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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

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   Ilustração de Ana Ruepp

 

“Über aller dieser deiner Trauer: kein zweiter Himmel.”

“Por cima de todo este teu pesar: nenhum segundo Céu”
Paul Celan, Die Schleuse (A Eclusa)

 

Paul Celan, Paul Antschel, nasceu a 23 de novembro de 1920, em Bukovina, no Norte da Roménia, no Império Austro-húngaro. Filho de judeus de expressão alemã, ficou a dever a sua paixão pela poesia à mãe, que lhe recitava Novalis e Rainer Maria Rilke. Em 1926 iniciou a frequência da escola primária alemã, tendo sido depois enviado para uma escola hebraica, a Safah Ivriah. Em 1933, após o bar mitzvah, ritual judaico de entrada na adolescência, aderiu a um grupo comunista, responsável pela publicação de uma revista destinada aos estudantes. Em 1938 deu início a estudos de Medicina, em Paris, transitando depois para a Universidade de Czernowitz, onde ingressou como estudante de Filologia Românica. Em 1940, e no decurso da Segunda Grande Guerra, Bukovina foi invadida pelas tropas russas, enquanto os alemães começavam a enviar judeus para campos de concentração, onde os pais de Célan teriam sido mortos, e para onde ele próprio foi também enviado, permanecendo no cativeiro até 1943. Em 1944 as tropas soviéticas invadiram parte da Roménia, o que levou Célan a refugiar-se em Bucareste, onde trabalhou como tradutor e editor. Mudou sucessivamente de nome, primeiro para Paul Aurel, logo para Paul Ancel, e finalmente para Paul Célan. Em 1947 viajou até Viena, emigrando no ano seguinte para Paris, tornando-se professor de Alemão na École Normale Supérieure, Rue d’Ulm. Em 1951, conheceu Gisèle Lestrange, artista gráfica com quem casou no ano seguinte. Nos dezanove anos que estiveram juntos, trocaram cerca de sete centenas de cartas, apesar de Célan ter mantido uma relação extraconjugal com Ingeborg Bachmann. No final da década de 40, Célan começou a publicar os seus poemas em publicações periódicas da então República Federal Alemã. Publicou o seu primeiro livro em 1948, Der Sand aus den Urnen, a que se seguiu Mohn und Gedachtnis (1952), bem acolhido pela crítica, que considerou o poeta como figura proeminente da literatura do Holocausto. Em 1963 publicou Die Niemandrose, obra característica do seu estilo de sintaxe sincopada e minimalismo radical. Entre as décadas de 50 e 60, foi acusado de plágio relativamente à tradução de poemas de Cocteau, Rimbaud e Pessoa, entre outros e foi vítima de um colapso nervoso. A 1 de maio de 1970 morreu por afogamento no rio Sena. Na sua agenda de bolso havia uma nota nesse dia, na qual estava escrito "Partida Paul".