MEDITANDO E PENSANDO PORTUGAL
36. TRIPLA JUNÇÃO DAS PLACAS EUROASIÁTICA, AFRICANA E AMERICANA
As fronteiras do nosso país restringem-se a Portugal continental e aos arquipélagos dos Açores e da Madeira, com uma localização singular da sua superfície terrestre.
Se a parte continental de Portugal se situa na placa tectónica euroasiática, vulgo placa europeia, tal não sucede com os arquipélagos madeirense e açoriano, cuja especificidade faz justiça à sua autonomia, sem questionar a sua identificação com o todo nacional.
Enquanto a ilha da Madeira, do Porto Santo, as ilhas Desertas e as Selvagens se situam na placa africana, mais perto da costa de África que da europeia, há também uma ilha açoriana localizada nesta placa (Santa Maria), duas na norte-americana (Flores e Corvo) e seis na euroasiática (São Miguel, Pico, Faial, São Jorge, Terceira e Graciosa), numa tripla junção (ou espécie de cruzamento) de três placas litosféricas ou tectónicas.
Não excluindo a controvérsia, há autores que falam numa microplaca dos Açores, com as ilhas do grupo central e oriental, ao lado de outros para quem São Miguel, Terceira e Graciosa estão edificadas sobre a placa euroasiática, estando o Faial, Pico, Santa Maria e as ilhotas das Formigas na placa africana. A que se juntam as dezenas de ilhéus em volta das ilhas.
Açores, Madeira, Canárias, Cabo Verde e o Noroeste Africano são parte da Macaronésia, englobando as ilhas do Atlântico Norte, perto da Europa e África, uma área de cooperação internacional entre vários países, com possibilidades de alargamento ou de uma cooperação especial com a União Europeia (Cabo Verde, por exemplo, por alinhamento e arrastamento com os Açores, Madeira e Canárias) ou União Africana (Madeira e Canárias).
Não esquecendo a impressionante zona económica exclusiva daqui resultante para Portugal, mais impressiva se atendíveis as reivindicações marítimas portuguesas baseadas na extensão da plataforma continental. Sendo a ZEE açoriana e madeirense mais extensa que a de Portugal continental.
Apesar da sua não dispersão geográfica descontínua por vários continentes e oceanos, sobressai nesta tripla junção ou cruzamento de três placas tectónicas um potencial de relevância geopolítica e geoestratégica que entra em rutura com convenções clássicas cada vez mais ultrapassadas, desde logo em termos geográficos, questionando-nos sobre onde começa e acaba a Europa, Portugal, a UE, África e a América e em que, curiosamente, centenas de anos após, o mar português se agiganta crescentemente como um valor acrescentado, em interligação com os portugueses continentais e insulares que o habitam em redor ou rodeados de água por todos os lados.
30.09.22
Joaquim M. M. Patrício