às ditas grandes questões. E as tenha desfeito
às três pancadas (e não uma de cada vez).
Quem tenha trazido as palavras de volta
ao esforço. Quem tenha passado muito
tempo em zonas em que a lei é omissa.
Quem tenha perguntado muito rindo
de como encolhem os ombros
os que choram. Pois não há resposta.
Quem tenha sido obstinado na hesitação,
mas porque acreditava como ninguém
nas virtudes do mergulho incalculado.
Há quem não tenha esperado nunca
por nada senão talvez um certo dia
pelo fim de tudo e por isso tenha andado
tão entregue a princípios. E andado tanto,
entretanto (o que não impede o exercício
por exemplo da cartografia mas atrapalha
as competências um pouco mais lentas da lupa).
Quem tenha portanto ido e vindo
e nisso visto um pouco o mundo.
Há quem tenha achado que era pouco, isso.
Quem tenha desencadeado. Isso sim,
seja lá como. Quem tenha sido pouco
minucioso a pontapear os inimigos circundantes.
(Ainda assim, tão exacto quanto possível)
Quem tenha feito uma coisa parecida com extinguir-se.
Que tenha espatifado uma coisa parecida consigo próprio.
Quem se tenha encadeado, a olhar para o chão.
Quem nunca tenha clarificado muito bem as suas claridades.
Até quem não as tenha tido, para evitar distracções.
E quem tenha sido objectivamente
impreciso (para lá da óbvia necessidade).
Quem tenha rasurado mais do que escrito.
Há quem tenha prematuramente anunciado
o fim. Nem que fosse de mais um cigarro
(porque mesmo um fim assim, tão fraco
de cinza e assobio e luz que se esboroa
é tão doce como um bom prenúncio).
Há quem tenha dito: talvez quando amanhecer.
Quem tenha apagado a luz e rondado
as explosões de maçãs muito quietas.
Quem tenha vivido sem que se desse por isso.
Quem tenha achado lindo um sábado
em que já não havia nada mesmo nada a fazer.
Quem se tenha agachado a rir.
Quem tenha esfaqueado a pedra
como se tivesse alguma coisa dentro.
Quem tenha dançado tão mal
e tão espantosamente entre cadeiras
num bar, já depois de fechado.
Quem tenha relido tudo, agora mais devagar.
Quem tenha sobretudo rasgado. Ou enfim
dançado. Quem tenha sido tão sossegado,
e no entanto. Quem se tenha divertido a mexer
as mãos em frente a projectores. E no entanto.
Quem tenha acendido o ecrã simplesmente
para ver o pó contorcer-se.
Quem tenha escavado esconderijos
e engendrado evasões.
Quem tenha amplificado os sons
mais murmurados, inventado cartuchos ainda
mais oleados e bandas tão mais magnéticas
para isso. Pigmentos novos, pestanas mais
estremecidas, facas mais aguçadas, vozes
ainda mais roucas, palavras mais impensadas,
morais mais soltas, vidas mais desfeitas,
futuros mais espalhados, amores mais
o que seja que os amores mais ficam.
Ou quem tenha desamado tudo
com uma seriedade louca e entre risos
por acaso auscultado os tais engenhos.
Não é mau, como princípio.
Tudo isto, diga-se, quase sempre com rigor feroz
e subtileza sempre quase rítmica e sôfrega.
Isto interessa-nos.
Tudo isto,
ainda que por outra razões,
ou com outros fins
– ainda incertos.
Daremos outro uso aos instrumentos
Às subtilezas, e aos modos de desabar.
É disso que se trata.
Falta tudo o resto.


in Que se diga que vi como a faca corta, 2010


The world, therefore


The world, therefore.
That which handles us.
Summons us: in another manner
of speaking.
Will this be its endeavour
(let’s call it that way) and the reason
for its chances, needs,
its unfinished devices,
its discrete insistences
and our laughing
(let’s call it that way) loudly amongst
that which is left unfulfilled in places.
And then what?
It’s no use invoking innocence.
No one believes in it any longer.
Nor is it very interesting.
There were some who scribbled
on paper napkins or hurled
gestures. Just
like that.
As if they were
unexpected.
Those who have perfected
the crrchtctchhtt
of stuck film strips
as they remembered. And so
forth, not so far
from the truth. Those who have furiously
forgotten time and space, or folded them
up together, very slowly, while simply
waiting for some breeze to come by. That is,
to be seen by others just as
unsteady. As if pain
didn’t appease time,
the world, and all the rest of it.
There are those who have been exultingly
retractable, like a hand
in cold water. Who have stashed away
some marbles in a laced bag,
inside a draw together with the
wind-up toys. Naturally.
(Think for instance
of the sounds they generate)
There are those who arrived a little late
because they stopped, very still for quite a while,
to stretch their legs: a sort of
routine scratching
by an almost peaceful unrest.
Almost an unrest, an unrest almost.
There are those who have made a sudden idea last
for years, as they used it ferociously and sparsely.
Those who have so sloppily read
the unruly flights and entrails of banality.
There are those who ceased for good
to announce cuts
in paradigms and lent the knife
to more relaxed creatures.
Those who have stayed
well snuggled to better listen
and practice the gnashing of teeth.
Those who have wandered round, shall we say,
so randomly, stealing architecture from the architects.
Those who have taken their whole life to grasp
the so called great questions only to destroy them
carelessly (and not one at a time).
Those who have brought words back
into effort. Who have spent a long
time in lawless places.
Who have questioned a great deal, smiling
at the shoulder shrugging of those
who weep. For there are no answers.
Those who have been hesitatingly obstinate,
due only to their unique belief
in the virtues of non-calculated dives.
Those who have never expected
anything except perhaps once for the end
of everything and have therefore walked
totally devoted to principles. And they took such long strides,
in the meantime (which doesn’t for example prevent
exertions on cartography but muddles up
the much slower abilities of the magnifying glass).
Those who have therefore gone to and fro
and thus seen a little of the world.
There are those who thought this wasn’t enough.
Those who have broken ground. It doesn’t really
matter how. Those who weren’t
very precise when kicking their surrounding enemies.
(Well, not as exact as they might have been)
Those who undertook something such as becoming extinct.
Who have annihilated something resembling their own selves.
Those who got entangled looking downwards.
Those who didn’t quite clarify their clarity.
And those who didn’t even see the clarity so to avoid distraction.
Who have been objectively
inaccurate (beyond the necessarily obvious).
Those who have erased instead of writing.
Those who prematurely announced
the end. Even the end of yet another cigarette
(since such a crumbling end, so spare
in ash, light and whistling breath,
is as sweet as any good omen).
Those who have said: maybe in the morning.
Those who switched off the light and haunted
the explosion of very still apples.
Those who have lived without anyone noticing.
Those who have admired a saturday
when there was nothing, but truly nothing, left to do.
Those who have squatted, laughing.
Those who have knifed the stone
as if there was something inside.
Those who have danced so clumsily
and so amazingly among the chairs
of a closed bar.
Those who, now at length, have read it all again.
Those who have mainly torn it all up. Or danced
at last. Those who have been so quiet
and yet. Those who have enjoyed waving
their hands in front of film projectors. And yet.
Those who have lit up the screen
only to see the writhing dust.
Those who have dug holes to hide
and worked up escapes.
Those who have amplified the most whispered
sounds, inventing even oilier
cartridges and so much more magnetic tapes
to this end. New pigments, more fluttered
eyelashes, sharper knives, still coarser
voices, more thoughtless words,
looser morals, more wrecked lives,
more wide-spread futures, more of whatever
can further happen to love.
Or those who have unloved everything
with a mad seriousness and smiling
listened randomly to such exploits.
Not bad, as a principle.
And all this, it must be said, always with a fierce rigour
and almost permanent, rhythmical and eager subtlety.
This is of interest to us.
All of this,
even if for other reasons
or to other aims
– still uncertain.
We’ll provide other usages for tools,
subtleties and manners of collapsing.
It’s what this is all about.
Everything else is amiss.


© Translated by Ana Hudson, 2012
in Poems from the Portuguese

 

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE MIGUEL CARDOSO


Do início, outra vez


I

Foi esta portanto a furtiva impureza que herdámos
sem saber como, este espaço, este canto assim vago,
estes espasmos desmaiados, este tempo, este mundo,
estas arestas, estes pedaços de terra, estes dramas
de inércia e dentes pouco aguçados, os mesmos
rostos rasos ao chão, estes remorsos, estes cafés
onde nos recompomos das derrotas, este modo
de despejar os cinzeiros, estas tardes, este aclarar
da garganta para nada e os rebuçados amarelos
e doces para a tosse, a lucidez, os oscilantes sons
das campainhas, a satisfação ardente dos líquidos
raros, a gradação de intensidade das lâmpadas,
a acidez dos risos, os envelopes bem dobrados,
e os dias sempre os dias outra vez os dias.


II

Certas flores, as mais esfarrapadas.
O vento também. Ou já o disse?
E coisas que ainda não têm nome.


Aquela impressão quando os olhos fecham.
Arriscaria dizer que é de sempre
Este tumulto no pestanejar.


Um dia terei feito as contas à vida.
Mas julgo que muito se passou atrás das costas.


III

Não nos lembramos bem das canções.
Mas fizemos nosso o seu sussurro obscuro


- será pouco mais que a nossa obrigação.


Em tempos a questão era desmurmurar
os sentimentos, enroscar bem a língua
para saborear todo o amargo e o dormente
e o lento e o cuspo e o abrasivo e o asco.
As gengivas em sangue de tanto remoer.
Chega de tanto.


IV

Tanto mais que nos coube
também a metrologia de coisas instáveis
e de utilidade discutível.


Por exemplo, as nesgas, a palidez granulada da alvorada,
os vários modos de encostar o rosto à almofada e assim
sobreviver ao exílio de vez em quando rindo,
os ímans – ou, mais exactamente, o ponto
indiscernível em que a atracção dos pólos
sossega, por instantes, ou melhor,
em que se fixa no equilíbrio dos contrários
– o recorte dos panos atravessados pela luz
ou as saídas necessariamente de emergência
de um certo quarto onde ouvimos os passos
e nos juntámos à multidão. Os gemidos.


Pois coube-nos a observação das multidões,
também a densidade das esponjas ou o chocalhar
luminoso da face enamorada. Outros elementos,
divisões, categorias.


O verbo que descreve
a antecipação do andamento
que se segue, esse


deslizante verbo


V

A nós coube-nos a desmesura, e as coisas
que nela aprenderemos a incomensurar.


Mais uma razão para termos nos dedos
pontas tão estreitas e tão pouco sábias,
e pálpebras assim, efervescentes.
E tudo isto está ainda por estudar.


VI

Este entrever, este antegosto,
este rosto assim
amachucado entre tantos,
risos até, súbitos
súbitos tambores e sustos,
estes estrondos extenuados
de tão pouco.


Que se fodam os densos mistérios
que a razão nos foi deixando
sobre inumeráveis secretárias.


Temos muito com que nos entreter,
outras penumbras.


VII

Ou nem isso.


Lá se escovam os triunfos anteriores,
Meio desbotados, e se reviram os olhos
a custo. Lá se abrem as gavetas
E se colam as visões a cuspo.


Foram-se amontoando futuros.


O que se poderia talvez traduzir


Há zonas de indistinção onde tudo
se joga em mecanismos
de rigor murmurado e eriçado ânimo.
Dobras, vincos.


VIII

Mas talvez nisto haja subtileza a mais.


E que tal assim:
Eis o mundo.
Eis-nos.
Não chegámos a dizer ao que vínhamos.


Somos muitos e por enquanto dispersos.


Antes de mais
e antes do resto.


IX

Coube-nos começar, mas não do princípio.
Coube-nos amarfanhar todos os mapas
(Ainda que os tenhamos desenhado
a canivete, ao de leve, na palma das mãos).


Pelo que o cicatrizar nem sempre ajuda.
Há nisto uma certa poesia, não muito subtil.
E sempre dá algum estremecimento aos apertos de mão.


É mais ranger de dentes que outra coisa,
lançamento de guitas, cordas, fitas
de toda espécie e alguns ganchos em metal
(de que não se conhece bem o propósito)
para sítios um pouco escuros e adversos.


Quem é que se lembra ainda
para que servem por exemplo os ponteiros
desencontrados nesta armadura de latão?
E por aí fora.


X

Convirá acentuar o quanto isto é ainda o início.
Um início: a par do riso, a mais discreta,
A mais comum das utopias.


in Que se diga que vi como a faca corta, 2010


All over again


I

So this was it, this sly impurity unknowingly
inherited, this space, this vague song,
these fainted spasms, these times, this world,
this edginess, these bits of earth, this dramatic
inertia, these not so sharpened teeth, these same
faces, flat against the ground, this remorse, these cafés
in which we recover from defeat, this emptying
of ashtrays , these afternoons, this throat
cleared for nothing and the yellow and sweet
cough lozenges, the lucidity, the oscillating sound
of bells, the burning satisfaction of rare
liquids, the adjustable light of bulb dimmers,
the acidity of laughter, the neatly folded envelopes,
and the days, always the days, yet again the days.


II

Certain flowers, the most ragged.
And the wind too. Have I said it already?
And things still unnamed.


The feeling as the eyes close.
I’d venture to say this tumultuous blinking.
has been forever with me.


One day I’ll have looked back at my life.
But I believe a lot of it went on behind my back.


III

We can’t quite remember the songs.
But we made their obscure humming our own


– no doubt a little more than our duty.


The matter was once the un-whispering
of feelings, the right tongue twisting for
tasting all the bitterness and the numbness and
the slowness and the spit and the abrasive and the revulsion:
bleeding gums due to so much grinding.
Enough is enough.


IV

So much so that we were also
lumbered with the metrology of unstable things
whose usefulness is arguable.


For instance, the gaps, the grained paleness of dawn,
the many ways the face cuddles up to the pillow and thus
the survival from exile with an occasional smile,
magnets – or, more precisely the undeterminable
spot in which pole attraction
eases up, for an instant, or rather,
in which it grasps the balance between opposites
– the edge shaped cloths against the light
or the inevitable emergency of exits
from a certain room where we heard steps
and joined the crowd. The moaning.


For our share was to observe the crowds,
and also the density of sponges or the luminous
jingle of the enamoured countenances. Other elements,
divisions, categories.


The verb describing
the anticipation of the movement
that follows, this


gliding verb.


V

Our share was the excess and the stuff
we learn to un-measure with it.


One more reason to have such narrow
and little-wised fingertips,
and eyelids with such effervescence.
And all this is yet to be studied.


VI

This glimpsing, this foretasting,
this face so
marred among so many others,
even laughter, sudden
sudden drums and frights,
these bangings so exhausted
from so little.


Fuck the dense mysteries
left to us by reason
on countless desks.


We’ve got a lot to entertain us,
other twilights.


VII

Or not even those.


One may brush up previous achievements,
half discoloured, and roll up one’s eyes
with effort. One may open draws
and just about glue up one’s visions.


Futures kept piling up.


Which could probably be translated
as follows:


There are areas of indistinctness where all
bets are placed on mechanisms
of rumoured rigor and bristled encouragement.
Folds, wrinkles.


VIII

But perhaps there’s too much subtlety in all this.


And how about:
Here’s the world.
Here we are.
We didn’t get to say what we were here for.


There are many of us and so far we’re scattered.


Before everything else
and before what’s left.


IX

Our share was to start, but not from the beginning.
Our share was to rumple all maps
(Though we drew them lightly
with a pen knife, on the palm of our hands).


Therefore, healing isn’t always helpful.
There’s a certain but not very subtle poetry in all this.
But it does bring some excitement to handshakes.


It’s a teeth grinding exercise more than anything else,
a throwing of strings, ribbons, ropes
of all kinds and some metal pins
(whose purpose is not quite clear)
into somewhat dark and adverse places.


Who can still remember
what are unsynchronised
hands for, inside this tin frame?
And so on.


X

It’s convenient to stress how much all this is still the beginning.
A beginning: together with laughter, the most discreet,
the most common of utopias.


© Translated by Ana Hudson, 2012
in Poems from the Portuguese