Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

PORVENTURA VERSOS

28.

Porventura versos 28.JPG

Aberta a história

Espreitam-se os sonhos da humanidade

Ou do seu aniquilamento

 

Aberta a história

Não se descortina sequer a sua cronologia

 

Pensa-se então no fazer de novo

Como se na anterior história que espreitámos

Não tivesse havido um antes

Posto que não ouvimos nem lemos

Uma linguagem que o exprimisse

 

Então, dizia-se, abre-se uma nova história

Dotada agora, da vitória, logo no início

De nela se deixar ver uma absoluta liberdade

 

E eis num crescendo a lente baça do homem desvinculado

Do desafio do amor

Tão perto de nós e tão dentro do oráculo

 

Eis-nos de frente para o homem que desconheceu

O fascínio

Ou a tragédia do perdão

O caminho de Cristo em Deus

Ou o poema de Régio

Fechado na sua mão

 

Exposta e imitada a história

Ali

Numa idade de oiro seco

Que se contenta

Infinitamente

Em se deixar ver

 

Naquele vazio criador

Embrutecido em vícios isentos de méritos

E eis o homem na nova história

 

Aquele mesmo que mente sem respeito

Por si próprio

 

Aquele mesmo que é perito no governo

Do desprezo julgando ser poder

Desconhecer o seu buril

 

Nem tendo ouvido falar

Da escada que se chega às longas viagens

Da identidade do socorro

 

Socorro que enfim, desiste

Abraçado ao descompromisso

De conhecer que o mundo ou a história

 

Não são enganos

 

M. Teresa Bracinha Vieira

2015

PORVENTURA VERSOS

27.

Porventura versos 27.JPG


São submissas as palavras, sim

São

Não as leste tu conforme

Teu coração? 

 

São submissas as palavras, são

Senhoras do inteiramente impossível

Com que se dão

À espera do mundo as ler

 

Numa travessia de interpretação

Permitida

A quem ousa ou não

Levá-las

Às travessias

 

A oeste do destino

 

Lá onde o significado do momento

Ou do eterno

Num haver-se realizado por várias formas

Vive num arquipélago a sul do equador

Do amor errante

 

Até ser tempo

 

Para de novo abrir os olhos

E esclarecer-se na esperança

De arder lenha, despedidas e segredos

 

Sonhando e crendo

Não serem submissas

As palavras

Com que ainda hoje te escrevo

 

 Meu cupido não puro

De tão amado

Que nem o céu te quis na expedição

Das inexactidões

 

Aquelas tão inebriantes

De verdades

Aproadas

Conhecidas

Das palavras submissas

 

Ou não fossem caravelas

De dias e anos consentidos

Por correntes que atrás não voltam

Para não naufragarem mais amores

 

Na viagem

 

Naquele périplo

Em que há que tomar uma outra via

Da vida

Mesmo lhe não dando inteiro crédito

 

E volto a dizer-te, vem

Vem sem derrotas

Ler

A terra firme

Das palavras submissas

Indícios de muitas pressas

 

É certo

Mas testemunhas das léguas precisas

Ao título

De um poema

 

M. Teresa Bracinha Vieira

2015

PORVENTURA VERSOS

26.

Porventura versos 26.JPG


Acendeste a fé no centro

Do teu próprio lar onde vivias

Tua pátria, tua arma singular de protecção

 

Deixando aberta a janela

Por onde só eu te via

E o beijo abraçado se estendia

Escada

Até aos teus braços

Nos meus

 

Quais prémios de iguais dons

Excelentes no esclarecer-se e no oferecer-se

E assim acesos

A escuridão calava algo sagrado

 

Pois que não fora culpa tua eu não ser princesa

Nem tu príncipe sem parte, par ou reino

 

Ainda que resolvido

No propósito e firme efeito

Que tão pouco

Era possível

 

Na base deste erro colossal

Na base do contra nós pelejarmos

 

Em fúria extrema e magoada

Jeito de cerco que não consente ser sujeito

Quando o prazo

O prazo

 

É só troco

De um olhar inacabado

 

Longo canto

 

M. Teresa Bracinha Vieira

2015

PORVENTURA VERSOS

25.

Porventura versos 25.JPG


Foste nomeado glória

No tempo de tu em nós

Tanto me amares

 

Sem receios

De cessar o depois cuidando

Do inevitável onde já não morarias

 

Conhecerias aquela estranha história

Do não sempre?

Quando outrem ou em ti eu

Era já de alheio esforço?

 

Ou saberíamos no não dizer

O medo de tamanha verdade

Se esconder

 

Dentro do irei contra

Mas breve, breve

Que a ordem siga e leve

 

Ou deixe

Por ardente

Ser

 

A dor do meio

 

M. Teresa Bracinha Vieira

2015

PORVENTURA VERSOS

24.

porventura versos 24.jpg


Quando me chamaste amor

Tinha ganho a guerra a própria morte

Da saudade

 

Não pude ouvir-te

No tom que usaste

Por te não saber no ainda

 

Meu tempo fora um tanger

Minuciosamente anotado

É certo

 

Mas nunca ancorado

Pois teu vagar não me bastara

E tu

 

Quando me chamaste

Nunca leras a repetida notícia

Que perguntava onde moraria

 

Aquele que diligente não fora

E se fazia

Terra, clima, região e beijo

 

Agora

Áureo, talvez, e já sem freio

 

Onde as ondas jazem

Desenganos 

 

Teresa Bracinha Vieira

2015

PORVENTURA VERSOS

23.

Porventura versos 23.jpg


Embora possa ser verdade

Que os deuses me deram frota

E que eu à força da espada

Enfrentei a minha rota

 

Nada te pode fazer pensar ou sentir

Que a rocha me não rasgou

Que o machado me não feriu

Que a lança me não tocou

 

Pois no peito está sempre o coração

Aquele que tanto se rompe

Nas vitórias em que morre

Nas verdades em que habita

 

Aquele que depois de vencido

Chama a armada de volta

E tão perdido mal se nota

Como treme, geme

 

E não foge

 

Teresa Bracinha Vieira

2015

PORVENTURA VERSOS

21.

Porventura versos 21.JPG


Não quero os leves lemes

Dos outros que se partem

Em mil pedacitos

De por dentro serem secos ou podres

Não quero

O grandemente dado por certo

Que não é sequer um carinho

Quanto mais amor de alguém

Não quero estes seres sem sinal

De qualquer réstia vital

Para além das invejas e posses

Propriedades, teatros, abutres

Reinos sem qualidade, ajuntamento

De sentires, cheiros de mau pescado

Almoços fartos de mentires

Temperados por obediências cobardes

Deus ! que há muito que não quero

O que por perto ainda gira numa ira

De carrossel desatinado, tonto e tão enfartado

Que morre pedindo emprestada a morte

De outro semelhante ou igual

 

Teresa Bracinha Vieira

2015

PORVENTURA VERSOS

 20.

versos.JPG 


Um dia, um dia de era uma vez

Vi-te

Pelos mares da índia

Tua ventura de então

 

Seguias como quem vem

Do Olimpo

E detém o remédio da busca

Onde mora o que se procura

 

Olhaste sem te deteres

Para a minha mão

Asinha

 

No meio do mar

Que tanto tempo há ou havia

Fria e a resistir

Pirata

Cantora

Daquela canção

 

Cuja letra começava:

Um dia, um dia de era uma vez

A lealdade na Índia

Dera à costa sem desvio

 

Seguias pelos mares dessa terra

Tua verdade

Indo

E o coração sem temer

 

Um dia

Peritíssima rota

E depois a longa

Curva 

 

Teresa Bracinha Vieira 

2015

PORVENTURA VERSOS

 

 

19.
versos 19.JPG

Rio acima

Surge a nau

Dentro dela

O soneto

 

Saboreava a viagem

Num profundo sentimento

Sem medo

Apenas curiosidade

 

Leve e atenta

 

Por esta experiência

De contra corrente

Se fazer em força

Por força do vento

 

E ele, o soneto

Que revolucionara

Mundo

Ali estava

 

Numa última atitude

 

De se fazer estrada

Não exactamente a mesma

Que conhecera e percorrera

Mas esta

 

De se deixar ir

Pela trovadora água

Pela redondilha de ar

Belas causas

 

Tão indispensáveis

E só agora chegadas

Ao entender-se

 

No já sem tempo

 

Teresa Bracinha Vieira

2015