A FORÇA DO ATO CRIADOR
Louis Kahn e a procura por uma profundidade universal.
A procura de Louis Kahn por uma profundidade universal em arquitetura estabeleceu-se em momentos distintos da sua vida. Para trás de 1950 fica a experiência de Kahn, ao planear bairros de habitação social, respondendo ao New Deal - com ações de produção industrial meramente funcionais, mecânicas, efémeras, repetíveis que se adaptam a qualquer lugar segundo protótipos. A vontade partilhar as suas ideias, que dizem respeito à pessoa humana e ao arquiteto, inicia-se nos anos 30 com a formação do Architectural Research Group (ARG) de Filadélfia. No início dos anos 30, o centro de debate, sobre o futuro da arquitetura moderna nos Estados Unidos, tinha lugar no T-Square Club Journal of Philadelphia, revista fundada por o George Howe. Mas a partir de 1932, Kahn organizou e dedicou a maior parte do seu tempo a outro centro do debate sobre arquitetura moderna. Foi a partir deste momento que Louis Kahn estudou as publicações de Le Corbusier, interessando-se pelos temas fundamentais do movimento moderno. Uma das preocupações mais importantes do ARG era a responsabilidade social do arquiteto perante o planeamento de habitação em massa, como consequência da Depressão. (Brownlee 1998)
A partir dos anos 50, do século XX, Kahn passou a trabalhar com arquétipos, isto é, princípios formais originais, imutáveis, intemporais, genéricos e essenciais. É necessário referir que só a partir de 1947, Kahn criou seu próprio gabinete com Anne Tyng e Oscar Stonorov. A viagem a Roma (como residente da Academia Americana de Roma) entre 1950 e 1951, assim como as viagens que fez a Grécia e ao Egito, permitiram a clarificação do seu pensamento e permitiram também a sua autonomia como arquiteto. Forma e projeto, a partir desta data, nascem de uma reflexão e de um conceito, convenientemente escolhido, que respondem a leis universais e que respondem a regras intemporais. O conceito é a diretriz generativa que dá sentido total à obra de arquitetura que se constrói e que tem de, por isso, ser forte e determinante para resistir à evolução do programa. Kahn propõe assim um método que supera certas limitações da modernidade, criando novas formas, associadas a uma nova monumentalidade e a um poder institucional para uma nova sociedade norte-americana. Se a arquitetura racionalista se baseava na simplificação e na repetição, Kahn soube introduzir ingredientes poéticos, espirituais, intemporais, unitários, verdadeiros, arquetípicos e soube também introduzir a ordem e a hierarquia formal e funcional. Kahn aplica uma mudança enraizada em valores ideais e na expressão de um pensamento. Kahn deseja criar momentos sociais que cumpram um carácter social - lugares coletivos que permitam a inspiração no seio de uma comunidade, onde a pessoa humana se possa realizar melhor, e que respondam a um desejo de reunião e de assembleia e que possam igualmente dar abrigo a à aprendizagem, à oração, à expressão, à reflexão e à intimidade (escolas, centros de investigação, mosteiros, igrejas, mesquitas e sinagogas).
A obra de Louis Kahn afirma-se, na transição dos anos 1950 para os anos 1960, através da maturação das ideias de hierarquia espacial e de regras de interpretação que criam os lugares. Chega ao fim a sua colaboração com Anne Tyng e o fim de uma atribuição particular à geometria combinatória.
A partir dos anos 60, Kahn desenvolve um pensamento livre de referências. Só uma expressão poética é suficiente para dar sentido a uma obra. É através dessa expressão poética que Kahn consegue ligar forma e projeto, ideia e construção:
“Architecture is the thoughtful making of spaces” (Kahn 1961)
Ao longo dos anos 60 e 70, Kahn vive num tempo onde vê o seu trabalho reconhecido (a sua experiência na Índia é um facto!). Os seus alunos seguem e admiram as suas ideias. A sua linguagem e o seu discurso tornam-se cada vez mais poéticos e mais herméticos - agora Kahn fala de inspiração, arte lei e vontade. Os novos conceitos estão relacionados com a aproximação da arquitetura como arte, da arquitetura como servidora de um espírito. Para Kahn, quem procura um arquiteto está interessado no valor do espaço, porque só o arquiteto é capaz de conceber o espaço e esse espaço passa a ser inspirado.
Ana Ruepp