CRÓNICA DA CULTURA
«Quais as hipóteses de encontrarmos aves-do-paraíso? Eu tinha a esperança de conseguir filmar uma das suas danças de acasalamento. Há muitos anos que planeio esta viagem, mas só agora tive as ajudas que necessitava para filmar.
Ele escutou-me em silêncio. Depois tirou um mapa de uma caixa e abriu-me em cima da secretária.
Terão de procurar numa zona não controlada pois as tribos fazem-lhe esperas. Até já houve emboscadas com feridos e mortos nestes encontros pelo desejo de arrancar as penas das aves. Vão ter de levar uma escolta. Tenho um homem que irá convosco por troca de sal e não quer saber da passarada. É uma caminhada de dois dias e com trilhos muito difíceis. Filmar as danças de acasalamento?»
«Sim, claro», respondi.
De repente, sorriu.
Três dias depois aproximávamo-nos do topo de um desfiladeiro. Estávamos a uma altitude superior a dois mil e quinhentos metros. Estávamos cansados e com frio, os pés feridos do esforço da lama e dos pedregulhos que pareciam perpassar as botas com facilidade. De repente, o terreno começou a descer e eu corri muito ansioso por espreitar o vale.»
David Attenborough
E
Pegue-se numa alma de face escarlate
Calcule-se o peso de a pousar no ar
Alongue-se tudo o que se eleva acima do espírito
E sigam-se os toucados de plumas e os cantares dos anuíres
Depois, quase impercetivelmente
A ave-do-paraíso levanta voo e afasta-se pelo vale abaixo
Do centro do meu coração
Escutei-a
As folhas que lhe conhecem as épocas
Abrigaram-na
Que das exposições totais
Bastante
É o esboço nupcial
Bendito
Teresa Bracinha Vieira