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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICA DA CULTURA


Pim Pam Pum

 

Há uns dez anos – e pouco tempo antes de falecer - um tio meu ofereceu-me esta sua encantadora fotografia para que eu, um dia, escrevesse sobre ela, e referisse o quanto um boneco, fica boneco rijo, apardalado e atento em cima de um triciclo, ao escutar a felicidade do então meu jovem tio a ler-lhe o PIM PAM PUM.

 

Como todos sabem, existiu um suplemento do jornal O Século, que Eduardo Malta e Augusto Santa Rita organizaram, cujo objetivo era, de modo lúdico, aliciar jovens leitores a interpretarem bandas desenhadas, a lerem contos, fazerem jogos, enfim tudo o que prendesse a atenção através do género infantil.

 

A primeira edição data de 1925 e prolongou-se por 52 anos. Foi este Suplemento um exemplo de longevidade pelo que deverá evocar infâncias de várias gerações.

 

As suas oito páginas mostravam uma banda desenhada de humor, duas de teatro, uma página musical que englobava partitura, e as aventuras de Pim, Pam e Pum, os chamados endiabrados heróis deste Suplemento. De recordar também que Augusto de Santa-Rita foi, o criador de O Teatro de Mestre Gil.

 

Entre parêntesis sempre o meu tio me dizia

 

Não esqueças também da Loja de Mestre Bento, pois eu lá, não comprei um pifarinho, mas entendi uma grande parte do que me debati mais tarde. Viagens delirantes com ele fiz muitas: aprendi a sonhar o sonho e o avesso do meu e de outros mundos. Não esqueças "Modas e Bordados" (que aceitou os teus contos aos teus 12 anos), "Brasil e Colónias e a Revista Joaninha.

 

Com todas as influências do Estado Novo, as leituras serão sempre quem delas se aproxima e às teorias se deve o patético e o assombro; o contínuo e o descontínuo das gargalhadas da infância; a felicidade de ter um ouvinte, boneco especado num triciclo, e um chapéu com direitos inauditos, de acordo, aliás, com a postura do traçar da perna, de resto igualmente capaz de fazer jus à vestimenta.

 

E tudo era PIM PAM PUM! Hoje leio eu e amanhã tum! Assim se referia rindo, o meu tio, à irmã, minha tia, quando em crianças lutavam pelo Suplemento.

 

A verdade é que entre tão numerosos registos da vida intensa do meu tio, nunca lhe escapou a deste Suplemento como companhia, memória possível, lúcida, feliz e marcante início de movimento da sapiência das fábulas na sua vida futura.

 

Anos depois, quando prisioneiro político em Caxias, esta fotografia esteve sempre com ele. Fora afinal aquele Suplemento uma gare à soma das partes, uma linguagem de época, um jardim à relação com o irreal.

 

Promessa cumprida! Aqui fica a fotografia que sempre dirá mais do que as palavras.

 

Teresa Bracinha Vieira